• Carregando...
PSDB ameaça romper com governo se o “jogo duplo” no ajuste fiscal continuar
| Foto:

Deu no GLOBO:

A tensão gerada pela divergência sobre o ajuste fiscal levou caciques do PSDB no Senado e na Câmara a falar em assumir posição de independência em relação ao governo, após o impeachment. Interlocutores do presidente interino, Michel Temer, entraram em campo na quarta-feira para tentar baixar a temperatura. A estratégia foi tentar descolar o governo da defesa dos projetos de aumentos salariais e liberar a base para votar como quiser.

Mas, os tucanos acusam o PMDB e o Palácio do Planalto de fazerem um “jogo duplo”, que coloca o partido numa posição incômoda com setores que pleiteiam os reajustes. No meio do tiroteio, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chamou de “pequenez” a reação do DEM e do PSDB, e marcou para o próximo dia 8 a votação do aumento salarial de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em outra frente, os senadores aprovaram no fim do dia um reajuste que elevará o piso salarial dos defensores públicos da União em 67%, até atingir 28,9 mil em janeiro de 2018.

O líder do governo, Aloysio Nunes (PSDB-SP), fez um discurso veemente contra o aumento, mas o PMDB argumentou que houve um acordo para obter apoio da oposição, liderada pelo PT, em troca da quebra do prazo para votar, ontem mesmo, o segundo turno da PEC de Desvinculação dos Recursos da União (DRU).

— O mais provável, se continuar assim, é o PSDB liberar sua bancada e ficar em uma posição de independência e indiferença em relação ao governo daqui para frente. Se ficar rachado na sua base, quem vai cair é o governo, não o PSDB. Se a base não apoia essa política, eu também não vou servir de boi de piranha — reclamou Tasso Jereissati.

— Isso é a ponta do iceberg. Nosso apoio ao governo só depende do Temer, se ele vai manter ou não o compromisso com o ajuste fiscal. Não vamos levar o governo e o PMDB nas costas. Se continuar neste caminho, temos certeza de que o governo vai dar errado — afirmou o líder da legenda, Cássio Cunha Lima (PB).

O líder do Democratas, Ronaldo Caiado (GO), anunciou que passada a votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, convocará reunião da Executiva nacional para rediscutir a participação do partido no governo Michel Temer. Caiado disse que o ajuste fiscal do governo está virando “uma encenação”.

De fato, não dá para negar que o PSDB e o DEM são os fieis da balança no governo atual, os defensores do fundamental ajuste fiscal, ainda que aquém do que seria realmente necessário. Enquanto isso, o PMDB faz malabarismos, tenta adotar uma postura cautelosa, pisando em ovos, para não perder o apoio da ampla base de que precisa para aprovar as medidas.

Apesar de ter divulgado o documento “Ponte para o Futuro”, que reconhece a importância do ajuste, o governo Temer não demonstrou até agora, em atos, que fala sério sobre isso. E os tucanos e democratas começam a ficar impacientes, com a sensação de que foram enganados, de que o governo faz concessões indevidas demais da conta, sob o pretexto de “governabilidade”.

Eis o grande risco para os tucanos: arcarem com o custo da defesa de medidas “impopulares”, e o resultado final ser ínfimo, insuficiente para tirar o país do atoleiro. Só haverá ônus nesse caso: os ataques pelas medidas “contra os trabalhadores” e “contra os servidores públicos” de um lado, e a insatisfação da população em geral do outro, com a retomada tímida demais da economia.

Acho, sinceramente, que os otimistas se empolgaram demais antes do tempo, falando em um “novo Brasil” sendo construído, numa espécie de novo “Plano Real”. Temer ainda não demonstrou o comprometimento necessário para tanta euforia. Pode ser que esteja só aguardando o ato final do impeachment, e talvez as eleições municipais.

Mas também pode ser que acenda uma vela para o Diabo e outra para Deus até 2018, se possível, mantendo esse jogo duplo perigoso, extremamente arriscado, pois depende do PSDB e do DEM aceitarem continuar no papel de “bobos da corte”. Espera-se, para o bem do Brasil, que Temer decida de qual lado vai ficar logo, e que seja o lado correto, do ajuste fiscal para valer.

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]