• Carregando...
Rio: o terceiro pior trânsito do mundo
| Foto:

Pelo segundo ano consecutivo, o Rio ocupa a terceira colocação no ranking das cidades mais congestionadas do mundo, quando analisado o tráfego de veículos durante todo o dia. Divulgada nesta terça-feira, a pesquisa elaborada pela empresa holandesa de tecnologia de transporte TomTom analisou o trânsito em 146 grandes cidades do planeta a partir de dados de GPS e de aplicativos de celulares que usam sua técnica.

De acordo com o estudo, o carioca perde em média cem horas por ano parado em engarrafamentos. Nesse cenário, a situação só é pior em Istambul (Turquia) e Cidade do México, respectivamente, primeira e segunda colocadas na listagem. Diferente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), que mede os congestionamentos por quilômetros, a pesquisa da TomTom analisa a saturação das vias no decorrer do dia e nos horários de pico — no início da manhã e no fim da tarde. 

É verdade que o aspecto geográfico não ajuda. O Rio é espremido entre montanha e mar, e nessa “tripa” precisa trafegar todo mundo. Mas esse era mais um motivo para existir uma alternativa diferente de transporte público, menos dependente de ônibus. Um metrô decente cortando a cidade toda com algumas linhas, por exemplo, ou o veículo leve sobre trilhos cruzando as avenidas.

Falta planejamento, isso é inegável. O crescimento é desordenado, e as decisões do governo são sempre paliativas, para “tapar buraco”. O BRT é um caso claro disso. As vias usadas pelo novo sistema reduzem as disponíveis para os carros, causando imenso engarrafamento. Quem vive na Barra sabe bem disso.

Aliás, moro na Barra há mais de 30 anos, e acompanhei de perto a mudança. Sou do tempo em que se chegava a qualquer lugar dentro da Barra em no máximo 5 ou 10 minutos. Hoje, esse é o tempo que se perde para pegar um retorno! Muitos repetem que o sonho de consumo é viver e trabalhar na Barra, que isso sim, garante boa qualidade de vida. Pois bem: é minha realidade, mas não me impede de levar cerca de 40 minutos para atravessar o bairro.

Como se não bastasse, as obras infindáveis, ainda que necessárias, desrespeitam o morador. Quem precisa pegar os retornos na Barra sabe bem disso: os trechos em obra não possuem um mínimo de cuidado, e as lombadas gigantescas exigem que os carros praticamente parem no meio do trajeto. Resultado: quando o sinal finalmente fica verde, após vários minutos, pouquíssimos carros conseguem atravessar. A fila de espera fica interminável.

O carioca gostava de tirar sarro do paulista em relação ao trânsito. Não pode mais. Até nisso ficamos para trás. O trânsito no Rio está caótico, o crescimento da frota foi extremamente acelerado, em parte pelos estímulos estatais, sem nenhuma contrapartida no transporte público ou nas vias para os veículos. Não tinha como levar a um resultado diferente: o carioca perde horas por dia no trajeto casa-trabalho-casa, tempo que poderia ser usado de forma bem mais produtiva, sem falar do estresse.

Sentirei falta de algumas coisas do Rio nessa temporada que ficarei na Flórida. Confesso que o trânsito, porém, não será uma delas. Não tenho ilusão quanto ao trânsito de Miami. Já enfrentei engarrafamentos enormes, especialmente em alta temporada (tem muito brasileiro comprando por lá para fugir dos altos impostos do Brasil). Mas há mais planejamento lá, viadutos que sobem com incrível velocidade para aliviar o tráfego, e uma qualidade infinitamente melhor das vias.

Qualquer cidade grande enfrenta problema com trânsito. Não é exclusividade nossa. Mas sejamos honestos: não precisa ser um engarrafamento de enlouquecer como o nosso, agravado pelo risco constante de assaltos e pela falta de respeito do motorista carioca.

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]