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Se austeridade fiscal é ruim e derruba governos, por que Cameron foi reeleito?
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A Inglaterra foi duramente afetada na crise de 2008, mas adotou medidas opostas ao que clamava a esquerda na época. A palavra “austeridade” se tornou um palavrão nos meios “intelectuais”, e os sindicatos começaram a típica pressão organizada contra o corte necessário nos gastos públicos. Mas David Cameron não cedeu e seu governo foi bem mais austero do que a média. A Inglaterra afundou na depressão prevista pelos economistas de esquerda? Longe disso!

Sua economia mostra sinais de recuperação, e como prêmio, Cameron acaba de ser reeleito com folga. Como comenta Leandro Narloch, cai mais um mito: o de que a austeridade fiscal derruba governos por ser impopular. Como as reformas austeras beneficiam a economia, basta que o governante tenha tempo para aproveitar os louros políticos da austeridade. Foi o que aconteceu com Cameron, segundo Narloch:

Pelas mensagens e conversas de rua, parecia que os cortes no orçamento promovidos pelo governo de David Cameron resultariam em desastre eleitoral. O que pra mim fazia todo sentido: não é novidade a vantagem que governantes gastadores têm vantagem sobre os austeros. Alguém vai ganhar uma eleição prometendo menos dinheiro para “saúde, educação e segurança”?

Mas a reeleição do Partido Conservador derrubou esse mito. Desde 2010, governo britânico cortou o gasto público em 35 bilhões de libras. Segundo o Institute of Fiscal Studies, foi o maior corte de gastos entre 32 economias desenvolvidas. E o resultado foi uma vitória com vantagem mais larga que a da eleição anterior. O Partido Conservador pode agora governar sozinho, sem dividir o poder com os Liberais Democratas.

Além da mensagem dos votos, pesquisas mostram que o grosso do eleitorado aprova o fim da festa de pensões e benefícios a desempregados. De cada dez ingleses filiados a sindicados, oito aprovam o limite de 26 mil libras em benefícios. Na campanha que terminou ontem, Cameron tentou conquistar votos prometendo um teto ainda mais baixo, de 23 mil libras. Os eleitores também simpatizam com a criação de um limite de transferências a dois filhos por família.

A sorte do Partido Conservador foi ter tempo de colher os benefícios do ajuste fiscal. A economia inglesa é a que mais cresce na Europa, a inflação é de 0%, a criação de vagas de trabalho é a maior que a de todos os países da Europa continental somados. Com números tão bons assim, a surpresa seria David Cameron ter perdido a eleição.

Cameron plantou as sementes da recuperação econômica inglesa e conseguiu colher seus frutos a tempo. Mas mesmo se não fosse o caso, é essa a diferença entre o estadista e o populista: este só pensa nas próximas eleições, enquanto aquele pensa nas próximas gerações. Não deixa de ser alvissareiro, porém, a ideia de que é possível unir o útil ao agradável, ou seja, agir de forma correta mirando lá na frente, e ainda assim receber a recompensa nas urnas, pois os eleitores entenderam as necessidades e vantagens das mudanças. Não podemos jamais confundir a barulheira das esquerdas organizadas com aquilo que a maioria da população deseja.

No Brasil ainda estamos distantes dessa realidade. Por aqui temos sempre um festival de populismo, com candidatos oferecendo mais e mais com recursos públicos, como se não houvesse limites para os gastos estatais. Ocorre que tal política populista jamais entrega bons resultados. E aí acontece o contrário: quando dá tempo dos estragos surgirem com mais evidência, é o próprio populista que paga o preço nas urnas.

Será o destino do PT em 2018, quando a situação econômica deixar claro que o populismo não compensa. Ao menos não para a própria população, que chega a ficar inebriada com a prosperidade ilusória causada por ele no começo. Resta saber onde está o nosso David Cameron, com um discurso e uma prática realmente conservadores na economia e disposto a cortar de verdade a farra dos gastos públicos.

Rodrigo Constantino

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