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O leitor gosta de um sanduba de frango suculento? Sim? E sabe como é simples consegui-lo, não é mesmo? Basta ir a qualquer lanchonete e gastar uns trocados, ou ir a um supermercado, comprar os ingredientes todos à disposição, e montar o sanduíche em casa. Tudo muito fácil e relativamente barato, não é verdade?

Agora que tal experimentar a autossubisistência? Não são poucos os que idealizam uma vida mais rústica e campestre, sem as mazelas do capitalismo, do mercado, imaginando uma era de ouro em que cada pequena comunidade fazia tudo aquilo que necessita. Os kibbutzin israelenses partiam dessa visão romântica de mundo. Quem condena a globalização, mal ou bem, também pensa assim, por condenar a expansão do escopo do mercado.

Pois bem: esse sujeito resolveu fazer o próprio sanduíche de frango. Andy George passou seis meses para fazer um sanduíche partindo do zero. A experiência faz parte da série “How to make everything”, “Como se faz tudo”, em tradução livre, postada no canal do Youtube de mesmo nome.

Para conseguir tal façanha, George plantou o trigo para fazer o pão, retirou o sal da água do mar, ordenhou uma vaca para fazer o queijo e a manteiga, matou uma galinha para retirar o filé de frango, fez o próprio picles e preciso até extrair o mel do favo.

Reparem que mesmo assim não é bem verdade que ele fez tudo do zero e por conta própria. Ele utiliza ferramentas e instrumentos complexos, que jamais teria como produzir sozinho, por mais gênio que fosse. Ele usa até mesmo uma lancha para ir ao mar! Vejam o curto vídeo que resume sua aventura:

Esse experimento reforça a beleza do conceito de “mão invisível” de Adam Smith, o “milagre” do mercado, onde cada um segue os próprios interesses, deseja lucrar para si mesmo, e como consequência disso leva a um resultado social fantástico. O exemplo excelente que Leonard Read deu foi o de um simples lápis, mas um sanduíche trivial também ilustra com perfeição o ponto.

Se você tivesse que fazer seu próprio sanduíche, em vez de comprá-lo no mercado de quem deseja lucrar com sua demanda, você gastaria muito mais e teria um resultado bem inferior. A especialização, o processo complexo e dinâmico do mercado, a busca pelo lucro que coloca o foco no cliente, tudo isso produz o resultado fantástico que pode ser visto num supermercado qualquer.

Quando esse processo é atacado, quando o lucro particular é visto como exploração e combatido, quando o estado começa a intervir em cada etapa, o resultado são prateleiras vazias, filas enormes, racionamento, mercado negro e corrupção. Vide a Venezuela hoje. Vide qualquer experimento socialista anterior. O resultado é inexoravelmente o mesmo.

As lições que podemos extrair desse simples experimento são: 1) a autossubsistência é miserável e a humanidade conseguiu enriquecer graças ao comércio abrangendo cada vez mais gente; 2) o processo de mercado é “milagroso” no sentido de atender às demandas das mais diversas de forma eficiente e por preços acessíveis; 3) o lucro é o resultado legítimo de quem consegue ter sucesso nessa disputa por satisfazer as necessidades dos consumidores; 4) o mercado é mais um processo de cooperação incrível do que competição cruel ou lei da selva, e basta entrar num supermercado para perceber isso.

Da próxima vez que o leitor for comprar um sanduba gostoso de acordo com suas preferências, procure se lembrar disso: pode parecer algo trivial, mas não é; é um “milagre” que só mesmo o livre mercado consegue produzir, e que os socialistas conseguem destruir. Sua alternativa é levar seis meses e gastar US$ 1.500 para chegar ao final e soltar um “it’s no bad” sem convicção alguma.

E no caminho, claro, terá de matar uma galinha, para lembrar que nossos alimentos e proteínas não chegam à mesa direto das embalagens do supermercado, algo banal e óbvio, mas que toda uma geração nova parece ter esquecido, e chega a ficar horrorizada quando descobre que aquele hambúrguer veio de uma vaca ou uma galinha que, antes, teve de ser morta. Basta lembrar da polêmica ridícula que foi criada em torno do chef Alex Atala, só porque ele degolou a galinha na frente da plateia:

Enfim, há quem goste de rezar para agradecer a Deus pelo alimento na mesa. Nada contra, e entendo a mensagem. Mas seria bom aproveitar um ou dois segundos para agradecer ao livre mercado também, que coloca o pão nosso de cada dia em nossa mesa por preços acessíveis e para todo tipo de gosto. Obrigado, Mercado!

Rodrigo Constantino

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