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Segundo Moreira Franco, as prioridades do governo interino de Michel Temer são economia, economia e economia. A julgar pelas escolhas que vimos neste começo de gestão, é isso mesmo. Temer está totalmente voltado para a área econômica, indicando nomes técnicos de qualidade, enquanto errou em outros setores, cedendo à pressão política ou dos movimentos organizados, como no caso da cultura.

Os novos nomes apontados foram os dos economistas Ernesto Lozardo (FVG) para o Ipea, e de Paulo Rabello de Castro para o IBGE. Paulo Rabello de Castro dispensa apresentação. Trata-se de um grande economista, com Ph.D. por Chicago, autor do ótimo livro O mito do governo grátis. É alguém que tem lutado a boa luta, pela redução e simplificação da carga tributária, já que considera o Brasil um verdadeiro “manicômio tributário”. Ele também chama a atenção em suas palestras para a estatização da poupança nacional, um tema da maior relevância. Paulo Rabello de Castro teria condições de assumir inclusive o Ministério da Fazenda, como chegou a ser cotado.

Lozardo, confesso, não conheço tão bem. A primeira impressão, porém, é que ninguém pode ser pior do que Marcio Pochmann e Jessé de Souza, os dois últimos presidentes do Ipea na era lulopetista. Esses dois não seriam nem estagiários numa empresa minha. São péssimos, e ajudaram a ideologizar o Ipea, que outrora gozava de boa reputação. Eis o desafio do novo presidente, portanto: resgatar essa credibilidade, agir de forma técnica, sem partidarismo, sem ideologia.

Verificando um pouco mais o histórico de Lozardo, parece mesmo um nome bem razoável. Nessa entrevista, ataca a baixa competitividade de nossa economia, critica a alta carga tributária, o fechamento comercial de nosso país, destaca a importância das parcerias com a iniciativa privada para atrair investimentos de infraestrutura etc. Clama por um “choque de globalização”, algo de que o Brasil realmente necessita. Vejam:

Deu alguns escorregões graves em minha opinião, ao defender, por exemplo, a política de “seleção dos campeões nacionais” pelo BNDES. Vamos dar um desconto pois foi assessor da presidência do banco. Acredita em demasia no “planejamento estratégico estatal”, enquanto deveria pregar um mercado mais livre para que o capitalismo possa realmente funcionar e exercer seu “milagre”. Demonstra uma fé ingênua no “estado empreendedor”. Mas, em geral, toca nos pontos certos e parece ter um viés ideológico menor. Há algum ranço “desenvolvimentista” que se pode detectar, mas nada perto da linha petista. Nesse artigo, por exemplo, resume sua visão do que é necessário para crescermos:

No Brasil, uma visão de futuro, a política de crescimento e de desenvolvimento econômico deve pautar-se por: estabilidade dos preços e dos juros reais de longo prazo; formação do estoque de capital; qualidade da mão de obra; eliminação da pobreza; promoção do setor de manufaturas como parte da cadeia global de produção; aceleração dos investimentos na modernização da infraestrutura e da logística; e carga tributária compatível com a dos países emergentes.

Nesse outro, sobre a posse de Joaquim Levy, tocou no nervo da questão:

Os desequilíbrios orçamentários do governo federal tornaram-se fonte de todas as incertezas econômicas. O discurso do ministro está centrado no realismo fiscal com o término dos estímulos fiscais e creditícios ao consumo, e os aportes de capital das elétricas dar-se-ão pelo repasse de tarifas aos consumidores, não mais por meio de transferências do Tesouro Nacional.

O ministro reforça a participação do mercado de capitais no financiamento do programa de infraestrutura e o fim do expediente de atrasos das obrigações do Tesouro Nacional em relação aos bancos públicos (Caixa Econômica Federal e BNDES), tanto na equalização de taxas de juros como no pagamento de benefícios sociais, trabalhistas e previdenciários. Ao mesmo tempo, ele propõe eliminar e corrigir distorções na receita tributária no tocante ao imposto de renda, mediante políticas mais racionais quanto ao seguro-desemprego e pensão por morte. Propõe também maior realismo nos preços administrados pelo governo federal para derivados de petróleo, etanol e tarifas de transportes urbanos e de energia elétrica.

A incerteza da política macroeconômica está sempre associada à irresponsabilidade fiscal dos governos.

Demonstrou, aqui, ingenuidade ao crer que Levy seria capaz de implantar essa agenda num governo de Dilma Rousseff. À época, fiz análises bem mais realistas, inclusive condenando a ida de Levy para o governo, o que dava um pseudo-verniz de credibilidade para uma presidente mentirosa, extremamente ideológica, que pretendia apenas enganar os mercados e ganhar tempo, em vez de efetivamente mudar os rumos de sua péssima gestão.

Em resumo, Temer acerta uma vez mais naquela que é a área mais sensível do momento. A economia brasileira está em frangalhos, o país mergulhou numa depressão, e se isso não for revertido o quanto antes, a situação política não vai melhorar. Nada vai melhorar! Sem salvar a economia, o resto afunda junto. Logo, Temer está certo em ter na recuperação da atividade econômica sua meta principal. E tem demonstrado bom senso nas escolhas para o setor. Merece nosso apoio.

Rodrigo Constantino

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