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Temer, o pragmático: “Enquanto protestam, nós passamos”
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O presidente interino Michel Temer disse nesta quarta-feira, em encontro com empresários no Palácio do Planalto, que não se importa com críticas e protestos feitos à sua gestão, e que, sem mencionar a presidente afastada Dilma Rousseff, não vive em um “sistema autoritário”, em que o Poder Executivo não conversa com o Legislativo.

— Até não gosto de falar desse tema, mas sinto que muitas vezes há tais e tantas agressões, inverdades, mas isso não me incomoda. Enquanto protestam, nós passamos — declarou. 

Sem mencionar Dilma, Temer criticou o sistema “autoritário” em que o Poder Executivo não tem interlocução com o Legislativo. A relação atribulada com o Congresso foi determinante para o afastamento da petista.

Temer voltou a criticar as condições em que recebeu o Brasil, e considerou no seu discurso que terá mais de dois anos de governo — isto é, não acredita que o Senado barre o impeachment e que Dilma Rousseff volte ao Planalto.

— Não estamos encontrando o país com déficit zero, com harmonia social, com harmonia entre Executivo, Legislativo e Judiciário. Ao contrário, com déficit extraordinário, empresas públicas quebradas.

Temer adotou a máxima “os cães ladram e a caravana passa”, só que com mais sutileza e elegância, de acordo com seu estilo e temperamento. O presidente interino está certo ao focar nos resultados econômicos: “Ideologia está inteiramente fora de moda. As pessoas querem resultado”, disse.

Há só que se levar em conta que foi a ideologia que trouxe o resultado atual catastrófico. Ou seja, pensando no longo prazo é fundamental associar o nacional-desenvolvimentismo ao caos do momento. Não podemos ignorar as ideologias, pois elas influenciam os resultados.

Temer também está certo de não dar muita trela para os “protestos”. Quem está preocupado em fazer algo concreto não pode ficar refém da unanimidade, dos aplausos de todos. E sabemos como haverá sempre a turma minoritária e organizada que ataca Temer pelos motivos errados, por não aceitar as mudanças necessárias para recolocar a economia nos trilhos. E os economistas sérios sabem como é urgente recuperar a economia:

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta quarta-feira a empresários reunidos no Palácio do Planalto, que a crise registrada neste ano poderá ser a maior desde que o Produto Interno Bruto (PIB) começou a ser calculado no Brasil, nos anos 20. Ou seja, acima até dos números registrados nos anos 30, como consequência do crash da bolsa americana em 1929. Meirelles tentou, porém, transferir otimismo aos empresários e registrar alguma melhora no cenário econômico.

— Os investidores já começam a colocar a cara fora da caverna — brincou o ministro, referindo-se a iniciativas de empresas em busca de crédito e novos investimentos.

Segundo ele, o Ministério tem recebido visitas de empresários interessados em tirar projetos da gaveta. Ele indicou, porém, ser necessário avançar na votação de medidas no Congresso para restabelecer a confiança dos investidores. Ele citou as medidas fiscais como exemplo.

— O processo começa a ser revertido quando o governo prova que controla as próprias contas.

Ou seja: todos sabem que a situação atual é gravíssima, como herança maldita do PT; que a equipe de Temer possui um mapa de voo razoável; que o mais complicado é executar esse plano, aprovar as medidas no Congresso; e que o estranho pedido de prisão da cúpula do PMDB pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em nada ajuda nessa batalha.

Enquanto o impeachment de Dilma não for sacramentado, o governo será refém de um Congresso amedrontado com a Lava-Jato. Os investidores vão preferir aguardar até o cenário ficar menos nebuloso. A recuperação econômica depende da política, e a política anda em ritmo mais lento do que as necessidades econômicas.

É esse o grande risco do Brasil hoje: as reformas necessárias atrasarem demais ou não passarem. Temer, o pragmático, quer resultados, e sabe que, para isso, precisa de alguma tranquilidade política. Não se importa tanto com os protestos organizados, que considera barulho, mas se preocupa com os deputados.

Se estes aprovarem as reformas, os “intelectuais”, artistas e sindicalistas podem chiar à vontade: o Brasil terá começado o esforço de reconstrução. O PT destruiu o Brasil. Está na hora de reconstruí-lo, passo a passo. A ideologia esquerdista afundou nossa economia. O pragmatismo pode reerguê-la. O que funciona na prática? Eis a pergunta. A resposta, conhecemos: reformas estruturais que limitem os gastos públicos e um ambiente mais amigável aos negócios.

Rodrigo Constantino

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