Trump diz que Hillary Clinton tentou subornar procuradora-geral

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Se o leitor só se “informa” sobre os acontecimentos nos Estados Unidos pela televisão brasileira ou, no máximo, pela “imparcial” CNN, então terá apenas uma visão de mundo, e uma bem distorcida. Nela, Trump é um completo fascista maluco, enquanto Hillary Clinton é a moderação em pessoa, uma mulher sensata e razoável. Você nunca ficará sabendo como Clinton é tida como mentirosa por aqui, como é de um esquerdismo radical, e como representa um poderoso establishment nada republicano que se julga acima das leis.

Para tanto, seria preciso assistir a Fox News, que passou o dia todo ontem mostrando o absurdo da fala do diretor do FBI, que culpou Hillary por negligência na questão dos emails secretos, apenas para depois decidir não processá-la, o que faria somente em “circunstâncias diferentes”, ou seja, se não fosse uma Clinton disputando a presidência da nação. Os conservadores republicanos, aqueles que valorizam aquela coisa chamada “império das leis”, ficaram chocados. Você que viu tudo pelo JN achou a coisa mais normal do mundo o que aconteceu ontem. Que falta faz uma Fox News ao Brasil…

Vários juristas deram seus pareceres nos diferentes programas do canal, e o espanto foi uma unanimidade. Por tudo que o diretor do FBI disse, sua decisão final de não abrir processo contra Clinton foi sem sentido. São os Estados Unidos se tornando mais parecidos com uma republiqueta latino-americana, em que dois tipos de leis se aplicam: aquelas para pessoas comuns, e aquelas para os poderosos. Lembram de Lula afirmando que Sarney não era uma “pessoa comum”? Então…

Pois bem: foi Donald Trump, o “fascista”, o “radical”, o “maluco”, quem veio apontar o absurdo de forma mais direta. Tudo parece muito estranho nesse caso. A promotora-geral teve um encontro “fortuito” no aeroporto com Bill Clinton dias antes da decisão? Obama, que fez sua primeira aparição ao lado de Hillary em sua campanha, passou o feriado de 4 de julho debruçado nesse caso? E Hillary sinalizou mesmo que iria preservar Loretta Lynch no cargo se fosse eleita? Trump viu isso como clara tentativa de suborno:

Trump foi direto ao ponto: se Hillary disse isso mesmo, como a mídia diz (e ele desconfia da mídia sempre), então é um caso de tentativa de suborno da procuradora-geral, do tipo “se quer continuar mais 4 anos no cargo, então pense bem antes de qualquer decisão contra mim”. Isso não soa nada republicano. Parece coisa do PT, não do Partido Democrata do passado, que teve JFK em seus quadros. O que está acontecendo com a América? Como a esquerda avançou tanto, e pior, sem isso ser notado pela maioria?

Hillary e Obama são tidos como moderados! E Trump, que tem acusado esse establishment, esse “capitalismo de compadres”, essa arbitrariedade nas regras do jogo, e por isso capturado tanto apoio do “homem comum”, ele é o “fascista” das “elites”. Não Clinton, que recebe milhões dos grandes bancos de investimento de Wall Street e dos sauditas! E quem se “informa” apenas pela Globo News jamais terá uma visão alternativa. Muito plural esse mundo “progressista”…

Se o caso dos emails ultra-secretos tivesse acontecido com outra pessoa, com algum republicano, com Donald Trump, toda a reação seria diferente, da mídia mainstream, dos intelectuais, e o pior de tudo, provavelmente do próprio FBI e da procuradoria-geral. Isso é o velho duplo padrão, que conhecemos tão bem em terras tupiniquins, mas que os americanos tinham conseguido evitar até hoje, ao menos nesse grau escancarado. Agora também existem “os intocáveis” nos Estados Unidos, pelo visto.

Obama queria transformar fundamentalmente a América quando venceu pela primeira vez. O pior é que talvez tenha mesmo conseguido. Disse até que Lula era “o cara”, lembram? Pois então: o caminho já está aberto para um Lula populista e autoritário chegar ao poder por aqui. E todos ainda estão morrendo de medo de Trump, não da esquerda americana…

Rodrigo Constantino