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Uma ponte longe demais: o desabafo de um brasileiro que ama seu país
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Por Adolfo Sachsida, publicado pelo Instituto Liberal

Isso só terminaria com o incêndio do Pireu“. (Tucídides, A História da Guerra do Peloponeso).

Pouco antes de Temer assumir a presidência do país o PMDB lançou o documento “Uma Ponte para o Futuro”. Documento muito bem elaborado, e com uma agenda econômica que gerou aplausos dos principais economistas do país. Hoje, no entanto, esse documento mereceria outro nome: “Uma Ponte Longe Demais”. Esse foi o título de um filme que retratou as operações aliadas Market e Garden durante a segunda guerra mundial. Em resumo, o filme retrata uma operação militar ousada que poderia terminar com a guerra contra a Alemanha. Infelizmente, diversos erros operacionais e estratégicos fizeram com que tal operação redundasse num tremendo fracasso. Exatamente o mesmo resultado da “Ponte para o Futuro”, um verdadeiro fracasso com sérias consequências para a sociedade brasileira.

A situação de Temer é completamente insustentável do ponto de vista moral. Politicamente só sobrevive graças a acordos não republicanos, que adotam como desculpa a possibilidade de aprovação de reformas que nunca acontecerão em seu governo.

Políticos estão sendo claramente poupados no STF, o que joga uma tremenda névoa na respeitabilidade de nossa corte mais elevada. O TSE jogou as regras eleitorais no lixo ao livrar a chapa Dilma-Temer da cassação, o que contribuiu ainda mais para aumentar a desconfiança da população em relação ao sistema legal brasileiro.

No legislativo assiste-se com horror sequências repetidas de deputados e senadores denunciados por corrupção, aprovação de leis com propósitos duvidosos, e uma preocupação dos políticos muito maior em se livrar da operação Lava-Jato do que com o bom funcionamento das normas de nosso país.

Isso simplesmente não pode acabar bem.

A Guerra do Peloponeso travada entre a Liga do Peloponeso (liderada por Esparta) e a Liga de Delos (liderada por Atenas) ocorreu durante os anos de 431 e 404 a.C.. Mas muito antes de seu final, logo após a derrota ateniense na Sicília, Tucídides preferiu seu veredito: isso só terminaria com o incêndio do Pireu (porto da cidade de Atenas). Tucídides rapidamente compreendeu a extensão daquela derrota, compreendeu que Atenas estava condenada.

O que irá acontecer com nosso país ano que vem? O desgaste de nossas instituições é claro, a intolerância entre grupos políticos distintos aumenta a cada dia. Após mais de uma década de uma política petista que visava dividir nossa população (negros contra brancos, heterossexuais contra homossexuais, ricos contra pobres, nós contra eles, e assim por diante), nós finalmente estamos divididos.

A polícia hoje não pode fazer seu trabalho com medo de ser acusada de fascista, juízes são obrigados a seguirem leis claramente ineficientes no combate a criminalidade, o cidadão de bem se vê cada vez mais acuado e com medo. A violência dispara em nosso país.

Nossas crianças vão de mal a pior nos testes educacionais nacionais e internacionais. Parte de nossos jovens parecem acreditar que a tudo tem direito, e que a solução para tudo é o Estado. Assusta o número de jovens que nem trabalha e nem estuda, a famosa geração nem-nem.

Onde isso tudo irá parar? Não há como isso terminar bem. Tenho muito medo do ano que vem, tenho muito medo do que nos espera em 2018. Como uma geração que acreditava que o PSDB era um partido de direita irá reagir quando candidatos realmente de direita passarem a crescer nas pesquisas? Como iremos reagir frente a possibilidade de Lula voltar a ser presidente do Brasil? Como a esquerda irá reagir frente a possibilidade de Bolsonaro ser presidente?

Tenho muito medo de 2018. Infelizmente, em minha opinião, no ano que vem teremos brigas durante comícios eleitorais. E tais brigas levarão a formação de comitês de segurança para proteger candidatos e garantir seus comícios. Entenderam o perigo? Estou dizendo que temo a formação de milícias partidárias.

Um dia perguntarão como tudo isso começou. Como deixamos as coisas chegarem nesse nível. Fica aqui registrada minha resposta: isso ocorreu por covardia, preguiça, e pilantragem. Covardia de nossos líderes que se esconderam nos 14 anos de governo petista. Covardia de pessoas comuns que jogaram aos leões aqueles que resolveram se pronunciar contra o PT. Preguiça da população que deixou a cargo de terceiros a defesa inalienável de sua liberdade. Preguiça de muitos que acreditaram que a riqueza se originava das esmolas do governo e deixaram de lado o trabalho duro. Pilantragem de intelectuais que não tiveram dúvidas em submeter o conhecimento ao crivo ideológico de suas ideias e preferências políticas. Pilantragem de empresários que se aliaram ao PT trocando o mérito empresarial por generosos subsídios governamentais.

Fica o registro: nem todos se calaram, nem todos se esconderam. Muitos lutaram com todas as suas forças, sacrificando inclusive suas famílias e suas carreiras profissionais. Lutaram o bom combate, mas infelizmente a verdade é que 2019 me parece uma ponte longe demais.

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