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Unidos pelo ódio: quando a violência é vista como uma purificação do "sistema"
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A violência saiu de controle no Brasil, líder mundial em termos absolutos de homicídio. No entanto, uma esquerda que é uma mistura de romantismo com canalhice insiste em tratar marginais como “vítimas da sociedade”. Com esse discurso, passam a mão na cabeça de verdadeiros monstros, que matam a sangue frio, que estripam suas vítimas por uma bicicleta, que estupram meninas adolescentes seguros da impunidade. Quem pode achar que jovens estupram e matam só porque não tiveram escola?

Essa gente “acha”, ou adota esse discurso de forma oportunista. Há, por trás disso, um desejo, consciente ou não, de atacar todo o “sistema”, de destruir. Alienados que julgam a classe média burguesa alienada, e acham que encontraram a resposta nas bandeiras revolucionárias. Querem extirpar os males do mundo, para eles derivados do capitalismo. Nem que para tanto precisem colocar tudo abaixo antes. Os marginais são vistos como parte desse processo: uma resposta às injustiças do capital.

Foi esse o tema da coluna de Reinaldo Azevedo na Folha hoje. Após relatar o caso chocante de adolescentes que, em parceria com um adulto estupraram meninas no Piauí, lembrando que seus nomes ficarão limpos como os nossos na ficha criminal, “prontos para arrumar emprego em escolinha infantil”, Reinaldo ataca a postura da esquerda organizada que tenta impedir, à força, a redução da maioridade penal. Os de sempre (UNE, PCdoB, etc) resolveram invadir o Congresso para barrar a votação da medida. É sua linguagem tradicional: a da violência.

Claro que esses “brucutus” não agem sozinhos: “Esquerdistas, como regra, são intelectualmente brutos e brutais, embora hábeis em fingir-se de guardiões do humanismo. Contam, para isso, com a ajuda de… intelectuais!”, diz Reinaldo. Sem dúvida, os brutos são apenas peões no tabuleiro de xadrez desses “intelectuais”. Vem deles o fermento para a violência, a justificativa, a “narrativa ideológica” que serve como álibi, como um salvo-conduto para os que desejam destruir, praticar crimes, matar. Che Guevara é um exemplo claro disso, como era seu genérico brasileiro, Carlos Marighella. Diz Reinaldo:

Por alguma razão que a economia política não explica, infere-se que a delinquência comum é subproduto de uma tensão que seria revolucionária se os protagonistas da barbárie tivessem consciência de seu papel. Esse novo Rousseau é ainda mais tarado do que o original: o homem nasce revolucionário; o capital é que o corrompe.

Eis por que a incrível e triste história de rapazes assassinos e seus pais desalmados costuma mobilizar mais o verbo caridoso de jornalistas do que a das vítimas. É um mecanismo mental perverso: quando um desses menores mata, só então ele exerce o seu papel na narrativa. Tem de ir fundo no crime para ser vítima e herói trágico, provando a perversidade do sistema. Só quando mata, ele se torna, então, um verdadeiro inocente. Entenderam? Com a revolta no lugar certo, Marcos Willians Herbas Camacho seria Lênin, não “Marcola”.

Em Esquerda Caviar, entre as origens do fenômeno eu incluí o niilismo, essa sede de destruição que vem desses “intelectuais”, normalmente bem-nascidos, de classe média alta, que desejam ver o circo pegar fogo para aplacar suas angústias existenciais e pôr fim às suas alienações. Não se suportam, não suportam os outros, os melhores, mais felizes, para eles os verdadeiros alienados burgueses, e desejam o Apocalipse, pois assim as diferenças insuportáveis terão fim. Escrevi no livro:

O grande escritor russo Fiodor Dostoievski retratou em Os demônios a essência do niilismo como força motora de alguns revolucionários. Escrito em 1872, o livro foi inspirado em um episódio verídico: o assassinato de um estudante por um grupo niilista liderado por Nietcháiev, em 1869. Muitos esquerdistas acabam atraídos por ideologias que, no fundo, representam apenas um profundo desejo de destruição ou autodestruição.

Nietcháiev era o resultado prático das teorias de Bakunin, um dos mais famosos anarquistas. Excêntrico, rebelde ao extremo, esse aristocrata desafiava todas as convenções burguesas. Como tantos outros anarquistas e socialistas, Bakunin era, por nascimento, um senhor rural, que teve educação refinada. Estudou em Paris e obteve seu grau de doutor em Pádua. Sua mulher também era de importante família.

Em suma, Bakunin veio da elite, e resolveu combater tudo o que ela representava, o que lhe permitiu chegar onde chegou. Ele tinha na família tradicional uma grande inimiga, objetivando destruir os laços de transferência de valores de geração para geração. Em tom de fanatismo religioso, exalta o futuro promissor:

Haverá uma transformação qualitativa, uma nova maneira de viver, uma revelação que será como dádiva de vida, um novo paraíso e uma nova Terra, um mundo jovem e poderoso no qual todas as nossas atuais dissonâncias serão resolvidas, transformando-se num todo harmonioso.

Que glorioso futuro! Um mundo sem conflitos, sem dissonâncias, onde cada um forma um todo perfeito. Mas, para criar tal “paraíso”, naturalmente seria necessário destruir o mundo que temos hoje, implodir os pilares dessa sociedade carcomida, em estado de putrefação. E foi assim que Bakunin, como alguns antes e muitos depois, apresentou a receita do sucesso:

Confiemos no eterno espírito que destrói e aniquila apenas porque é a inexplorada e eternamente criativa origem de toda a vida. A ânsia de destruir é também uma ânsia criativa.

Não sei quanto ao leitor, mas, quando leio essas passagens, não posso evitar o pensamento de que seria muito melhor para o mundo se gente com tamanho descontentamento com a vida e tanta sede por destruição simplesmente procurasse um bom psicanalista, ou quem sabe pegasse um pedaço de pau e destruísse o seu quartinho confortável arrumado pela empregada. Mas que deixasse os outros em paz!

Theodore Dalrymple, falando sobre Bakunin, reconhece que o ato de destruir é, em si, divertido para muitos. Quando encontram uma suposta causa que justifica a destruição, aí é uma festa! Essa combinação atrai muita gente para a esquerda caviar raivosa, que alimenta um constante desejo de destruição. Fernando Pessoa foi outro que percebeu o teor destrutivo do comunismo. Ele escreveu:

O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós. O comunismo não é uma doutrina porque é uma antidoutrina, ou uma contradoutrina. Tudo quanto o homem tem conquistado, até hoje, de espiritualidade moral e mental — isto é de civilização e de cultura —, tudo isso ele inverte para formar a doutrina que não tem.

Em United in Hate, Jamie Glazov tenta explicar a paixão dos intelectuais de esquerda por tiranos. O assunto é bastante pessoal para ele, que foi ainda criança levado, pelos pais, da União Soviética para os Estados Unidos, fugindo de uma tirania. Qual não foi a surpresa da família ao descobrir que muitos intelectuais americanos defendiam justamente aquele regime totalitário, e ainda tentavam silenciar as verdades que eles, tendo sofrido na própria pele, revelavam!

Para Glazov, esse crente esquerdista começa sua jornada totalitária com um agudo senso de alienação em sua própria sociedade – alienação que ele é totalmente cego para enxergar. Em negação com suas próprias falhas, que o impedem de criar um elo com seu povo, o crente se convence de que há algo profundamente errado com sua sociedade. Sem conseguir se encaixar direito nela, deseja ardentemente colocar um fim nessa angústia – e na sua própria sociedade.

Unidos pelo ódio: assim são esses que vestem um manto de altruísmo humanista mas, no fundo, sentem profundo regozijo quando um menor de idade, “pobre vítima da sociedade”, destroça um pequeno-burguês, símbolo da “opressão capitalista”. Que gentinha…

Rodrigo Constantino

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