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Vai aí um quadro do meu filho por menos de $50 milhões? Aproveita que é pechincha!
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Um leitor atento reclamou: faz tempo em que eu não escrevo nada sobre “arte” moderna. De fato. São tantas coisas acontecendo, tantos temas, que às vezes deixamos passar uma ou outra coisa. Não dá para focar em tudo. Mas é para isso que tenho os meus leitores!

Ele me mandou a “obra de arte” que a Christie’s está leiloando, de Cy Twombly, por módicos $46.437.500 (mas acredito que, se não houver muita disputa, pode até sair com um desconto, ao menos desses $500). O que podemos comprar com quase $50 milhões? Melhor nem pensar. Eis a resposta:

O mais engraçado são os comentários. A maioria está, claro, ridicularizando o troço, que é ridículo mesmo. Mas há quem apareça para lamentar a estupidez de todos nós, reles mortais das redes sociais, justificando o exorbitante preço, sugerindo não odiarmos aquilo que não entendemos. Um deles disse: “Ninguém do Twitter experimentou o trabalho de Cy Twombly pessoalmente, pelo visto”. Deve ser fantástico viver no mundo de ilusões desse sujeito, que teve uma incrível experiência ao ver de perto tanta maravilha do universo!

Meu filho Antonio nem completou dois meses ainda, mas talvez ele já consiga fazer uma “obra de arte” semelhante. Está naquela fase de mexer rápido as perninhas. Se eu colocar pincéis amarrados com tinta vermelha e uma tela, talvez saia algo parecido – ou melhor, quem sabe?! Quando coloco o pianinho ele fica chutando as teclas e sai uma sinfonia. Quem precisa de Mozart?!

O mais curioso, para mim, sempre foi imaginar a pessoa que, diante de uma porcaria dessas, realmente se sente vendo algo profundo, que toca à alma, que exige reflexão e que representa uma experiência. Imagino que comer caca de javali deve ser uma “experiência” e tanto também. Mas lá está o sujeito, coçando o queixo e fazendo cara de sabedoria diante dos rabiscos sem sentido do autor da obra.

E pensar nos clássicos, em tantos artistas que tentaram buscar o transcendental para fugir do efêmero, que deram duro para extrair beleza das pedras de mármore, ou eternizá-la numa tela… é até covardia! O que os moderninhos fizeram com a arte? Se tudo é arte, então nada é arte.

Mas como há muito em jogo, financeira e emotivamente falando, claro que a reação será apontar para a minha ignorância, para minha “profundidade convexa” de tão raso que sou, ao não enxergar o incrível sentido dessa imagem. Sabem aquela criança que grita que o rei está nu, que não há roupa invisível colorida alguma? Então: ela precisa ser tirada rapidamente dali, para não estragar a festa…

Rodrigo Constantino

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