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Venezuela: uma forma burra de aprender a lição de Adam Smith
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A Venezuela afunda rapidamente, tornando-se cada vez mais parecida com Cuba. O socialismo do século 21 fez o mesmo que seu irmão do século anterior: produziu apenas miséria, escassez e escravidão. Agora até fralda é item de luxo no país, e os compradores precisam apresentar a certidão de nascimento dos filhos em alguns locais para sair com o produto.

O setor de saúde também está sofrendo bastante com a falta de produtos. Chegam a faltar até 80% dos itens cotidianos usados em hospitais. Os médicos estão tendo que abrir mão de métodos modernos por falta de equipamentos. A medicina venezuelana regrediu uns 50 anos no tempo, colando na “fantástica” medicina cubana.

Como reação à escassez generalizada produzida pelo próprio governo e seu regime socialista, Maduro resolveu intensificar a opressão e tratar como crime o ato de permitir a formação de filas nos estabelecimentos. Uma rede de supermercados foi ocupada pela polícia, acusada de fomentar uma “guerra alimentar”. Seus diretores foram detidos.

Pouco antes, proprietários de uma rede de farmácias também tinham sido presos, acusados de criar longas filas por ganância. O desabastecimento geral no país precisa de bodes expiatórios, e claro que ninguém melhor do que os empresários para isso. Só pensam em lucrar, são insensíveis aos apelos da população carente.

O caso venezuelano é extremo, e agora que o fracasso ficou evidente demais, a nossa esquerda se afasta sorrateiramente do regime, como se não tivesse aplaudido cada medida populista desde Chávez até Maduro. Mas, apesar de ser um caso exagerado, trai uma premissa que está presente em boa parte do pensamento da esquerda brasileira, qual seja, a de que o empresário é ganancioso e cabe ao estado proteger os consumidores.

Desde 1776, com Adam Smith, já sabemos que não é da benevolência do açougueiro que esperamos nosso jantar, mas sim de sua busca em atender seus próprios interesses. O capitalismo liberal é um processo impessoal, onde não há muito espaço para apelos sensacionalistas. Não obteremos os bens que desejamos ou necessitamos apelando para nossa bondade ou necessidade, e sim oferecendo algo de valor em troca no mercado.

Esse “egoísmo”, guiado por uma “mão invisível”, é que torna o capitalismo tão eficiente, o que explica a abundância de produtos à venda nos supermercados, para todo tipo de preferência e renda. A ganância dos empresários em busca de lucro, longe de ser um item negativo, é o que faz com que tenham que atender essa demanda dos consumidores da forma mais eficiente possível.

Não são poucos os “intelectuais” que rejeitam ou abominam o capitalismo por conta dessa impessoalidade, dessa ausência das boas intenções aparentes. Eles gostariam de viver num mundo diferente, em que o homem não fosse o que é: um ser cujos próprios interesses costumam vir antes dos demais. Os próprios “intelectuais” não são abnegados, e seus atos do cotidiano mostram que eles também seguem seus interesses. Mas o discurso não morre fácil, seja por hipocrisia, seja por alienação.

Os esquerdistas gostariam de acreditar que o slogan marxista é possível: “de cada um de acordo com a capacidade, a cada um de acordo com a necessidade”. Adam Smith, em vez de colocar desejos acima de fatos, foi verificar como o mundo funcionava na prática, e disso derivou sua teoria. Felizmente para nós, a ganância não é algo ruim, a busca pelos próprios interesses tampouco, desde que em um ambiente de liberdade e império das leis.

É a ganância (ou a vaidade, uma forma de ganância) que faz com que um cientista queira ser o responsável pela descoberta da cura de uma doença, por exemplo. Ou que faz com que os mesmos “intelectuais” queiram acumular mais títulos e obter mais respeito dos seus pares. Ou, claro, que faz com que um empreendedor procure inovar no mercado para ficar rico.

excesso de ganância pode ser prejudicial, como o excesso de quase tudo. Mas ela em si não é o vilão. E isso é algo que os “intelectuais” nunca vão admitir, ainda que bastasse uma rápida observação sincera diante de um espelho. Em suas vidas, em seus consultórios, em suas profissões, esses mesmos “intelectuais” agem de forma a maximizar seus próprios ganhos e atender seus próprios interesses.

Nunca vi uma psicanalista defensora do socialismo abrir mão de sua remuneração, por exemplo. Ao contrário: o que vejo são muitas que não emitem nota fiscal para pagar menos impostos. É a ganância atuando, a vontade de maximizar seus ganhos, de aumentar sua riqueza.

Portanto, Adam Smith estava com a razão, e Marx estava completamente equivocado. A Venezuela seguiu a receita marxista, e deu no que deu. Os países capitalistas, que respeitam o mercado e valorizam o lucro obtido honestamente nele, são prósperos e livres. Não falta fralda, equipamentos medicinais, nada! Ao contrário: há abundância de produtos para todos os gostos.

É a premissa que precisa ser abandonada de uma vez. O mercado não é o inimigo, o empresário que deseja lucrar não é prejudicial aos demais, e não devemos nem precisamos esperar que suas ações sigam algum tipo de altruísmo. Tampouco o governo é um protetor dos nossos interesses. O caos venezuelano deveria enterrar de vez essa crença ingênua, que tanto mal fez no mundo.

Rodrigo Constantino

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