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Vergonha alheia: quando empresários pedem proteção e incentivos ao governo
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Por João Luiz Mauad, para o Instituto Liberal

“Em cada país, o interesse da maioria do povo é comprar o que quiser daqueles que vendam mais barato. Esta proposição é tão manifestamente verdadeira que parece ridículo tomar qualquer esforço para prová-la; O sofisma contrário sequer teria sido algum dia considerado, se não interessasse aos comerciantes e fabricantes domésticos confundir o senso comum da humanidade, já que o seu interesse é, nesse aspecto, diretamente o oposto ao do grande corpo do povo.” Adam Smith

Existem duas maneiras de um empreendedor tornar-se bem sucedido nos negócios. Na primeira, ele deve produzir bens ou serviços que atendam aos interesses do consumidor, gerando resultados desejáveis para a sociedade em geral. Na outra, utiliza-se de meios políticos para obter do governo vantagens diversas para o seu negócio, não raro em detrimento dos interesses de consumidores e pagadores de impostos.

Com muita frequência, os maiores oponentes do sistema de livre mercado não são os idealistas da extrema esquerda, que pouca gente leva a sério hoje em dia. Seus verdadeiros inimigos são líderes empresariais que tentam, de todas as maneiras, extingui-lo em seus próprios benefícios. Eles sabem que os governos costumam ser muito mais eficientes na hora de atender aos reclamos de lobbies bem organizados e articulados do que propriamente para gerir os dinheiros públicos no interesse geral.

Tocar um negócio num sistema competitivo não é algo fácil e envolve imensos riscos. Obter benesses junto a políticos e burocratas é muito mais fácil e seguro. Quanto maior e mais poderoso é o governo, especialmente quando o Estado se confunde com o próprio sistema econômico, mais os grandes capitalistas sentem-se incentivados a buscar rendas através do desvio de dinheiro público e dos favores especiais.

Desde a posse de Donald Trump, os oportunistas tupiniquins estão em polvorosa, ávidos por adaptar as idéias estapafúrdias do “homem laranja” sobre comércio internacional ao ambiente doméstico, onde, pelo menos desde a posse de Temer, eles perderam algumas das benesses que os governos petistas lhes concediam com boa vontade ímpar.

Peguem, por exemplo, o artigo de Benjamim Steinbruch, publicado pela Folha de São Paulo semana passada.  Depois de uma rápida pincelada nas eleições norte americanas, o autor tira algumas conclusões (segundo ele) aplicáveis ao Brasil:

“A primeira é que o mundo caminha inevitavelmente para uma fase protecionista em matéria de comércio. E não só pelo efeito Trump. A saída do Reino Unido da União Europeia faz parte desse roteiro.

É hora, portanto, de repensar o ingênuo receituário neoliberal que propõe a abertura irrestrita do país e a entrega das empresas à sua própria sorte, sem apoio e proteção de nenhuma natureza para o capital nacional.

(…)

Isso reforça a ideia de que os empreendedores nacionais não podem ser entregues à sua própria sorte, com juros imorais, falta de crédito e carga fiscal exagerada, com a ideia infantil de que o mercado pode resolver todos os problemas.

A perda de competitividade é uma porta já escancarada para a invasão estrangeira, que mata negócios, impede investimentos, ceifa empregos e extermina o futuro. É preciso ter olhos abertos para a exportação de empregos e deixar de olhar torto para o capital nacional.”

Nesses quatro parágrafos, encontram-se resumidos todos os principais argumentos dos empresários brasileiros para requerer proteção e incentivos infinitos do governo: reparem, por exemplo, que Steinbruch fala de uma suposta “abertura irrestrita do país”, ainda que todas as estatísticas disponíveis nos coloquem entre as economias mais fechadas do planeta.

Confesso que essa cara-de-pau desperta em mim a vergonha alheia. O desserviço que estes capitalistas de araque prestam ao país é enorme, e os prejuízos causados incalculáveis.  Expressões como livre mercado soam nos ouvidos desses senhores como palavrões em dispensário de freiras.  Apoiados na surrada lengalenga da proteção ao produto nacional, eles estarão sempre clamando por mais e mais protecionismo, reservas de mercado e outras benesses não menos nefastas.  Apelando invariavelmente para a defesa dos empregos locais, os falsos empreendedores farão tudo o que estiver ao seu alcance para perpetuar seus privilégios.

Nas “sociedades solicitantes”, para usar a expressão cunhada por Bastiat, eficiência e êxito perdem qualquer relação de causa e efeito, já que as prioridades da atividade econômica, como bem demonstra o artigo do senhor Steinbruch, passam a estar voltadas não para a produtividade, a austeridade ou a satisfação do consumidor, mas para a troca de favores.

Infelizmente, esse tipo de “empresário” existe em qualquer lugar do planeta.  Não é um privilégio do Brasil ou dos países mais pobres. Nenhuma sociedade está imune a eles.  No entanto, quanto maior for o grau de intervencionismo do Estado, maior será a probabilidade de que obtenham êxito. Deixando de lado questões sociológicas, culturais e políticas, trata-se de uma questão estatística.

Comentário do blog: Benjamin Steinbruch tem sido meu alvo faz tempo, assim como o “capitalismo de compadres”. Mas acho importante fazer uma análise da agenda trumpista para além da economia. Steinbruch é um protecionista econômico. Mas a verdadeira pauta de Trump não é estritamente econômica, e sim cultural. O tema quente na eleição foi a imigração, não pela ótica econômica apenas, mas também cultural. Ann Coulter, autora de Adios, America!, falou que Trump venceria lá atrás, foi ridicularizada, e hoje ri dessa turma toda. Ela entendeu o que está em jogo para o americano médio. E a mensagem “Make America Great Again” captura bem isso. Em que pese o viés protecionista na economia, há algo maior por trás, e acho injusto comparar o “homem laranja” ao simples esquema de “capitalismo de laços” da Fiesp no Brasil, apesar de concordar com o alerta de Mauad sobre os riscos desse protecionismo.

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