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Whatsapp

Considero Cora Rónai uma pessoa com honestidade intelectual, e por isso vou rebater o que julgo um grave equívoco de sua coluna de hoje, em que aponta a hipocrisia do PT, do ministro Ricardo Berzoini e da esquerda em geral.

Ela vai bem, acerta enquanto esfrega na cara dos petistas sua incoerência em defender as grandes operadoras de telefonia enquanto falam em nome dos mais pobres, lembrando que o aplicativo WhatsApp beneficia justamente esses consumidores, que passam a poupar seu suado dinheiro.

Mas quando resolve classificar a postura dentro do espectro ideológico “esquerda” e “direita”, seu tiro sai pela culatra, e ela comete um erro grave que, infelizmente, é muito comum e reforça a falácia de que a esquerda defende os pobres e a direita as grandes corporações:

Era de se esperar, portanto, que o ministro, como homem de esquerda que diz ser, demonstrasse um pouco menos de amor pelas teles e um pouco mais de amor pelos trabalhadores, que tanto dependem do WhatsApp. Também era de se esperar que notasse que, há tempos, as operadoras cobram dos cidadãos contas cada vez maiores por serviços cada vez piores, o que justifica em boa parte o sucesso do aplicativo. Até outro dia, homens de esquerda defendiam pessoas físicas da sanha de pessoas jurídicas; mas isso, claro, era na época em que a esquerda ficava à esquerda, e não à direita da direita, como fica hoje.

Ora, isso é monopólio das virtudes, dos fins nobres. Quem disse que a esquerda é que se preocupa com os mais pobres de fato? O importante é debater os meios que beneficiam os mais pobres, e esses são os liberais, o capitalismo de livre mercado. O WhatsApp, não custa lembrar, vem do capitalismo, do desejo de lucrar, da propriedade privada, do investimento de capital poupado para ter retorno, do dinâmico setor de tecnologia, ícone do livre mercado, de investidores “anjos” em busca da próxima tacada bilionária. O mesmo para Facebook, Apple, Twitter, Microsoft etc. Nada veio do socialismo!

O avanço do capitalismo foi o maior “milagre” para os mais pobres. Foi ele que permitiu o crescente acesso das massas aos diferentes produtos que trazem mais conforto, mais produtividade, mais qualidade de vida. Isso é o capitalismo em ação! Enquanto a defesa de grandes corporações em simbiose com o governo, o que chamam de “capitalismo de estado” só para manchar a imagem do capitalismo, é no fundo a prática recorrente das esquerdas.

Logo, Cora Rónai está equivocada quando diz que a esquerda, hoje, fica à direita da direita. Não: ela é apenas a velha esquerda mesmo, sempre protegendo interesses de grupos organizados contra os interesses pulverizados e dispersos dos milhões de trabalhadores e consumidores.

PS: Cora Rónai me mandou a seguinte mensagem pelo Facebook: “Obrigada pelo elogio, Rodrigo. Infelizmente parece que errei na ironia, porque é óbvio que não penso assim. Eu estava usando a visão que a esquerda faz de si mesma, e a que faz da direita, para cobrar do ministro um mínimo de corência. Na verdade, poucas coisas me deixam mais indignada do que essa ideia nobre e altaneira que a esquerda faz de si mesma, como detentora do monopólio das boas intenções”.

Rodrigo Constantino

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