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A cultura bacharelesca
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O diploma universitário, no Brasil, possui um status desmedido. A ideia, bastante alimentada pelo romantismo de esquerda, é que todos deveriam concluir uma faculdade. Mas nem todos nasceram para isso. Nem todos aproveitam da mesma forma esse instrumento. Pode ser perfeitamente possível que os recursos investidos em cursos técnicos entreguem um retorno bem maior a determinadas pessoas.

É justamente o ponto abordado na reportagem do GLOBO de hoje:

Segundo o Senai, de 2013 até 2015, o Brasil terá de formar 5,5 milhões de trabalhadores em nível técnico e em áreas de média qualificação para atuarem em profissões industriais. Serão oportunidades em 177 ocupações, que vão desde trabalhadores da indústria de alimentos (cozinheiros industriais) e padeiros até supervisores de produção de indústrias químicas e petroquímicas.

Para especialistas, assim como o ensino médio precisa ser reformulado, o mesmo ocorre com o ensino técnico. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), relativos a 2010, apenas 6,6% dos estudantes brasileiros até 25 anos estavam matriculados em cursos técnicos. Em países como Áustria, Finlândia, Holanda, Eslovênia, Suíça, essa taxa supera os 70%.

— É preciso reformular o currículo do ensino médio, adequando-o ao Enem, e precisamos inserir cursos profissionalizantes no ensino médio regular. Hoje ele é muito difícil e está direcionado para a universidade — avalia a professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Tatiane Menezes.

A professora Hildete Pereira, da UFF, considera que as dificuldades de expansão do ensino técnico no país esbarram nas raízes ibéricas da formação cultural do país.

— Nunca demos importância social a cursos ligados a ofícios e damos muita atenção ao diploma. Temos uma cultura bacharelesca — afirma.

No Brasil, acredita-se que formar milhares de sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, psicólogos ou mesmo economistas, todos bastante imbuídos das crenças marxistas, representa um passo mais importante rumo ao progresso da nação do que investir em cursos técnicos de caráter mais prático, alinhados às demandas do mercado de trabalho.

Essa é uma visão romântica, desconectada da realidade. Para vários jovens, os anos na universidade estudando sobre Marx ou Foucault representam pura perda de tempo (e são mesmo!). O que eles precisam é de cursos que tornem sua empregabilidade e sua produtividade maiores, para terem melhores oportunidades no mercado de trabalho, produzindo riqueza no sistema capitalista. Infelizmente, a área de humanas costuma focar na distribuição de riqueza apenas.

Quando o STF decidiu que não seria obrigatório o diploma de jornalismo, por exemplo, a reação foi imediata. Muitos jornalistas questionaram porque cursaram seus anos de faculdade, se agora qualquer um poderia ser um jornalista, com ou sem diploma. O simples questionamento demonstra como vivemos na “cultura do diploma”, contrária à cultura da meritocracia. Quer dizer então que aqueles anos na faculdade tinham como meta somente o diploma, e não um aprendizado efetivo e útil?

A obrigatoriedade de diplomas não passa de uma reserva de mercado, típica de países corporativistas. O que importa é a qualidade do serviço prestado, a capacidade do profissional, e não o fato de ele ter ou não algum diploma. Ele poderia ser um brilhante autodidata. Ele poderia ser um drop out de uma faculdade, como tantos empreendedores americanos hoje bilionários.

Se o investimento de tempo na universidade for rentável, ou seja, se o diploma realmente agregar valor, então ele continuará sendo demandado e respeitado. Mas não há motivo algum para que o governo torne obrigatória a existência de um diploma. Isso apenas reduz a competição no setor, afastando possíveis profissionais competentes.

A prática pode ser uma escola mais eficiente que a universidade. Vamos deixar os consumidores decidirem. Quem teme a competição? Nos Estados Unidos e na Inglaterra não se obriga diploma para jornalistas, e creio que ninguém diria que o jornalismo nesses países é precário e incompetente.

O caso da reserva de mercado dos jornalistas é apenas um sintoma do valor excessivo dado ao diploma universitário no Brasil. Precisamos abandonar essa cultura bacharelesca e focarmos mais nos resultados práticos, na meritocracia, nas demandas do mercado.

Além disso, resta perguntar: se para ser um poderoso Presidente da República não é exigido diploma algum no Brasil, por que deveríamos cobrar um para jornalistas? Por que devemos insistir que todos cursem universidades, quando muitos poderiam se beneficiar mais de cursos técnicos?

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