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A entrevista de Josué Gomes da Silva
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Fonte: Folha

O empresário Josué Gomes da Silva, filho do falecido ex-vice-presidente José Alencar e presidente da Coteminas, deu uma entrevista ao jornal Folha que ilustra bem porque os liberais devem defender sempre o mercado, não os negócios.

Muitos pensam que grandes empresários são sempre defensores do liberalismo, mas nada mais falso. O capitalismo de estado, com freqüência, atende melhor seus interesses – à custa dos consumidores e pagadores de impostos.

Abaixo, os principais trechos da entrevista (em vermelho), com meus comentários (em azul):

Folha – O senhor foi sondado pelo senador Aécio Neves para ser candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB. Por que optou pelo PMDB e pela aliança com a presidente Dilma Rousseff?
Josué Gomes da Silva – Sempre manifestei que tenho um lado, o do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff. E é natural que essa seja minha opção, afinal papai fez parte desse projeto que me parece ter inúmeros acertos. Conheço o senador Aécio, mas nunca houve sondagem.

Pois é, o lado do empresário está bem claro. É o mesmo lado do partido dos mensaleiros, que rasga o próprio estatuto para não ter de expulsá-los, mesmo após a condenação final. Chamar a presidente Dilma de “presidenta”, como já disse várias vezes, é a senha para se declarar governista ou subserviente ao Planalto. Quem respeita a nossa língua – e a independência – chama de presidente mesmo. Resta saber quais “inúmeros acertos” foram esses…

Qual foi a participação de Lula na sua filiação ao PMDB?
Nunca poderia deixar de ouvi-lo. Ele sempre teve um carinho muito grande no período de convalescência do papai e sempre respeitou o papai, as opiniões do papai, dando absoluta liberdade para que o papai se manifestasse. Lula é um democrata, dá sugestões e opinião, mas não impõe nada. Ele é um grande conhecedor da política e fez sua recomendação. 

Lula é um democrata? O mesmo que já disse até que a democracia é uma “farsa” para se chegar ao poder? O mesmo que lidera o PT com punho de ferro, muitas vezes impondo sua vontade à revelia dos filiados? O mesmo que escolheu Dilma como candidata no “dedaço”? O mesmo que foi o maior beneficiado pelo mensalão, que tentou usurpar nossa democracia? O mesmo que quis expulsar um jornalista estrangeiro só por este ter dito o que todos sabem sobre seu gosto por bebida? O mesmo cujo governo sempre falou em controle “social” da imprensa? O mesmo que flertou com a possibilidade de um terceiro mandato? Esse Lula é um grande democrata? Sei…

O setor empresarial está descontente com o governo federal e sua nomeação no ministério poderia ser importante para a interlocução com o PIB.
Já tem um diálogo entre o setor empresarial e o governo Dilma, não precisa de outra pessoa para ampliar isso. Não nego que o setor empresarial esteja descontente. Mas não acho que seja com o governo. Aquele espírito animal de investidor está apagado, adormecido, por causa do conjunto de circunstâncias.

O problema é do tal “espírito animal”, assim do nada? Não tem ligação alguma com o governo? Simplesmente um belo dia o tal “espírito animal” se apagou, foi dormir, por um “conjunto de circunstâncias” que não dependem do governo Dilma? Não há elo algum com o intervencionismo excessivo do governo na economia, com preços congelados, com mudança nas regras do jogo, com malabarismo contábil, nada disso? Sei…

Quais circunstâncias?
Nosso governo não foi suficientemente claro na comunicação das últimas medidas econômicas. Os empresários precisam de previsibilidade. Uma das razões de o setor estar com o instinto de investimento adormecido é porque não tem clima de transparência. Me parece que o governo está atento e não houve descontrole fiscal. Tem que focar na inflação e nas contas públicas e é o que está fazendo.

Ah bom! Então é culpa do governo, afinal, mas nada em sua essência, e sim em sua comunicação. Falta transparência, só isso. Eis a tese de Delfim Netto, o Sarney da economia, não é mesmo? O governo está focando nas contas públicas e não há descontrole fiscal? É por isso que a responsabilidade fiscal foi rasgada e o superávit está prestes a desaparecer? A inflação segue perto do topo da meta, mesmo sem crescimento econômico, mas isso não é erro de medidas do governo, e sim de comunicação? Sei…

Como o senhor avalia a política econômica do governo?
Tem mais acertos do que erros e, normalmente, só erra quem faz. Talvez na vontade de fazer muito, alguns erros tenham sido cometidos, mas o mais importante é se dar conta e corrigir a rota.

Data vênia, leitores: hahahaha! Só erra quem faz, e talvez o problema seja a vontade de fazer muito? Essa foi a piada do ano! Será que foi a maneira cifrada encontrada pelo empresário para finalmente atacar o excesso de intervenção do governo Dilma? Deve ser terrível ter tanto dinheiro, andar de Ferrari e tudo, mas não ter a liberdade de falar de forma clara e objetiva o que quer…

Um segundo governo Dilma seria diferente do primeiro?
A marca desses onze anos é desenvolvimento com distribuição de renda e justiça social. Isso melhora a qualificação da população. Por isso o Brasil está crescendo e é nesse projeto que eu acredito.

O projeto que Josué acredita é aquele que fez o Brasil crescer bem menos do que a média de emergentes, com muito mais inflação. Vai gostar do fracasso assim lá na Argentina ou na Venezuela!

O senhor disse contribuir mais para a candidatura de Dilma fora do ministério. Seria como candidato em Minas Gerais? Como conciliar atividade empresarial e atuação política?
Não vejo incompatibilidade entre as atividades porque minha militância política é como cidadão. Minha defesa desse modelo, estando fora do governo, é mais legítima. Não estou buscando cargo. Obviamente não falo que não disputarei cargos, mas nunca tratei nem pensei nisto. Estou na política porque acredito.

Como cidadão, sem vínculo algum com a Coteminas, que chegou a ter milhões de crédito com o próprio PT? Sei. Quer dizer, então, que não são os interesses do empresário que pautam essas declarações, mas os do cidadão isento de olho apenas no melhor para o povo brasileiro? E espera que alguém acredite nisso?

O que achou do julgamento do mensalão? E as prisões?
Não conheço os autos do processo, então, qualquer opinião acabaria tendo um filtro de ideias preconcebidas e prefiro evitar equívocos.

Esquivou-se bem. Mas… nem todos que opinam sobre o assunto leram os autos do processo em detalhes. Que tal uma visão mais geral da coisa? Vamos, Josué, isso você é capaz de fazer. O mensalão mereceu ou não as punições que teve? Lugar de criminoso é ou não na cadeia?

Ficou demonstrado no julgamento que o antigo PL, partido do seu pai, recebeu R$ 9 milhões após a aliança com o PT. Não há evidência de que seu pai tenha participado das negociações, mas seria razoável supor que ele tenha se interessado em saber o que houve. Vocês conversaram sobre isso?
Papai deu declarações públicas sobre isso. Na aliança entre PT e PL, com o PT na cabeça de chapa, ficou combinado a distribuição de recursos da arrecadação de maneira a permitir que o PL financiasse seus candidatos a deputado. Não era troca de dinheiro. Agora, como foi arrecadado, distribuído e o que foi feito com o dinheiro, isso não cabia ao presidente Lula nem ao papai como candidatos, cabia aos tesoureiros.

A culpa é sempre do mordomo! No caso, do tesoureiro que segue ordens. Nunca é culpa dos líderes que fecham os acordos espúrios. O que se diz no mercado é que o centralismo de Josué em sua empresa é enorme, e nem cheque de baixo valor era assinado sem seu conhecimento. Será que “papai” era tão diferente? Será que “papai” nem queria saber como tanto dinheiro seria arrumado e dividido? A culpa é do estagiário! Assim é fácil…

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