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Ah, se Lula fosse francês! Ou: O sujeito oculto do mensalão
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Outro dia chamei aqui a França de “Brasil de grife”, pois sabemos como os franceses curtem um intervencionismo estatal e sofrem de uma estatolatria semelhante a nossa. Mas nem tanto, nem tanto. Ainda há resquícios de seriedade republicana por lá. Ou assim se espera.

O ex-presidente Nicolas Sarkozy ficou detido por 16 horas, prestando depoimentos na Polícia Judiciária de Naterre. Foi formalmente indiciado pela Procuradoria de corrupção ativa, tráfico de influência e violação do sigilo profissional. É a primeira vez na História da república francesa que um ex-presidente é detido. Ele nega qualquer irregularidade.

Escutas telefônicas feitas pela Justiça indicariam que Gilbert Azibert, juiz do Tribunal de Cassação, a mais alta corte judiciária para ações civis e penais do país, teria passado informações confidenciais a Sarkozy sobre as investigações no caso Liliane Bettencourt, a bilionária herdeira do grupo L’Oréal, em torno de financiamento ilegal de campanha.

Em troca, o magistrado teria solicitado que o ex-presidente Sarkozy usasse de sua influência política para que ele fosse designado como conselheiro de Estado no Principado de Mônaco. Sarkozy foi colocado sob escuta telefônica no ano passado, a mando de dois juízes, por conta das suspeitas de financiamento do governo líbio do ditador Muamar Kadafi para sua campanha presidencial de 2007.

Ah, se Lula fosse francês! Foi o primeiro pensamento que me passou pela cabeça ao ler a notícia. Como sabemos, o mensalão deixou de fora o “chefe“, o maior beneficiado pelo esquema de compra de parlamentares. Na expressão do historiador Marco Antonio Villa, Lula seria o “sujeito oculto” no julgamento. Faltou coragem para indiciá-lo.

A França vive sua decadência chique, fruto de um modelo carcomido de welfare state, com excesso de intervenção estatal engessando a economia e uma carga tributária proibitiva. Mas, como podemos ver, lá ao menos não tem essa de poupar ex-presidente.

Sim, é verdade que o fato de ele ser de centro-direita ajuda, e muito. Talvez seja até perseguição da esquerda, o que seria terrível para a democracia. Aqui tivemos o Collor sofrendo impeachment e indo a julgamento por muito menos do que Lula. Collor que, não custa lembrar, hoje é aliado de Lula e do PT. Mas sejamos otimistas e acreditemos que Sarkozy foi indiciado por conta do império das leis isonômicas, e que Hollande não escaparia do mesmo destino.

Não podemos negar que o julgamento do mensalão já foi um avanço institucional cujo desfecho surpreendeu muita gente, que não esperava ver alguém como José Dirceu atrás das grades (ainda que com várias regalias). Mas todo cuidado é pouco.

Joaquim Barbosa se aposentou e saiu do STF. Imediatamente, Dirceu foi autorizado a sair para trabalhar. E há petistas infiltrados ali, na nossa Suprema Corte, atuando com claro viés partidário. Isso é uma das maiores ameaças a nossa democracia republicana, que demanda igualdade de todos perante as leis.

Ficarei feliz no dia em que certo ex-presidente brasileiro for indiciado formalmente pela justiça. Chega dessa de sujeito oculto. Te cuida, Lula!

Rodrigo Constantino

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