• Carregando...
As táticas mudaram, mas a essência autoritária continua a mesma
| Foto:

Carlos Alberto Di Franco escreveu um importante artigo hoje no Estadão. Quando a censura e o autoritarismo prevalecem em um regime ditatorial, ficam evidentes demais para serem confundidos com qualquer outra coisa. Mas em regime supostamente democrático, confundem-se muitas vezes com valores nobres, e se tornam mais perigosos, pois dissimulados.

Após relatar um caso de censura em um jornal do Paraná, o jornalista cita o caso do vandalismo nas manifestações e da estratégia de Gramsci para corroer a democracia de dentro. Ele diz:

O vandalismo dos mascarados, não obstante seu discurso pretensamente libertário e confrontador do sistema vigente, é tudo menos democrático. Os mascarados não representam os brasileiros indignados que ocuparam praças e avenidas em junho. É água e vinho. No Rio grupos de encapuzados queimaram a Bandeira do Brasil, semearam pânico e destruíram patrimônio público e privado. Eles não têm a cara do nosso país e da nossa gente. Ao contrário. Com seu radicalismo antissocial alimentam os delinquentes da política e fortalecem os ímpetos repressivos. Os caciques de Brasília vibram com a desqualificação das passeatas. E o coro em defesa da repressão aos baderneiros aumenta a cada nova arruaça. O radicalismo, conscientemente ou não, sempre conspirou contra a democracia. Tirem a máscara! A defesa das ideias demanda transparência.

[…]

O que se viu no transe da ditadura foi o germinar de duas tendências opostas: liberdade X autoritarismo. Os democratas partiram para a luta contra a ditadura, mas sempre apontando para o horizonte de um regime aberto. Outros partiram para a clandestinidade. Passaram-se muitos anos. A guerrilha foi substituída pelos ensinamentos de Gramsci, pela força do marketing político e pela manipulação populista das massas desvalidas. Mas a alma continua a mesma: autoritária. A hipótese de que caminhamos para um projeto antidemocrático não se apoia apenas na intuição e na experiência da História. Ela está gritando na força inequívoca dos fatos. Censura e violência são a marca registrada do autoritarismo. Sempre!

É preocupante o horizonte da democracia brasileira. Um país com imprensa fustigada, oposição esfacelada e acovardada, percepção crescente de impunidade é tudo menos uma democracia. Cabe-nos resistir, como no passado, com as armas do profissionalismo, da ética inegociável e da defesa da liberdade. A democracia pode cambalear, mas sempre prevalece.

São alertas fundamentais nos dias de hoje. Infelizmente, tenho sérias dúvidas quanto ao desfecho otimista. Nem sempre a democracia prevalece. Vide a Venezuela e até a Argentina, em exemplos mais recentes e próximos. A defesa da democracia é uma luta constante, eterna e inacabada. Sempre haverá inimigos poderosos atuando contra ela. São ainda mais perigosos quando vestem a capa de democráticos. Acorda, Brasil!

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]