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Em que planeta vive Bresser-Pereira?
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A esquerda tem a esperança, seguindo os ensinamentos de Goebbels, de que uma mentira possa se tornar verdade após muita repetição. Só posso pensar nisso ao ler o artigo de Bresser-Pereira na Folha hoje, uma vez mais batendo na tecla de que a crise de 2008 foi culpa do “liberalismo” e que a solução é o “desenvolvimentismo”. Diz o economista:

Terá sido essa crise suficientemente poderosa para modificar o capitalismo? Sim. A crise determinou o fim dos 30 Anos Neoliberais do Capitalismo (1989-2008).

Poucos continuam hoje a afirmar que o mercado é capaz de regular toda a economia com eficiência, e, portanto, que é recomendável tudo desregular, liberalizar, privatizar.

As teses liberais foram novamente desmentidas, e o liberalismo econômico foi mais uma vez desmoralizado, em conjunto com a teoria econômica neoclássica que lhe servia de legitimação “científica”.

No auge da crise ficou claro para todos que o Estado é a instituição fundamental de cada nação. Que nos momentos de crise, é com ele que a nação conta. Que a regulamentação e intervenção moderadas que pratica são fundamentais para o bom funcionamento da economia.

Se ao menos essas acusações tivessem algum elo com a realidade! O fato é que no epicentro da crise estavam setores bastante regulados, empresas de crédito imobiliário que mais pareciam estatais de tantas regalias e privilégios, o próprio governo estimulando o crédito para pessoas de baixa renda, e vários órgãos reguladores que deveriam cuidar da saúde financeira desses setores.

As impressões digitais do governo estavam em todas as cenas do crime! Já expliquei isso em maiores detalhes aqui. É impossível ter acesso a esses dados e insistir na tese de Bresser-Pereira, sem apelar para o má-fé ou sem ser vítima de profundo preconceito ideológico. Mas como fica claro, Bresser-Pereira coloca sua fé ideológica acima dos fatos, ou então não goza de honestidade intelectual.

O economista chega ao absurdo de afirmar que o grande problema da Europa é o euro, e não seu modelo falido de welfare state. Será que a Grécia estaria bem se tivesse o dracma e pudesse imprimir moeda à vontade? Será que a França precisa apenas desvalorizar sua moeda para ser mais competitiva, e não reformar suas leis trabalhistas absurdas e reduzir sua insana carga tributária?

Desenvolvimentistas como Bresser-Pereira pensam que tudo se resolve com desvalorização cambial e gastos públicos. Sofrem de estatolatria e não entendem como a economia realmente funciona. Vejam o grau de incoerência a que chega o autor:

Sem alarde, sem discursos ideológicos, o que vemos é o abandono do liberalismo econômico e o fortalecimento do desenvolvimentismo. Em lugar do agressivo laissez faire neoliberal, os Estados voltam a se preocupar em defender suas empresas e promover o desenvolvimento.

Os governos dos dois países onde nasceu o neoliberalismo –EUA e Reino Unido– decidiram promover sua reindustrialização, algo impensável há dez anos, quando se afirmava que o mercado se encarregava de alocar os fatores de produção de forma sempre ótima.

A Rodada Doha foi abandonada. As medidas de proteção comercial se multiplicam em todos os países.

Em primeiro lugar, o laissez faire neoliberal (sic) não nos dá o ar de sua graça há décadas! O patamar de intervenção estatal, mesmo nos Estados Unidos e na Inglaterra, é enorme faz muito tempo. Como alguém pode ignorar isso dessa forma escancarada?

Em segundo lugar, os EUA não está defendendo “suas empresas” para promover o desenvolvimento; o governo, é verdade, ajudou algumas empresas durante o auge da crise, sob críticas de liberais, mas já está se desfazendo das ações compradas, pois não pretende adotar um modelo de controle estatal da economia.

Vale notar que a grande revolução industrial americana tem se dado no setor de petróleo e gás, graças ao avanço tecnológico de fracking na exploração o shale gás, o que não tem absolutamente nada a ver com o papel do estado. Ao contrário: se dependesse do estado, energias alternativas é que estariam “bombando”. Mas a mão estatal produziu escândalos como o da Solyndra…

Por fim, como pode o economista celebrar o fechamento comercial em pleno século 21? Aplaudir medidas de “proteção” comercial é temerário e irresponsável. Foi essa escalada protecionista que afundou o mundo na década de 1930. Hoje, apesar de algum retrocesso na abertura comercial, os países têm evitado medidas mais drásticas, que Bresser-Pereira parece defender.

Todas essas besteiras proferidas por Bresser-Pereira deveriam ser simplesmente ignoradas, até porque seu legado de homem público liderando planos econômicos, convenhamos, não é dos melhores. Mas o fato é que essas ideias absurdas e equivocadas ainda encontram muito eco, especialmente em gente do governo, e estão em destaque o principal jornal do país. Só por isso precisam ser rebatidas e expostas como aquilo que representam: a eterna insistência no atraso, tão comum no Brasil.

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