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Le Capital: o “Wall Street” francês
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Acabo de ver o filme francês “Le Capital”, dirigido por Costa-Gravas. Ossos do ofício. Trata-se de uma versão parisiense do filme “Wall Street”, de Oliver Stone, onde o capitalismo, especialmente o lado financeiro, é exposto como um sistema totalmente injusto e explorador. Banqueiros são seres abjetos que merecem um lugar bem especial no inferno dantesco.

Vamos lá: o filme é bom, preciso confessar. Os franceses estão aprendendo a fazer cinema para o público, não apenas para os próprios produtores e seus amigos pseudo-intelectuais (tudo pago pelo público por meio de impostos, naturalmente). De olho no consumidor, os filmes têm melhorado, ficado menos arrastados e maçantes. Mas a mensagem…

Orçado em 8 milhões de euros, o filme simplesmente detona o capitalismo. Não que aquilo retratado no filme não exista; mas é que pega uma exceção e transforma em regra, de forma totalmente caricatural. O mundo das finanças é cruel, especuladores só pensam em ferrar os outros, banqueiros são mafiosos, ninguém liga para os pobres, a insensibilidade é total: eis o retrato do sistema capitalista.

Os americanos, então, nem se fala! Em filme francês não poderia faltar esse toque de antiamericanismo. O capitalismo caubói é o pior de todos, e os ianques só pensam em lucrar para ontem, e dane-se o resto. A cultura e as políticas sociais francesas teriam que desaparecer para a lucratividade do banco aumentar um pouco. É só o que importa.

Você sai do filme sem ter a menor ideia de que as leis trabalhistas francesas jogam milhões no desemprego, que o custo social é um entrave para o progresso, que o doce estilo de vida da elite francesa acaba sendo responsável, em parte, pela falta de dinamismo econômico que gera riqueza e empregos de verdade. Nada disso. Banqueiros são gente ruim, os americanos são os piores, e por isso há desemprego.

Em uma cena de total proselitismo, o ator principal, muito bom por sinal, está em almoço de família debatendo com o tio socialista. O tio é sensível, preocupa-se com os pobres, e pergunta como ele consegue dormir sabendo que seus milhões são fruto da exploração da pobreza.

O “defensor” do capitalismo no filme diz que eles, os ricos capitalistas, conseguiram aquilo que os socialistas sonhavam com a Internacional: tudo foi globalizado e as crianças tinham acesso a brinquedos. O tio retruca que à custa do trabalho infantil, e o nosso anti-herói sai derrotado. Não antes de observar que todas as crianças da casa, que antes brincavam alegres no quintal, agora estão sentadas com seus eletrônicos isoladas, cada uma num canto.

Não adianta: o capitalismo, a globalização, o sistema financeiro, tudo isso é o terror da humanidade. A funcionária romântica do banco usa todos os clichês para descrever o sistema: ditadura do mercado, especuladores insensíveis que só querem enriquecer seus acionistas enquanto demitem as pessoas.

A própria caricatura marxista do capitalismo, que ainda vende bem em pleno século 21. Não me entendam mal: sou o primeiro a criticar o hiper-financismo do capitalismo moderno, em boa parte estimulado pelos governos e seus bancos centrais. Também consigo ver o lado ruim das novas tecnologias, que algumas vezes afastam as pessoas, deixando-as “juntas sozinhas”.

Mas calma lá! Pegar excessos e transformá-los na regra é difamar o sistema responsável pela prosperidade de centenas de milhões de pessoas. O capitalismo é a melhor coisa que aconteceu para os mais pobres. Focar em quem perde o emprego no processo de livre concorrência, e ignorar toda a riqueza e os empregos gerados é mirar em um fruto podre e desprezar toda a colheita saudável.

Só faz isso quem está disposto, previamente, a condenar o sistema, por puro preconceito ideológico. Ou, claro, quem está de olho em bons lucros vendendo tal mensagem aos demais, ávidos por ela, seja por culpa pela própria riqueza, seja por ressentimento pela riqueza alheia maior. O que me remete ao local onde vi o filme: sala Vip, com o ingresso pelo dobro do preço quase. Nada mais esquerda caviar, não é mesmo?

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Notem que ainda fui de vermelho para me disfarçar e me misturar à esquerda caviar. É chique criticar o capitalismo depois de pagar R$ 40 para ver um filme no maior conforto que só o capitalismo pode oferecer aos simples mortais (o socialismo pode oferecer luxo, mas só para a nomenklatura, à custa do povo).

Ao término do filme, nosso anti-herói se declara um Robin Hood dos ricos, garantindo que vai continuar tirando dos pobres para dar aos ricos. Recebe uma grande salva de palmas, e diz para nós, espectadores: “São como crianças e vão continuar jogando até tudo explodir”.

É essa a mensagem do filme. Riqueza é jogo de soma zero, e os ricos são ricos porque exploram os pobres. Para absorver essa mensagem, você precisa desembolsar uma boa grana para que o estúdio, o diretor e os atores acumulem um pouco mais de capital, pois ninguém é de ferro…

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