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Lucro ou vida? Ambos!
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O tema da saúde pública suscita muitos debates acalorados, mas com pouca luz. É que as emoções costumam turvar a razão. Comentei aqui, com base na crise da Santa Casa, a ideia liberal de o estado cuidar apenas da saúde básica e emergencial, deixando o restante para o próprio mercado.

Posso adiantar muitas críticas do tipo: quem vai cuidar da saúde dos mais pobres? E se a pessoa não tiver dinheiro para um tratamento mais complexo? Você coloca o lucro acima das vidas humanas? São questões válidas, mas que sem o devido cuidado desembocam em um sensacionalismo demagógico.

Pela mesma linha, poderíamos argumentar que o estado deve cuidar da produção de alimentos, para “garantir” alimentação adequada para todos. Nem preciso dizer que os regimes comunistas fizeram exatamente isso, e o resultado foi a morte de milhões por inanição. Aqui mesmo, no Brasil, o programa Fome Zero de Lula foi um fiasco.

Não devemos monopolizar os fins nobres, e sim debater com seriedade os melhores meios para tais fins. Todos desejam um acesso aos tratamentos disponíveis para a maior quantidade possível de gente. Todos gostariam de ver a população mais saudável, podendo levar uma vida mais digna. A questão é: como?

Resgato, para reflexão, um texto antigo em que falo da falsa dicotomia “lucro ou vida”, com base no exemplo do setor farmacêutico. Alguém acha que o mundo estaria melhor se o estado fosse o produtor de remédios?

O Lucro e a Vida

“O lucro é como o oxigênio, a comida, a água, e o sangue do corpo; eles não são o objetivo da vida, mas sem eles, não há vida.” (James Collins)

Muitas pessoas ainda enfrentam um falso dilema entre o lucro e a vida. Observam os enormes lucros das empresas, especialmente do setor farmacêutico, e comparam isso à delicada situação de muitos pobres que necessitam de remédios que poderiam salvar suas vidas, sem ter como comprá-los. Concluem, de forma precipitada, que tal quadro é injusto, e partem para a solução fácil, porém errada, de propor a redução do lucro da empresa a fim de salvar a vida do doente. Caso colocada em prática, tal medida iria somente condenar mais pessoas à morte.

Na verdade, é justamente a busca do lucro que faz com que os investidores apliquem seus recursos no setor farmacêutico. Se o retorno sobre o capital investido não for adequado, não teremos investimentos nesse fundamental setor que salva tantas vidas. Os remédios existentes não caem do céu, tampouco surgem por conta do altruísmo dos bem-intencionados. São resultado de pesados investimentos em pesquisa e desenvolvimento, em tecnologia, e é justamente o lucro que permite o reinvestimento em novos produtos.

Basta comparar a qualidade de vida nos países capitalistas com a vida na Idade Média para entender isso. No ambiente de livre mercado, com empresas privadas competindo em busca do lucro, mais e mais remédios serão produzidos, e a eficácia deles será o determinante para a sobrevivência das empresas. Logo, a sobrevivência das empresas é intrinsecamente ligada à sobrevivência dos consumidores. O lucro é o sintoma de que essas vidas estão sendo salvas, é o oxigênio das empresas que permite melhorar a qualidade de vida dos consumidores.

Somente nos Estados Unidos existem mais de 50 empresas da indústria de remédios com o capital aberto em bolsa. O valor de mercado delas, somado, ultrapassa US$ 1,2 trilhão, enquanto o lucro dos últimos 12 meses chega a US$ 50 bilhões. A Pfizer, por exemplo, lucra cerca de US$ 12 bilhões sozinha. O Viagra, que devolveu a felicidade a muitos, não cai do azul, apesar de sua cor. Empresas como a Johnson & Johnson, Pfizer, Merck & Co, Abbott Labs, Eli Lilly, Bristol Myers Squib, Schering-Plough e várias outras competem entre si, em busca dos clientes, esforçando-se para oferecer os melhores remédios do mercado.

Qualquer um que vai a uma farmácia em busca de alívio e tratamento pode verificar o que o capitalismo fez pela humanidade na questão da saúde. Aquela imensa variedade de remédios não existe por causa dos apelos românticos daqueles que pregam fins nobres, muito menos por conta de alguma nação socialista, que teoricamente coloca a vida acima dos lucros. Qual o avanço medicinal advindo da ex-União Soviética, da Coreia do Norte ou mesmo de Cuba, que muitos ainda acreditam ser um exemplo nesse campo?

O intelectual Noam Chomsky, adorado pela esquerda, possui um livro cujo título já expõe essa falsa dicotomia tão disseminada entre lucro e vidas humanas. Seu livro, O Lucro ou as Pessoas?, é uma crítica ao “neoliberalismo”, esse fantasma inexistente na América Latina mas ao mesmo tempo culpado por todos os males da região. Chomsky, que defendeu a candidatura de Heloísa Helena nas últimas eleições brasileiras e foi citado com forte empolgação por Hugo Chávez na ONU, é um socialista. Seria o caso de questioná-lo, então, sobre quantas vidas o regime socialista já salvou, já que sabemos que algo perto de 100 milhões é quanto ele tirou.

A Venezuela de Chávez pode ter petróleo, mas não deu contribuição alguma para a evolução medicinal do mundo. Os petrodólares viram armamento para sua milícia ou financiamento para seu movimento socialista na região. E pelo que consta, fuzis AK-47 não salvam vidas como os remédios dos laboratórios capitalistas em busca de lucro.

Creio que poderíamos responder então a pergunta do título do livro de Chomsky da seguinte maneira: ambos! O lucro e as pessoas! Afinal de contas, a busca pelo lucro é justamente o que possibilita o salvamento de tantas vidas. Enquanto isso, Hugo Chávez afirmou que terá o socialismo ou a morte, em seu discurso de posse. Eis mais um falso dilema, já que o socialismo leva justamente à morte, ao menos dos pobres que não fazem parte da nomenklatura. Em resumo, podemos então alterar a pergunta e colocá-la da seguinte forma: o lucro e a vida ou o socialismo e a morte? Façam suas escolhas…

Aqueles que realmente desejam levar os remédios existentes aos mais pobres e salvar vidas, deveriam pregar a redução dos impostos, que encarecem absurdamente os medicamentos, assim como um ambiente amigável aos negócios, com reduzida burocracia e estabilidade contratual, incentivando assim os investimentos das empresas neste setor. O capitalismo e o livre mercado, eis o que precisamos para salvar mais vidas! 

Rodrigo Constantino

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