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O alerta legítimo de Netanyahu. Ou: A maldição de Chamberlain
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Fonte: Folha

O discurso do primeiro-ministro israelense “Bibi” Netanyahu no Congresso americano, a convite dos Republicanos da oposição, gerou incômodo diplomático. O presidente Obama, sem ter muito o que dizer sobre os pontos em si levantados, preferiu afirmar apenas que Netanyahu não trouxe nenhuma “alternativa viável”. Pode ser. É fato que o discurso teve como principal alvo os eleitores conservadores de Israel, pois “Bibi” está em campanha. Pode ser que seu discurso não tenha trazido nada de realmente novo que o público informado desconhecesse. Mas ainda assim é um alerta legítimo.

Para começo de conversa, Netanyahu discorda de Obama e garante que deu, sim, uma alternativa prática ao acordo atual negociado pelo governo americano. Para “Bibi”, não fechar nenhum acordo no curto prazo é melhor do que ter um acordo ruim. E o acordo que Obama estaria negociando com o Irã é muito ruim, segundo o premier israelense. Afinal, por que confiar num país que já se mostrou desleal antes? Por que ser benevolente com um regime que financia o terrorismo? Por que se precipitar para fechar um acordo quando tanto está em jogo, já que todos sabem que o Irã adoraria destruir Israel?

Aos parlamentares americanos, Netanyahu disse que o pacto atual não tirará a capacidade iraniana de poder desenvolver a bomba atômica em curto prazo e defendeu que a negociação só deve terminar se o país abrir mão de financiar o terrorismo e de agredir Israel. “Propus uma alternativa prática, em que prolongamos o tempo que o Irã levará para conseguir a bomba e prevê sanções mais duras se o acordo é quebrado”, disse Netanyahu, em nota. Em seu discurso, dissecou sem rodeios o regime iraniano:

Não há internet livre no Irã, mas tuitam em inglês que Israel precisa ser destruído. O Irã tem como base o ódio, a perseguição a Israel e o antissemitismo. O histórico mostra que o Irã representa perigo para a paz mundial. Levou reféns americanos, matou centenas de soldados nas guerras, fez agressões aos demais países muçulmanos, fez ataques a judeus em Buenos Aires, tentou até matar o embaixador saudita em Washington. Precisamos nos juntar e acabar com este ódio.

Segundo o ministro de Segurança Pública de Israel, Yitzhak Aharonovitch, enquanto houver a possibilidade de Teerã produzir armas nucleares, seu governo concentrará a atenção no regime iraniano. O Estado Islâmico é uma ameaça, mas nada se compara ao regime iraniano. Em entrevista à Folha, o ministro foi bem claro ao apontar o Irã como a maior ameaça:

No momento em que eles tiverem a capacidade de se transformar numa potência nuclear, a questão passa a ser a própria existência do Estado de Israel. Nós, como povo, já tivemos uma ameaça existencial caracterizada pelo Holocausto. Inimigos nunca faltaram em nossas fronteiras. Estamos levando a sério a questão do EI: são pessoas com atitudes bárbaras, mas isso não representa uma ameaça da mesma maneira que o Irã.

O discurso de Netanyahu pode ter cunho eleitoral e foco no público doméstico. Pode também ter chovido no molhado, reforçado a ideia conhecida de que o regime iraniano é realmente perigoso. Mas nem por isso deixa de ser relevante. Afinal, o presidente Obama tem adotado postura pusilânime desde o começo do mandato, e sua visão de mundo, que inclusive nega o caráter excepcional dos Estados Unidos (ao contrário de Netanyahu), acende o sinal amarelo.

Não podemos esquecer jamais da maldição de Chamberlain. Neville Chamberlain foi o primeiro-ministro britânico que adotou a “política do apaziguamento” com os nazistas, convencido de que o povo alemão era pela paz e que a ameaça podia ser contida com diplomacia. O Acordo de Munique, assinado em 1938, fez Chamberlain ser recibo como herói em casa. Fez, então, seu famoso discurso sobre a “paz para o nosso tempo”.  Sorte dos britânicos que um “belicoso” Churchill pensava bem diferente à época. Sobre Chamberlain, ele disse: “Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra”. Sabemos quem estava certo em retrospecto.

Obama se vê como um “pacifista”, o que é simplesmente falso. Mas não resta dúvida que sua postura é mais amena do que a dos Republicanos. Ele acredita, afinal, que tudo se conquista com base na bela retórica. Resta combinar com os malucos do outro lado. A manutenção da paz não é garantida com acordos bonitos no papel, mas com a certeza de que, caso uma linha seja cruzada, a retaliação será firme. Obama não passa tal firmeza para os inimigos da liberdade.

Talvez não exista mesmo uma alternativa muito boa no momento. Talvez um acordo melhor leve mais tempo e Obama não queira isso, por questões políticas. Talvez a guerra seja a única saída a longo prazo. Não sabemos. O que sabemos é que o alerta de Netanyahu não é um simples factoide para angariar votos. “Bibi” é conhecido por sua firmeza, ao contrário de Obama, e parece realmente disposto a tudo para proteger Israel. Muitos o acham “linha dura” demais. Mas será que não aprendemos nada com a História? Será que vamos relaxar e confiar em acordos frágeis negociados entre presidentes fracos e regimes tirânicos?

Rodrigo Constantino

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