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O horror do Detran
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Em sua coluna de hoje no GLOBO, Gilberto Scofield Jr. detonou o Detran, sem dó nem piedade:

Você percebe que o serviço no Rio é um lixo quando entra em um posto de vistoria do Detran — no meu caso, o do Catete — e dá de cara com um aviso que diz que, no caso de emplacamento de carros zero, o dono tem de levar os parafusos para colocar a placa. Só pode ser pegadinha. O carioca paga uma fortuna de imposto, incluindo o emplacamento, e ainda tem de levar para o Detran o parafuso da placa?

Quando eu ainda era moleque, na década de 80, e comprava meu primeiro carro (usado), o Detran era um lugar notório por corrupção e malfeitos de todos os tipos. Lembro-me de amigos estarrecidos — a maioria classe média com ensino superior completo — quando eu dizia que cursaria autoescola e faria a prova para tirar carteira de habilitação. “Mas por que, se todo mundo compra a carteira e nem vai às aulas de direção?”, perguntavam. Sempre havia “alguém que trabalha no Detran e consegue as coisas”, diziam. Era a filosofia da esperteza e da irresponsabilidade, uma cultura ainda muito arraigada no Brasil, no geral, e no Rio, em particular. Quem não conhecia alguém no Detran era obrigado a passar por longo e sofrido processo kafkiano para resolver qualquer coisa. Ou morrer em uma grana absurda com despachantes.

Realmente, é difícil justificar o Detran. Para começo de conversa, essa coisa de vistoria anual. Os carros novos, bem cuidados, passam por um calvário para obter a licença, e às vezes um pneu um tiquinho “careca”, pela ótica um tanto subjetiva do vistoriador, é suficiente para vetar a liberação. Aí vê-se nas ruas todo tipo de “caranga” caindo aos pedaços, e nada das autoridades rebocarem essas ameaças sobre quatro rodas. Revoltante.

Tratei do caso Detran em uma das curiosidades do meu livro Privatize Já. Segue:

A máfia do Detran

Todo ano os cariocas são obrigados a enfrentar a vistoria dos veículos. Quase sempre é a mesma novela: um monte de gente reclamando, sistema de informática fora do ar, informações desencontradas, descaso com os motoristas, e horas perdidas no Detran para finalmente receber o comprovante de que o carro está em condições adequadas para circular – ainda que as ruas não estejam.

Conheço várias pessoas que não tiveram o carro aprovado por conta do farol de xênon, daquele inútil extintor de incêndio vencido, do pneu um pouco careca segundo o julgamento arbitrário do funcionário, do insufilm acima do permitido (numa cidade onde o governo não oferece segurança), de alguma pendência boba na documentação, etc. São horas perdidas em função do Detran. Quanto custa para a cidade tanto desperdício de tempo?

O brasileiro está acostumado com a principal função da burocracia: criar dificuldades para vender facilidades ilegais depois. Os casos de suborno são notórios no Detran. A “cervejinha” é costumeira quando o sujeito pode simplesmente alegar que um detalhe insignificante está fora de lugar e reprovar o documento.

A questão principal é: por que fazer uma vistoria obrigatória? Não é justamente para isso que serve a polícia? Nos Estados Unidos, o policial verifica na hora se o carro se encontra em bom estado e, caso contrário, dá uma notificação ou multa para o motorista. No limite, o veículo é rebocado.

O presidente do Detran-RJ, Fernando Avelino, vem lutando para melhorar a gestão da estatal, com algum sucesso. Ele até recorreu à consultoria do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), empresa responsável no desenvolvimento e gestão para resultados nas organizações privadas e públicas. Trata-se de iniciativa louvável, mas dificilmente os resultados serão tão revolucionários assim.

Em entrevista para o jornal Brasil Econômico, Avelino disse que “O foco da atual gestão de governo é de se aproximar da que é realizada na iniciativa privada. A meritocracia é, sem dúvida nenhuma, um dos pilares da gestão moderna”. O leitor já sabe agora porque a meritocracia funciona a contento apenas no setor privado. Avelino, apesar das boas intenções, vai enfrentar obstáculos intransponíveis na estatal.

A verdadeira solução é acabar com a vistoria obrigatória. E quem acha que o fim da vistoria representaria o caos nas ruas, com carroças caindo aos pedaços circulando por aí, eu pergunto: isso já não é a realidade atual? Alguém realmente confia no Detran para retirar esses carros das ruas? Se ainda fosse uma empresa privada cuja sobrevivência dependesse da qualidade do serviço prestado…

* * *

Como fica claro, meu ceticismo tinha fundamento. Não se revoluciona uma estatal dessa forma, pois os vícios e obstáculos estão enraizados no próprio mecanismo inadequado de incentivos. Por melhor que sejam as intenções do presidente, dificilmente ele conseguirá mudar tanto assim o atendimento e os serviços. Estatais…

Abaixo, um vídeo de desabafo sobre o mesmo tema:

httpv://www.youtube.com/watch?v=veGDSNJP2Ss

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