• Carregando...
Oposição governista ou Os excessos perigosos do pragmatismo
| Foto:

Deu no VALOR: Ruralistas veem adesão ao governo e se rebelam contra Kátia Abreu

A presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (PSD-TO), enfrenta uma rebelião no Congresso Nacional liderada por deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária, a FPA, representação que faz o lobby dos ruralistas em Brasília.

A queixa é quanto ao adesismo de Kátia ao governo da presidente Dilma Rousseff. O que, na visão da FPA, tem prejudicado o avanço das reivindicações do setor no Legislativo e no Executivo. Diante disso, os parlamentares passaram a buscar apoio das federações estaduais de agricultura e a pensar em montar uma chapa de oposição a Kátia nas próximas eleições da CNA, em setembro de 2014.

[…]

Na FPA, há quem veja a ligação dela com a presidente como um ativo em potencial para beneficiar o setor – contanto que os ajustes sejam feitos. É com esse objetivo que nos próximos dias parlamentares tentarão reaproximar as duas entidades. Há uma avaliação de que um núcleo duro na FPA é mais radical e ativo, mas não necessariamente representa o pensamento da totalidade de seus 214 deputados e 14 senadores. Nesse sentido, atribuem o embate muito mais ao fato de Kátia estar próxima a uma presidente do PT do que sua atuação em si na CNA.

Também há a avaliação de que o setor, em conflito interno, tem como maior prejudicado o próprio setor. “Não é o momento de nos dividirmos. O jogo não é esse. É burrice esse enfrentamento. Críticas podem existir, mas devem permanecer interna corporis”, disse o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado. O presidente em exercício da FPA, Luis Carlos Heinze (PP-RS), vai no mesmo sentido. “Temos que alinhar algumas ações, sim, mas não entrar em disputa. A FPA tem que agregar as instituições, não dividir. Temos que juntar nossas forças. Nossa bandeira é a agricultura.” 

Confesso nutrir algum respeito pela senadora Kátia Abreu. É tão difícil encontrar uma pessoa com coragem de defender posturas impopulares contra a pressão do politicamente correto na política, que Kátia Abreu merece reconhecimento por isso. A bandeira ruralista, apesar de o setor agropecuário ser um dos grandes responsáveis pelo crescimento econômico brasileiro dos últimos anos, não goza de muita estima na era do ambientalismo transformado em seita religiosa.

Além disso, Kátia Abreu usa sua coluna na Folha para escrever, quase sempre, bons artigos em defesa do capitalismo, da livre economia e de valores tradicionais. Ela já condenou o protecionismo,  já apontou para os absurdos antropológicos da Funai, e já mostrou a face autoritária dos ambientalistas, entre outras coisas.

Mas desde que ela migrou para o PSD, o partido de Kassab que não é de esquerda, nem de direita, muito menos de centro, uma luz amarela se acendeu. Ela chegou até a afirmar que seu alinhamento com a presidente Dilma era de ideias, após tecer elogios à presidente. O mais preocupante nisso tudo é que vamos ficando, cada vez mais, sem oposição clara e organizada. Até mesmo Guilherme Afif Domingos debandou para o governo e virou ministro de Dilma!

Tudo em nome do pragmatismo, da ideia de que é possível obter mais resultados de lá, de dentro do governo, ou mantendo ótimas relações com ele. Só que essa mentalidade, quando muito predominante, acaba por asfixiar de vez qualquer oposição. Uma enorme mancha cinzenta toma conta da política, e todos são um pouco governistas. Quem será oposição de fato?

O quadro é muito preocupante. Vide o que se passa na Argentina. A oposição praticamente desapareceu, e hoje, a grande alternativa ao governo autoritário de Cristina Kirchner é um ex-aliado, que nem discorda tanto dos fins, apenas dos meios. Oposição?

A esquerda vem tomando conta de tudo, e sua hegemonia na política nacional é evidente. Todos os principais candidatos são de esquerda. Quando até mesmo aqueles principais ícones associados ao pensamento de direita são acusados, com razão, de adesistas, é porque a coisa está feia mesmo. O Brasil precisa, urgentemente, de uma oposição a isso que está aí. E que não seja ainda mais à esquerda, como os socialistas do PSOL. Pragmatismo tem limite!

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]