• Carregando...
Reserva de mercado para dublador? Coisas de nosso querido Brasil…
| Foto:

Sou do tempo em que Herbert Richers era um companheiro diário em minha vida. Chegava da escola, almoçava, ligava a TV, e lá estava “ele”: Versão brasileira, Herbert Richers!

Soube que faleceu em 2009. Luto para minha geração. Foi um marco. Todo filme começava com esse aviso, e lá vinha a boca dos atores se mexendo, e nem sempre o som saindo. Exigir sincronia era demais. O importante é que Bruce Willis tinha a mesma voz que um desenho animado ou outro personagem qualquer. Quem liga?

Veio o progresso, a TV a cabo, o povo brasileiro aprendeu a ler (ou assim se espera), e muitos filmes, em vez de dublados, passaram a ser legendados. Milagre! A boca e o som em acordo, e finalmente passamos a conhecer a voz original dos atores. Eu sabia que a Demi Moore tinha uma voz rouca e sexy, mais condizente com sua imagem!

Mas divago. O ponto é que tem, pelo visto, a turma saudisista, que preferia os tempos em que voz e lábios se separavam no tempo.

Recebo enquete para ver se há apoio ou não para o projeto de lei do deputado João Rodrigues, de 2011, que pretende obrigar todos os filmes de TV aberta a manter dublagem, e 70% dos filmes dos canais fechados a fazer o mesmo. A justificativa é coisa linda:

Com a globalização e a difusão de diversos novos meios de comunicação – sobretudo os meios eletrônicos -, chegamos a um patamar de difusão de obras audiovisuais estrangeiras nunca dantes alcançado no País. Hoje, sobretudo por meio da TV aberta e da TV por assinatura, o brasileiro tem acesso aos mais variados conteúdos estrangeiros, entre eles diversos filmes cujo idioma original não é o português. 

Há assim, portanto, a necessidade de invervenção do poder público, para criar normas que ao mesmo tempo preservem o nosso idioma e garantam, a todos os cidadãos, o pleno entendimento dos conteúdos transmitidos por essas obras cinematográficas estrangeiras. Nesse sentido, acreditamos que a simples legendagem dos filmes não é suficiente, já que exclui um grande número de brasileiros que, seja por razões educacionais, seja por limitações visuais, não são capazes de compreender plenamente os conteúdos transmitidos nessas legendas. Além disso, a legendagem agrega pouco trabalho criativo nacional às obras estrangeiras, limitando assim a expansão da indústria criativa nacional. 

Calma. Falha minha. Sei que deveria ter recomendado aquele bom e velho Engov antes. Mas queria o impacto no leitor, sem a proteção química. É isso mesmo! Vamos obrigar todo mundo a assistir filmes dublados pois alguns não conseguem ler as legendas (que país é esse?) e também para garantir alguns empregos extras aos dubladores!

Não acabei. Tem um detalhe extra, a cereja estragada do bolo: o deputado é do DEM! Isso mesmo, aquele partido que supostamente é de centro-direita, com maiores inclinações liberais em meio a essa hegemonia de esquerda. E ainda querem saber porque temos um estado tão obeso e intervencionista no Brasil?

O deputado pode pedir que algum dublador do lobby organizado traduza e leia essa mensagem em voz alta para ele:

Get a life! Try to find something else to do with your spare time to justify your high salaries. But please: leave us alone! We don’t need your help. We can read. Many of us can understand english. And, above all, we praise our freedom of choice, something you probably never heard of! Regards, Rodrigo.

Em tempo: deveríamos estar ensinando inglês a todas as crianças desse país, mas, em vez disso, estamos apresentando projetos de lei que visam a “proteger” as pessoas do contato com a língua universal da modernidade. Não é fantástico?

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]