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Será que o mundo ainda vai sentir saudades do caubói beligerante George W. Bush? Ou: Cão que late não morde…
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Quem acompanha meus escritos há mais tempo sabe que nunca simpatizei com George W. Bush. É verdade que os ataques que recebia da esquerda eram tão odientos e hipócritas que por vezes me senti compelido a defendê-lo, mas sempre o vi como um ícone perfeito do “neoconservadorismo” que condeno.

Quando o rei da retórica sensacionalista e ícone da esquerda caviar, Barack Obama, assumiu o poder, logo pressenti que sentiria saudades de Bush. Obama é daqueles que deseja “dialogar” com todos, assim como um músico brasileiro, que gostaria de tomar uma cerveja com os bandidos que lhe deixaram numa cadeira de rodas.

No âmbito doméstico, os liberais e conservadores costumam compreender que a negligência com marginais é um dos maiores incentivos ao crime. “Quem poupa o lobo mata as ovelhas”, disse Victor Hugo. Incentivos importam, e a impunidade é um convite ao crime. Apenas quando os bandidos sabem que haverá punição eles pensam duas vezes antes de agir.

Transportando tal reflexão para o nível global, alguém – ou algum grupo – terá de fazer o papel de “polícia mundial”. Não é agradável. Nem para os outros povos, forçados a engolir a supremacia de um ou poucos países, nem para seus cidadãos, que devem pagar a pesada conta disso.

Mas geopolítica não é coisa de criança, e como diz o ditado, “se não sabe brincar não desce para o play”. Em linguagem usada por Truman, se você não aguenta o calor saia da cozinha. Nos bastidores, é realista assumir que haverá, sim, alguns estados com o papel de impor certa ordem mundial. A anarquia é bela só na teoria.

Os impérios sempre tiveram essa função. A Pax Romana, a Pax Britânica, etc. Os navios da poderosa marinha britânica, ridicularizados em filmes como Piratas do Caribe, tinham a clara obrigação de lutar contra a pirataria e o caos nas águas globais. Abusavam do poder, é verdade. Mas ruim com eles, pior sem eles.

Tudo isso foi para chegar ao caso Crimeia. Putin, que considera a queda da União Soviética uma das maiores desgraças do século 20, uma espécie de czar moderno, um sujeito que aos 32 anos já era diretor importante na sombria KGB, o responsável pela morte da jovem democracia russa, esse mesmo Putin resolveu ignorar os alertas do Ocidente e anexar a Crimeia, com um plebiscito feito sob pressão.

Abro aqui um parêntese: sou, teoricamente, favorável ao direito de secessão. Acho que um povo – ou uma ampla maioria dele – tem o direito de escolher fazer ou não parte de um estado-nação. Desde que isso seja feito de forma legítima, claro. Fecho o parêntese.

Como negar que a ousadia de Putin tem ligação com a covardia de Obama? O presidente americano, não vamos esquecer, alertou que a ditadura da Síria não poderia cruzar a linha e apelar para armas químicas, ato feito impunemente. Cão que late não morde, diz outro ditado. Quando o presidente mais poderoso do mundo confunde sua bela retórica de jardim de infância com a realpolitik, temos um sério problema de credibilidade. A Pax Americana fica ameaçada.

Foi assim na época do outro covarde adorado pelas esquerdas do mundo todo e pela turma dos “direitos humanos”, Jimmy Carter. Os bandidos globais se sentiram encorajados para avançar, sabendo que do lado da potência americana havia um banana. Sorte que veio Reagan colocar ordem em seguida…

Não tenho dúvida de que os chineses do PCC já devem estar pensando com mais carinho no velho sonho de anexar Taiwan, sonho impedido justamente pelo receio de que os americanos estariam lá para defender a formosa ilha. Também tenho certeza de que o maluco nuclear norte-coreano, defendido por nossos comunistas, deve estar se sentindo no direito de fazer algum blefe novo.

É esse o custo real de uma potência fragilizada. O antiamericanismo por décadas alimenta a ideia de que é terrível viver num mundo unilateral, mas alguém realmente acha que é melhor ter potências como Rússia, Irã e China mais assanhadas e ousadas? Alguém acha que a ONU vai proteger a liberdade no mundo? Risos…

O relativismo exacerbado da modernidade impede muita gente de reconhecer o óbvio: no mundo, como em cada país, o cinza pode até existir e ser predominante, mas claramente há o joio e o trigo. Os relativistas combatem o “maniqueísmo”, alegando que não existe essa coisa de bandido e mocinho. Alguém está disposto, hoje, a sustentar que na Guerra Fria não havia claramente um lado certo e outro errado? Como seria o mundo se a União Soviética fosse vencedora, e não os Estados Unidos?

Enfim, são questões inquietantes que trago aqui para a reflexão de todos os leitores. Confesso perder algumas noites de sono quando penso que a Pax Americana depende da coragem de alguém como Obama para reagir com firmeza contra líderes autoritários, imperialistas e armados com ogivas nucleares.

Rodrigo Constantino

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