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Siemens, cartéis e as quatro formas de gasto
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Ainda há muito que ser investigado nesse caso de denúncia de cartel no metrô paulista. Incomoda também o “vazamento seletivo” de informações pelo Cade. Sabemos como o PT tem verdadeira obsessão pela conquista do governo paulista, até hoje um obstáculo importante ao avanço do lulopetismo no país.

Dito isso, confesso que minha impressão é a de que deve ter ocorrido algum esquema de corrupção mesmo. Isso seria o mais provável, em minha opinião. Afinal, as principais causas da corrupção são impunidade e grande concentração de recursos e poder no estado. Temos as duas coisas, em grande escala.

Quem melhor explicou isso foi, para mim, o Prêmio Nobel de Economia Milton Friedman. Quando ele descreveu as “quatro formas de gasto”, a clareza da ideia penetrou em muitas cabeças. Em meu livro Privatize Já, resumi seu ponto de vista:

O famoso economista da Escola de Chicago, o Prêmio Nobel Milton Friedman, definiu quatro formas existentes de se gastar dinheiro.

A primeira delas é gastar o próprio dinheiro consigo mesmo. Trata-se da forma básica do dia a dia, no livre mercado, quando pegamos o nosso salário e vamos às compras. Escolhemos os alimentos que desejamos, os produtos eletrônicos que gostamos, os filmes que queremos ver. Nesta primeira forma, há total foco tanto no conteúdo como no custo daquilo que adquirimos. Somos nós quem pagamos a conta, e somos nós quem usufruímos do que compramos.

Uma segunda forma é quando usamos o nosso dinheiro parar comprar algo para terceiros, como um presente. Parece natural que o foco no custo continue enorme, mas o foco no conteúdo já fica um pouco enfraquecido, especialmente se o presente for para um conhecido mais distante. Ele sempre poderá trocar o presente, e eu não sei dizer tão bem quanto ele quais as suas preferências. Quanto mais distante for o destinatário do presente, menor o meu interesse em seu conteúdo.

A terceira forma de gasto é usar o dinheiro de outros para comprar coisas para os outros. Se não sou eu quem paga o custo, nem sou eu quem aproveita aquilo que foi comprado, parece bastante lógico que não vou me importar tanto nem com o conteúdo nem com o preço. Esta forma representa o grosso dos gastos públicos. Os políticos usam o dinheiro da “viúva” e compram bens e serviços para terceiros. Alguém pode ficar surpreso com a qualidade altamente questionável e os preços exorbitantes que pagam?

Mas há ainda a quarta e última forma de gasto, que merece atenção especial. Ela ocorre quando gastamos o dinheiro dos outros, mas para comprar algo para nós mesmos. Ou seja, você escolhe o presente que quiser, e outro vai bancar a conta. Ninguém pode negar que há aqui um enorme incentivo à irresponsabilidade em relação ao custo, e total foco no conteúdo.

Esta forma também representa boa parte dos gastos públicos, quando políticos usam nossos impostos para bens e serviços que eles serão os usuários. Compreendendo isso, alguém ainda fica boquiaberto com gastos milionários em cartões corporativos do governo para viagens fantásticas, jantares de luxo, carros maravilhosos alugados e tantas outras regalias que só gente do governo pode ter sem se preocupar com os custos da farra toda?

Portanto, da próxima vez que você ler uma notícia sobre estatais pagando o triplo para uma empreiteira, ou sobre deputados que usam apartamentos em Brasília para guardar entulho, não se espante: episódios assim são a regra, não a exceção.

Precisamos atacar o mal pela raiz. A briga entre PT e PSDB é a superfície do problema, e não tenho dúvida de que o PT é um partido muito pior, justamente por ter uma voracidade maior nesse avanço sobre o estado. Nós temos que reduzir o tamanho do estado, e garantir a punição aos que forem pegos em delito. Sem isso, vamos trocar uns pelos outros, e a corrupção vai continuar.

O editorial do GLOBO faz um alerta importante:

Se houve dolo na operação em São Paulo, tucanos precisarão, da mesma forma, ser investigados, denunciados, julgados e, se for o caso, condenados.

Quando partidos da situação e oposição se nivelam por baixo, é preciso que os organismos de Estado — Justiça, Ministério Público, Polícia — continuem a agir, e cada vez mais, para, juntos com o eleitorado, sanear a vida pública.

Mas faltou dizer o mais importante: é preciso reduzir a quantidade de recursos que passa pela via pública!

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