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Túnel do tempo – Lula e a autossuficiência de petróleo
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Em nossa série “Túnel do tempo” de hoje vamos regressar a 2006. É a inauguração da plataforma P-50 na Bacia de Campos. Repetindo o gesto de Getúlio Vargas, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva suja sua mão de óleo negro e posa para a foto:

Havia motivo para tanta celebração ufanista. Ou ao menos assim pensava o presidente. A P-50 era o marco tão esperado pelos nacionalistas desde que a Petrobras foi fundada, em 1953. Finalmente, após mais de meio século, a estatal, que gozara de monopólio absoluto no setor por quase todo esse tempo, chegaria a autossuficiência na produção de petróleo.

“O petróleo é nosso!”, bradaram todos os nacionalistas, de esquerda e de direita, por décadas. E agora, com a inauguração dessa grande plataforma, o país seria capaz de produzir a mesma quantidade consumida do ouro negro e seus derivados.

Não bastava celebrar a redução da necessidade de importação do importante produto; era preciso dar um tom todo especial a isso. O presidente Lula, então, chamou a conquista de “independência” e a comparou ao esforço de Tiradentes, que “ousou desafiar a idéia de que o Brasil não poderia ser independente”. A esquerda nacionalista foi à loucura.

Mas era tudo prematuro demais. O cheiro de demagogia tomou conta do lugar. Lula teria, pelo visto, cantado vitória muito antes do tempo. Avançando para os dias de hoje, como está essa questão de autossuficiência do petróleo? Vejamos alguns dados do último balanço disponível da Petrobras:

Como fica claro acima, a Petrobras ainda precisou importar 400 mil barris/dia de petróleo e derivados no primeiro semestre desse ano. Houve paradas programadas na produção, mas explicam apenas parte do problema. A tendência é de alta na necessidade de importação de petróleo.

Vendo de outra forma a mesma coisa, a Petrobras utiliza praticamente toda a sua capacidade instalada, mas mesmo assim só é capaz de atender cerca de 80% da demanda. O restante tem que ser suprido pela importação mesmo.

Que fique claro o seguinte: a autossuficiência em si não é o mais importante. Isso é mentalidade mercantilista. Países desenvolvidos importam petróleo sem problemas, e focam naquilo que são mais competitivos. Por outro lado, países exportadores de petróleo muitas vezes são atrasados, corruptos e vítimas de regimes autoritários. Essa obsessão com o óleo viscoso é puro fetiche irracional.

Dito isso, claro que seria bom para o país ter um setor de petróleo mais dinâmico, com várias empresas privadas competindo para explorar nossos recursos naturais. Seriam mais divisas, mais dólares exportados permitindo a importação de outros bens e serviços.

O então presidente Lula não explorou essa visão racional da globalização quando comemorou (precipitadamente) a nossa autossuficiência. Para ele, era uma conquista análoga à independência. Agora sim, o Brasil ficaria livre da necessidade de importar petróleo!

Sete anos depois… ainda temos de importar 20% do que consumimos, pois a produção da Petrobras não consegue crescer no ritmo da demanda. Cresce pouco mais de 2% ao ano desde que o PT assumiu o poder, uma taxa medíocre.

Como podemos ver, nada mais incômodo para populistas de plantão do que os fatos históricos. Nosso “túnel do tempo” está aqui para isso.

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