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Vigia de refeitório
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Imagino que o leitor não faça a menor ideia do que seja isso. Eu tampouco fazia. Até porque desconheço empresas privadas que tenham algum “vigia de refeitório”. Mas a estatal Infraero tem, como mostra a Folha:

No primeiro andar de Congonhas, um funcionário fica postado diante de uma maquete do aeroporto. A função dele: observar quem entra e quem sai do refeitório de funcionários, como uma espécie de vigia -que não precisar checar o crachá de ninguém.

O posto de “vigia” de refeitório, criado há poucos meses, é reflexo do inchaço de funcionários da Infraero em Congonhas. Eram 336 trabalhadores em dezembro -em junho, o número subiu para 573.

O aumento, de 70,5%, ocorre por conta da concessão à iniciativa privada dos aeroportos de Cumbica (Guarulhos) e Viracopos (Campinas). Parte dos funcionários desses locais ou não foi aproveitada pelos novos administradores ou não quis continuar lá.

Resultado: todos foram alocados em Congonhas e no Campo de Marte, aeroporto na zona norte de São Paulo exclusivo para aviões particulares. Ali, o número de trabalhadores passou de 45 para 93.

Em Congonhas também dobrou o número de atendentes nos balcões de informações; eram dois, agora são quatro por turno.

Não há novidades aqui. Estatais são conhecidas como verdadeiros “cabides de emprego”. O quadro é inchado pois quem paga a conta somos todos nós, e quem cuida da verba são eles, os que se beneficiam da empresa estatal. Sem o devido escrutínio de sócios preocupados com o lucro, as estatais acabam inchando o quadro de pessoal.

Em meu livro Privatize Já, explico em detalhes porque essa é a regra, não a exceção, no setor público. Aproveito a quebra entre um capítulo e outro para reproduzir aquela antiga piada dos dois leões que desapareceram. Lá vai, de brinde aos leitores do blog:

O principal funcionário de uma estatal

O programa humorístico A Grande Família, da Rede Globo, mostra a luta quixotesca de Lineu para fazer seu trabalho de forma honesta e eficiente. Lineu, personagem de Marco Nanini, é um agente de vigilância sanitária em uma repartição pública. O problema é que inúmeros obstáculos surgem em seu caminho, a começar pelo seu chefe, o Mendonça. Pouca gente ali quer saber de trabalhar pesado. A turma gosta mesmo é de jogar conversa fora e manter o emprego estável e garantido de funcionário público.

O drama representa a realidade da imensa maioria das repartições públicas. Sem dúvida existem os Lineus país afora, tentando executar seriamente suas funções. Só que os Mendonças estão sempre em maior número. E costumam ser os chefes.

O mecanismo de incentivos garante isso. Os chefes acomodados promovem aqueles que possuem maior afinidade com ele, não os mais eficientes. Estes correm até o risco da hostilidade dos companheiros, caso resolvam chegar mais cedo, sair mais tarde e efetivamente mostrar serviço. A cultura nacional absorveu tão bem esta triste realidade que até a transformou em piada.

Dois leões fugiram do Jardim Zoológico. Na fuga, cada um tomou um rumo diferente. Um dos leões foi para as matas e o outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões por todo o lado, mas ninguém os encontrou.

Depois de um mês, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas. Voltou magro, faminto. Assim, o leão foi reconduzido à sua jaula. Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrou do leão que fugira para o centro da cidade, quando um dia, o bicho foi recapturado. E voltou ao Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde.

Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para a floresta perguntou ao colega:

– Como é que conseguiste ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com saúde? Eu, que fugi para a mata, tive que voltar, porque quase não encontrava o que comer!

O outro leão então explicou:

– Enchi-me de coragem e fui me esconder em uma repartição pública. Cada dia comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.

– E por que voltaste então para cá? Tinham acabado os funcionários?

– Nada disso. Funcionário público é coisa que nunca acaba. É que eu cometi um erro gravíssimo. Já tinha comido o diretor geral, dois superintendentes, cinco adjuntos, três coordenadores, dez assessores, doze chefes de seção, quinze chefes de divisão, várias secretárias, dezenas de funcionários e ninguém deu por falta deles. Mas, no dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho… Estraguei tudo!

Moral da história: nunca coma o sujeito que serve o cafezinho em uma repartição pública.

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