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Maria Eduarda passou a ter uma nova vida depois da bomba de insulina. Devido ao preço alto, Justiça determinou que Estado cubra os custos do seu tratamento | Daniel Caron/ Gazeta do Povo
Maria Eduarda passou a ter uma nova vida depois da bomba de insulina. Devido ao preço alto, Justiça determinou que Estado cubra os custos do seu tratamento| Foto: Daniel Caron/ Gazeta do Povo

Invenções

Veja algumas inovações que auxiliam os diabéticos no cotidiano:

• Smart pumps: essas bombas chamadas de "inteligentes" têm sensor subcutâneo em tempo real, o que possibilita a correção da hiperglicemia e da hipoglicemia. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve autorizar o equipamento para venda no Brasil em 2013, mas brasileiros já usam graças à liberação na Argentina. A bomba custa R$ 15 mil e a manutenção chega a R$ 1 mil por mês.

• Bombas patch: o aparelho não tem fio. O dispositivo grudado ao corpo mantém o reservatório de insulina próximo à mão do paciente. O controle se dá por aparelho externo ou celular, com um software que pode ser facilmente baixado. Não há previsão para o produto chegar ao Brasil.

• Medidores ligados ao smart­­phone: Europa e EUA já têm medidor de glicemia que pode ser conectado ao iPhone e passa o resultado para o smartphone. Gráficos mostram como a glicemia estava em diversos dias, além de enviar relatórios para o médico. Produto pode chegar ao Brasil em 2013.

• Sensores sem agulha: sensores de glicose já existem há mais de seis anos, mas ainda há problemas. Próximo passo são os sensores sem agulha, com medição em tempo real sem que o paciente precise se furar. Tecnologia ainda está sendo desenvolvida.

• Tatuagem: estudo do Massachusetts Institute of Technology pretende revolucionar a medição de glicose. Uma espécie de tatuagem, feita com nanopartículas que reagem à glicose emitindo luz, serviria de sensor para medir a glicemia. A luz emitida pela tatuagem seria contabilizada. A tatuagem teria de ser retocada a cada seis meses.

Fonte: Mauro Scharf, chefe do serviço de endocrinologia pediátrica do Hospital Nossa Senhora das Graças, e Marcio Krakauer, editor de tecnologia do portal da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Uma vida antes e outra depois da bomba

Prestes a completar 13 anos, a estudante Maria Eduarda Mocelin Crimanácio afirma que a bomba de insulina mudou sua vida. Ela, que descobriu a diabete tipo 1 aos 8 anos, já é craque nas trocas de cateter e agulhas, apesar de usar o aparelho há apenas dois meses. O equipamento foi indicado porque sua diabete é de difícil controle. O aparelho possui controle por bluetooth onde ela digita a quantidade de carboidratos que pretende comer.

A máquina faz a conta de quantas unidades de insulina ela precisa, de acordo com a programação do médico, e envia a informação para a bomba mantida no corpo. "Costumo dizer que tivemos uma vida antes e outra após a bomba de insulina", diz a mãe dela, a pedagoga Juliana Valli Mocelin Criminácio.

Os hábitos da família mudaram. Tabelas de contagem de carboidrato estão presentes em diversos lugares, incluindo o carro e a casa da avó. "Em comidas do dia a dia, eu já sei de cor o número de carboidratos presente. Você acaba se acostumando", conta Maria Eduarda.

Antes da bomba, Maria Eduarda usava as canetas aplicadoras, mas por sua diabete ser considerada hiperlábil, ela convivia com internações. Em casos como esse, a bomba é a forma de tratamento mais indicada. Mas os custos são altos. "Se fosse só a bomba, nós íamos atrás do dinheiro. Porém, há custos de manutenção, que são para o resto da vida." A bomba custa no mínimo R$ 12 mil e uma caixa com dez cateteres, que dura um mês, custa R$ 600. Além disso, há os gastos com a insulina, trocada a cada três dias, juntamente com o cateter.

Os pais conseguiram uma liminar na Justiça que obriga o Estado a arcar com o tratamento em função do histórico de internações de Maria Eduarda. A bomba e as manutenções são pagas pelo Estado por prazo indefinido, que deve ser prorrogado a cada ano.

Novas tecnologias – que vão de bombas de insulina com controle bluetooth a medidores de glicemia que se conectam a smartphones – têm mostrado que há maneiras mais confortáveis do que as velhas picadas de agulha para controlar a diabete, cujo tratamento dura a vida toda. Os novos equipamentos foram apresentados dia 23 de março no 2.º Congresso La­­tino-Americano sobre Controvérsias e Consensos em Diabete, Obesidade e Hi­pertensão, no Rio de Janeiro.

Um exemplo das novidades é a evolução rápida das bombas de infusão de insulina. Elas substituem as injeções, com uma bomba ligada ao corpo por um cateter e uma agulha, inserida na região subcutânea. O equipamento tenta imitar o funcionamento de um pâncreas comum, mas a cada refeição o paciente é responsável por informar a contagem de carboidratos e programar o aparelho.

O endocrinologista e editor de tecnologia do portal da Sociedade Brasileira de Diabetes, Marcio Krakauer, afirma que as bombas já são usadas há dez anos no Brasil, mas o número de pacientes que optam por ela é pequeno. "Temos mais ou menos 3 mil bombas sendo utilizadas no país, mas o ideal seria que esse equipamento atingisse 10% dos pacientes com diabete tipo 1, o que equivale a 10 mil pessoas."

O chefe do serviço de en­­docrinologia pediátri­ca do Hospital Nossa Senhora das Graças, Mauro Scharf, se considera um entusias­ta das tecnologias. Ele esteve presente na 5.ª Conferência Internacional para Tecnologias Avançadas e Tratamento para Diabete, em Barcelona, em fevereiro, e voltou com várias novidades (leia mais ao lado). "A nova geração já nasce com essa facilidade de lidar com as novas tecnologias, o que possibilita uma autonomia maior", diz.

Mas Scharf considera que o grande problema é a falta de acesso dos diabéticos a essas novidades. "Eles ficam felizes com as evoluções, mas para muitos o preço é inacessível. O maior problema não é o valor do aparelho, e sim as constantes manutenções", diz.

Para Krakauer, da So­­cie­­dade Brasileira de Diabetes, o preço é uma das razões para que as bombas de insulina não sejam tão difundidas, mas afirma que existem barreiras dos próprios médicos. "É complexo o aprendizado de todos os parâmetros, por isso muitos médicos acabam nem indicando", diz. Ele observa que a situação nos Estados Unidos é diferente, pois os seguros pagam o material. Lá, há cerca de 400 mil bombas sendo usadas por diabéticos do tipo 1.

Educação

As novidades não são apenas no controle da diabete. A educação também já entrou na era da tecnologia. "Temos vários aplicativos, tanto para o sistema iOS quanto para o Android, explicando o que é a doença, passando dietas e receitas", conta Krakauer. Uma barreira para muitos brasileiros é o fato de a grande maioria desses aplicativos ser em inglês, mas já existem alguns em português.

Um desses aplicativos foi lançado na semana passada na Apple Store brasileira. O Diamigo, que foi idealizado com apoio de Scharf, promete ajudar em uma das tarefas mais corriqueiras dos diabéticos: a contagem de carboidratos. Com tabelas do De­­partamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes, o paciente pode digitar o que vai comer e o aplicativo dirá a dose sugerida de insulina, de acordo com as recomendações médicas e a quantidade de carboidratos ingerida. O grande diferencial é que o programa é todo em português e gratuito, porém, por enquanto, só está disponível para o sistema iOS.

*A jornalista viajou a convite da Sanofi Brasil.

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