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 | Osvalter Urbinati
| Foto: Osvalter Urbinati

Se você não prestou atenção nas últimas orientações sobre o uso de eletrônicos publicadas pela Academia Americana de Pediatria, talvez queira tirar por um momento o tablet da mão do seu filho e rever a sua posição.

Uma análise de dados coletados a partir de 26 mil crianças, publicada na segunda-feira, dia 31, no periódico JAMA Pediatrics, fornece as evidências mais fortes até o momento de uma relação entre o uso de aparelhos eletrônicos na hora de dormir e problemas de sono, falta de sono e sonolência excessiva durante o dia. Apesar de haver um pouco de exagero na caracterização popular das crianças andando sonolentas por aí como pequenos zumbis, o problema é sério.

Os pesquisadores dizem que as crianças norte-americanas, sobretudo os adolescentes, em meio à sua sobrecarga de tarefas e vício em mídias, estão passando por uma epidemia de transtornos do sono, o que vem contribuindo para todos os tipos de problemas de saúde, incluindo obesidade, depressão, ansiedade, hiperatividade, aumento de apetite, transtornos de humor, perda de reflexos e perda de memória.

Nos anos recentes, os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) vêm fazendo pressão para que sejam adiados os horários de aula no final do ensino fundamental e ao longo do ensino médio, como uma forma de aumentar as possibilidades de que os adolescentes tenham pelo menos oito horas de sono por noite. A ideia tem o apoio da ciência, mas é polêmica por conta de todo tipo de motivos financeiros, logísticos e políticos.

O novo estudo da JAMA Pediatrics, liderado pelo pesquisador Ben Carter, do King’s College London, envolve a análise de estudos anteriores com crianças em idade escolar, entre 6 e 19 anos, na América do Norte, Europa, Ásia e Austrália. Carter e seus colegas descobriram que as crianças que utilizam aparelhos eletrônicos na hora de dormir têm o dobro de chances de dormirem menos de nove horas de sono por noite. As que ficam com telefones e outros gadgets no quarto têm 50% mais chance de sofrerem com uma noite mal dormida e 200% mais chance de excesso de sonolência durante o dia.

Num comentário que acompanha o estudo, Charles A. Czeisler, da divisão de Medicina do Sono da Harvard Medical School, e Theresa L. Shanahan, pediatra de Harvard, explicaram que “o uso de aparelhos de mídia móvel na hora de dormir fornece um material social e fisiologicamente estimulante num momento em que a transição para o sono exige que o cérebro comece a relaxar. (...) É difícil resistir a conteúdos interessantes, e as crianças com frequência têm medo de perderem acontecimentos importantes caso se desconectem”.

O problema não se resolve apenas indo dormir na hora certa. Há também um componente físico na exposição às telinhas. Czeisler e Shanahan descrevem a luz azul emitida pelas telas, bem como também por lâmpadas de LED, como “biologicamente potentes”, e dizem que ela suprime o hormônio melatonina, que manda o cérebro ir dormir. E é bom não esquecer também das notificações de mensagens de texto, que fazem acordar.

Czeisler e Shanahan notam que o estudo demonstra que a mera presença de um aparelho eletrônico no quarto na hora de dormir pode causar perturbações de sono e sugerem que mais pesquisas serão necessárias para se compreender o que isso faz às mentes e aos corpos das crianças. “Essas descobertas deixam claro que o rápido desenvolvimento do uso de tecnologia e mídia ultrapassou a capacidade dos pesquisadores da área médica de avaliar os efeitos positivos e negativos da exposição constante à mídia durante os anos críticos de desenvolvimento cerebral de crianças e adolescentes”, afirmaram.

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