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| Foto: Felipe Lima/Gazeta do Povo

O telefone não para. São cerca de 70 atendimentos diários, incluindo o chat online de pessoas dos mais diferentes perfis que procuram apoio emocional. O Centro de Valorização da Vida (CVV), em Curitiba, atua todos os dias durante 24 horas. Com garantia do anonimato, há quem ligue chorando, xingando o mundo, ou permanecendo em silêncio por longos minutos até ter a coragem para as primeiras palavras.

Em todas as situações, os cerca de 40 voluntários do CVV procuram se tornar o ombro amigo para quem passa por grandes dificuldades emotivas. A meta é uma só: valorizar a vida. A missão final é evitar que as pessoas cheguem a uma situação extrema de tristeza e desamparo e tirem suas próprias vidas.

Mais voluntários

O Centro de Valorização da Vida (CVV), em Curitiba, tem capacidade para 84 voluntários – hoje há metade disso. Em novembro a organização realiza cursos para que os interessados em se tornar voluntários possam participar.

“Há todo um processo que leva algum tempo para chegar ao suicídio. Procuramos atuar para evitar essa prática”, diz a porta-voz da organização não governamental CVV em Curitiba, Claudiane Araújo. Mês passado, inclusive, foi o da campanha Setembro Amarelo, que visou a alertar e prevenir o suicídio.

Prefeitura de Curitiba monta estrutura para atendimento

Estatísticas

Os dados são preocupantes. No Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa tira sua própria vida, ou seja, por dia cerca de 32 pessoas cometem suicídio no país. Segundo o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o oitavo país com mais suicídios.

Em todo o mundo, a OMS estima que a cada 40 segundos uma pessoa se suicida, o que resulta em 800 mil mortes anuais. A organização calcula que para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas.

Jovens

O alto índices de jovens que tiram suas próprias vidas é preocupante. Segundo o presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, André Rotta, adolescentes e jovens são mais propensos ao imediatismo e à impulsividade, e ainda não possuem plena maturidade emocional. “Encontram maior dificuldade para lidar com estresses agudos, como término de relacionamento, situações que provocam vergonha ou humilhação, rejeição pelo grupo social, fracasso escolar e perda de um ente querido. Esses acontecimentos podem funcionar como desencadeantes de atos suicidas”, afirma. Além disso, o uso de álcool e outras drogas pode interferir nesse processo.

Normalmente, não existe uma razão única que leva alguém a decidir se matar. Doenças mentais podem estar, por exemplo, associadas a fatores sociais, como abusos físicos, instabilidade amorosa e familiar, entre outros fatores diversos.

Veja alguns dos fatores que aumentam o risco de tentativa de suicídio

Segundo o presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, André Rotta, os fatores de risco também podem diferir entre pessoas, entre grupos populacionais e ainda podem mudar ao longo do tempo.

“As variações respondem à complexidade do comportamento suicida”, explica.

Diante deste quadro tão vasto, Claudiane, porta-voz do CVV, sabe da responsabilidade em lidar com o tema.

“É preciso focar na preservação da vida. Quem pensa em tirar a própria vida já passa por dificuldades por certo tempo. Se cada um de nós salvar uma vida por dia já nos sentimos bem”, afirma.

Curitiba monta estrutura de prevenção

Desde 2014, a saúde pública de Curitiba busca estruturar seu atendimento para realizar ações para prevenir o suicídio. Dentro deste programa, há capacitação dos profissionais de saúde e intensificação do acompanhamento dos pacientes em Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Projeta-se também desde este ano a criação de uma linha telefônica em que um profissional de enfermagem e um plantão técnico capacitados fariam atendimento telefônico 24 horas por dia.

Para que a rede criada possa funcionar adequadamente, foi realizada a capacitação de cerca de 300 servidores – de médicos, dentistas a técnicos – para que possam identificar os casos mais graves e saibam lidar com a situação.

“O objetivo é fornecer conhecimento para que os profissionais consigam mapear pessoas com tendências a cometer este ato. Mesmo nos casos de pessoas que não fizeram nenhuma tentativa concreta”, explica a coordenadora da área técnica de Atenção Psicossocial da Secretaria Municipal de Saúde, Flávia Adachi.

Nessas situações, os pacientes também serão encaminhados para tratamento especializado. O objetivo, neste caso, é fazer um acompanhamento sistemático dos pacientes mais vulneráveis.

Em 2006, o Ministério da Saúde criou um manual dirigido a equipes de saúde dos municípios para orientar a atuação desses profissionais na prevenção ao suicídio.

Onde buscar ajuda

Centro de Valorização da Vida: 141; (41) 3342-4111 (Curitiba); (43) 3356-4111 (Londrina) e www.cvv.org.br.

Também pode procurar uma unidade de saúde ou um dos Caps.

Preste atenção

Veja alguns dos fatores que aumentam o risco de tentativas de suicídio:

- Já ter tentado o suicídio;

- Sofrer de doença mental (depressão, dependência química, esquizofrenia, transtorno bipolar, síndrome de pânico);

- História familiar de comportamento suicida;
- Ideação suicida com planos e métodos;

- Ambivalência (desejo de viver e morrer que causa confusão);

- Rigidez (quando a pessoa decide terminar com a vida, e seus pensamentos, sentimentos e ações apresentam-se muito restritos e resistentes a qualquer tipo de contra-argumentação);

- Impulsividade;

- Desespero, desesperança e desamparo;

- Fatores como separação, falecimento, falência, prisão, traição, desemprego;

- Doenças (derrame, câncer, HIV, dor crônica).

Como tratar esses casos

Na fase imediata após a tentativa ou ameaça:

- Manter o paciente seguro, impedindo nova tentativa;

- Administrando medicamentos prescritos (para diminuir ansiedade e impulsividade, garantir uma boa noite de sono);

- Identificar pessoas significativas e obter seu apoio.

Após primeira semana:

Esclarecimento e apoio aos familiares.

Monitoramento (consultas frequentes e telefonemas periódicos do especialista); elaboração de plano de segurança; e repetir avaliação dos riscos.

Manter o paciente estável, diagnosticar e tratar transtornos mentais, lidar com estressores crônicos, abordar comportamentos inapropriados, estimular psicoterapia, cuidar da adesão ao tratamento.

Fontes: André Rotta, “Crise suicida: avaliação e manejo”, de Neury José Botega, e Conselho Federal de Medicina

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