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Em Curitiba, a empresa Neodent faz implantes dentários a partir de um molde virtual da boca, feito em impressora 3D | Felipe Rosa/Tribuna do Parana
Em Curitiba, a empresa Neodent faz implantes dentários a partir de um molde virtual da boca, feito em impressora 3D| Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Parana

Prós e contras

Customização maior é um dos benefícios da tecnologia

Não só o custo reduzido, mas o acesso ao material e à tecnologia, fazem da impressão 3D, aos olhos de Brancante, como uma revolução industrial. "É a democratização da tecnologia. Agora, ela não é mais fornecida apenas pelas empresas, mas fornecida por todos e compartilhada na internet. A impressão 3D permite um grau de customização muito maior, no caso das próteses, do que a produção em escala da indústria", diz.

Já quanto aos desafios do uso da nova tecnologia, Alexsander Golim destaca o custo da impressora com precisão cirúrgica – que, de acordo com ele, não sai por menos de meio milhão de reais –, e a demora para se obter certificação do Ministério da Saúde. "A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] tem um freio saudável que ainda não permite a implantação de próteses impressas, por causa da segurança da resina utilizada. Isso gera um certo atraso para a área. Vai demorar um tempo até que pessoas possam utilizar próteses feitas em impressoras 3D".

Se existe hoje algo muito próximo da ideia utópica de um século 21 completamente imerso em tecnologias do futuro, certamente é a impressora 3D. O aparelho, que fabrica itens a partir de camadas sobrepostas de resina de plástico, se popularizou domesticamente nos últimos anos e tem seu uso estudado para a área de saúde. Próteses e guias cirúrgicas são exemplos do que essas máquinas, que custam cerca de 300 dólares nos Estados Unidos e de R$ 3 mil a R$5 mil no Brasil, podem fazer.

Em Curitiba, a empresa Neodent utiliza o artefato para fazer implantes dentários, com a técnica CAD/CAM (siglas de Computer Aided Design – Projeto Assistido por Computador e Computer Aided Manufacturing – Fabricação Assistida por Computador). O gerente de engenharia Alexsander Luiz Golim explica que, por meio de uma tomografia do paciente, é possível fazer um molde virtual da boca, e imprimi-lo na impressora. "É uma peça assimétrica e única, e pode ser utilizado de guia para a cirurgia. Temos um software que posiciona virtualmente os implantes na boca do paciente, fazendo um planejamento cirúrgico no computador". A técnica, batizada de Neoguide, reduz o tempo de cirurgia de implante em 65%, de acordo com Golim, e com um custo relativamente baixo: uma guia dentária sai por menos de R$ 500. "Ela é muito mais precisa. Antes o dentista precisava abrir toda a gengiva do paciente até achar o osso, então fazer furos aleatórios e aí fazer o implante. Com a guia, a máquina já sabe exatamente onde fazer os furos".

Já a prótese feita por impressora 3D é a grande paixão do engenheiro eletrônico Gustavo Brancante, que fabricou uma mão biônica impressa que se movimenta por meio de eletrodos que captam o movimento dos músculos do braço. Para ele, o custo é uma das principais vantagens da prótese impressa. "Obviamente as empresas fabricam peças com materiais melhores, mas o plástico da impressora também é bom e pode ser utilizado. Hoje, uma prótese é muito cara se comprada no mercado, pode chegar a R$ 100 mil, ao passo que na impressora a produção é barata". Segundo ele, um quilo de resina para impressora custa no Brasil entre R$ 100 e R$ 150, e uma prótese de mão usa, em média, 800 gramas do material.

A possibilidade de imprimir o ser humano

Outra realidade que está cada vez mais próxima é a impressão de tecidos humanos vivos para reconstituírem partes do corpo. A empresa americana Organovo é pioneira na área, e já imprime tecidos hepáticos, cujas reações a doenças e fármacos podem ser estudados por médicos. O primeiro tecido comercializável deve ser lançado em 2014, segundo o vice-presidente executivo Mike Renard. Ele explica que os tecidos são impressos utilizando células vivas, precisamente depositadas pela impressora. "Nosso maior desafio, construindo tecidos pequenos, é garantir as fontes celulares corretas para o design. Já para tecidos maiores, a dificuldade é construir um sistema vascular e capilar que permita que o tecido se expanda [uma vez implantado]", explica. Tecidos pulmonares, ósseos, musculares, cardíacos e nervos periféricos são outras partes do corpo humano já desenvolvidas pela Organovo, mas que ainda estão em fase de testes.

No Brasil, o Centro de Tecno­logia da Informação Re­nato Archer, em Cam­pinas (SP), trabalha com o estudo da produção de órgãos impressos. Rodrigo Rezende, que é pesquisador na área de bioimpressão do CTI, explica que o processo de produção tem três etapas: "Primeiro, elaboramos o blueprint, que é o esquema do órgão a ser fabricado. Depois, imprimimos, utilizando esferoide tecidual, que são conjuntos de células envolvidos em um hidrogel dentro de uma esfera de 200 micrômetros de diâmetro. Por último, o tecido ou órgão passa um tempo de maturação em um biorreator, que catalisa o processo de adaptação para ser implantado".

A bioimpressão também se vale da impressão 3D inorgânica. "Há pequenas estruturas esféricas ocas (lockyballs), que são do mesmo tamanho dos esferóides teciduais e grudam uma na outra por ganchos, como velcro. Elas são impressas em 3D com precisão microscópica. A ideia é colocar os esferóides dentro delas para dar liga ao implante. O corpo absorve essas esferas depois", explica Rezende. Tudo isso, porém, ainda está em fase de estudo, e apenas algumas amostras foram criadas até agora.

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