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A indiana Daljinder Kaur, de 70 anos, e o marido de 79 anos, com o filho fruto de uma fertilização in vitro. | Narinder Nanu/AFP
A indiana Daljinder Kaur, de 70 anos, e o marido de 79 anos, com o filho fruto de uma fertilização in vitro.| Foto: Narinder Nanu/AFP

Depois de dar à luz um menino em abril, a indiana Daljinder Kaur, de 70 anos, declarou que não se considerava muito velha para ser mãe pela primeira vez. Para a medicina reprodutiva, Daljinder está correta: “Do ponto de vista reprodutivo, não há um limite para a gravidez. Conseguimos deixar o útero ‘bom’ em mulheres de qualquer idade, desde que elas não tenham, ao longo do tempo, adquirido alguma doença como mioma, pressão alta ou diabetes”, explica Alessandro Gomes Schuffner, ginecologista pós-graduado em reprodução humana .

Segundo Schuffner, em geral, a diminuição de tamanho do útero, que ocorre com a menopausa, pode ser revertida por meio de um tratamento de reposição hormonal. A técnica é utilizada há mais de duas décadas e, em cerca de três meses, o órgão já tem novamente as condições necessárias para abrigar um feto.

Critério

Devido ao risco à vida da mulher e do feto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) desaconselha, na Resolução 2.121/2015, que mulheres com mais de 50 anos tenham filhos. Apesar de não proibir o parto nesse tipo de gestação, o conselho responsabiliza os médicos por quaisquer problemas que acontecerem no caminho. O coordenador da Câmara Técnica de Reprodução Assistida do CFM, José Iran Gallo, explica que, caso algo saia errado, o médico pode ser advertido ou até impedido de exercer a profissão.

Os óvulos é que não podem ser recuperados. “A partir dos 35 anos, há maior chance de alteração cromossômica”, diz o ginecologista. Por isso, depois dos 50 anos, a gestação geralmente depende de inseminação artificial com óvulos de doadoras ou que tenham sido congelados pelo menos 20 anos antes. Já a amamentação costuma ser garantida por hormônios liberados pela grávida.

Mas mesmo sendo possível, a gravidez após os 50 anos requer que diversas questões sejam consideradas. “Gestantes acima de 45 anos já são consideradas gestantes com risco aumentado”, afirma Marcos Takimura, professor de ginecologia e obstetrícia da Universidade Positivo e especialista em gestação de risco. A primeira questão que merece atenção, segundo Edison Tizzot, ginecologista e obstetra do Hospital Nossa Senhora das Graças, é que as mulheres mais velhas têm maior chance de ter alguma comorbidade “oculta”, que pode ser desencadeada pela gravidez. Além disso, o próprio tratamento hormonal para recuperar o útero pode trazer consequências. “Pode acontecer uma hiperestimulação, causando aumento dos ovários ou distúrbios hidroeletrolíticos [como perda de água e de sais minerais]”, diz.

Além disso, à medida que a mulher fica mais velha, há maior possibilidade de ter diabetes ou hipertensão gestacional, assim como maior risco de trombose, aborto, má formação do feto e parto prematuro. Takimura alerta ainda para o fato de que, à medida que se aproximam da terceira idade, mais mulheres descobrem ou desenvolvem comorbidades e os tratamentos podem trazer riscos à gestação. “Medicamentos para melhorar a circulação, muitos antihipertensivos, alguns tipos de hipoglicemiantes orais, psicotrópicos entre outros não podem ser usados durante a gravidez”, enumera.

Substituição

A maternidade tardia também acarreta discussões éticas acerca dos cuidados com o bebê. No caso da indiana Daljinder Kaur, ela e o marido– que tem 79 anos – tinham o sonho de ser pais e recorreram à fertilização in vitro. Porém, conforme Alexandre Gomes Schuffner, há casos em que a mãe ou a nora de uma mulher que não consegue engravidar têm a gestação “por ela”, na chamada “gestação de substituição”.

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