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Adolescentes

O vício dos regimes chega às meninas

Você sabe o quê sua filha comeu esta semana? Cada vez mais crianças e adolescentes preocupados com seu peso iniciam dietas radicais ou até mesmo param de comer. Cabe aos pais dar o exemplo de uma alimentação saudável

 | Ilustração: Chantal/Gazeta do Povo
(Foto: Ilustração: Chantal/Gazeta do Povo)

"Passei quatro meses sem comer quase nada. Ganhei alguns quilos por causa do crescimento e achava que estava gorda. Me levaram na médica e ela chegou a dizer que se eu continuasse assim, ia morrer. Achei um exagero. Foi só quando comecei a passar mal que percebi o que estava fazendo", conta Fernanda*, 15 anos. Hoje ela está saudável e tem uma alimentação normal, mas há dois anos chegou a pesar apenas 42 quilos, pouco para seus 1,67 metro de altura.

Cada vez mais, adolescentes e crianças– algumas com apenas 8 anos de idade – procuram meios radicais de perder peso, quase sempre sem o conhecimento dos pais. Segundo o psicólogo e psiquiatra Márcio Zanardini Vegas, que trabalha com estas faixas etárias, fazer dieta virou sinônimo de "ser mulher". Para estas meninas, a idéia de beleza e sucesso está vinculada a ter um corpo magro.

Mariza Pan, pedagoga e diretora de ensino do Colégio Integral, explica que, quando uma menina decide fazer dieta, ela dificilmente está sozinha, sempre existe um grupo participando e uma cobrança coletiva para que todas cumpram o combinado. No caso de Fernanda, a situação chegou a um nível tão preocupante que as próprias amigas chegaram a procurar a mãe da colega. "Acho que se eu tivesse demorado um pouco mais o caso teria se complicado. Tive medo de ela não aguentasse", lembra a mãe.

Estímulo

Quando resolvem fazer estas dietas, a internet serve como uma ferramenta de "apoio" – um lugar em que as meninas trocam estímulos, conversam sobre meios de enganar os pais e dão dicas sobre perda de peso. São vários os sites em que doenças como anorexia e bulimia se tornam as amigas "Ana" e "Mia" e o culto ao corpo é estimulado e ilustrado com fotos de modelos e atrizes que se encaixam no perfil do corpo desejado.

Em um dos blogs "pró-ana" (pró-anorexia), uma adolescente que coloca 40 quilos como sua meta de peso escreve: "Rezem por mim, torçam por mim e me de (sic) dicas, muitas dicas. Isso nunca tinha acontecido, esse medo de perder a Ana e de engordar está muito forte...". Em outro blog, o texto se transforma em ataque a quem discorda da posição da autora: "eu sou egoísta e estou moldando um corpo perfeito que eu escolhi para mim (...) Vão cuidar de suas vidas, continuem comendo e mantendo o corpo que vocês querem ter agora, mas no futuro quem vai rir da cara de quem vai ser eu (sic)".

O mais comum entre as meninas é praticar dietas da moda como a da lua, do abacaxi e da sopa, que são menos perigosas se feitas por um curto período de tempo. Contudo, caso a situação perdure, a falta de nutrientes pode prejudicar o crescimento e trazer consequências futuras. O presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria, Aristides Schier da Cruz aponta uma dieta equilibrada, sem cortar refeições, como o modo ideal de cuidar da saúde. "Nessas dietas acabam sendo cometidos erros alimentares básicos, cortam-se grupos inteiros de alimentos, como carboidratos ou gorduras", explica.

Influências

Os cuidados com o corpo e a valorização da magreza fazem parte dos valores da sociedade contemporânea. "Passamos por um período em que estamos ‘lipofóbicos’ (fobia de gordura), temos horror a gordura em nós e nos outros. Ela ganhou o peso de um valor moral, ter gordura é feio, errado e indesejável", diz o psiquiatra MárcioVegas.

Nesse contexto, os pais devem educar pelo exemplo, não apenas falando o que deve ser feito. É preciso observar o comportamento dos filhos e ensinar a maneira correta de se alimentar. Já a influência da mídia nesse problema começa a ser discutida, ainda que de maneira indireta, no Congresso Nacional. Um projeto que tramita no Senado discute proibir modelos de trabalharem se seu IMC estiver abaixo de 18. O objetivo é evitar parâmetros de magreza que não são saudáveis, já que a Organização Mundial de Saúde indica que um ICM abaixo de 18,5 representa risco nutricional. Como comparação, em sua pior fase Fernanda chegou a ter um ICM de apenas 15.

* Nome fictício

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