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 | Daniel Castellano / AGP/GAZETA
| Foto: Daniel Castellano / AGP/GAZETA

Terezinha Cardoso arrancava risos sempre que dizia a data em que deu início à sua carreira – 13 de dezembro de 1968, o dia do Ato Institucional número 5, o AI5, medida que inaugurou o mais longo e violento período de cerceamento à liberdade de imprensa no Brasil. “Começou bem, hein!”, brincavam os amigos. Não foi a única particularidade da jornalista, catarinense de Araranguá e contabilista na adolescência.

Naqueles idos, poucas mulheres cumpriam expediente nos jornais paranaenses. A presença de Terezinha e algumas poucas outras na redação de O Estado do Paraná e da Tribuna, então na Rua Barão do Rio Branco, atirava pó-de-mico no Clube do Bolinha formado por repórteres e fotógrafos. Nem a proteção do diretor, Mussa José Assis, seu professor na “Católica” e diretor do Estadinho, a poupava dos gracejos. “Nunca mais tive coragem de usar saia”, anarquizava, sobre seu début.

Não era exagero. Além dos olhares gulosos dos colegas de ofício, Terezinha tinha de enfrentar outro reduto masculino – as delegacias. Por um desses acasos, a “foca” – jargão para repórteres iniciantes – começou cobrindo o preço da carne, mas logo ganhou uma vaga na página policial, tradicionalmente ocupada pelos “carrapichos”, alcunha dos jornalistas dados a grudar nas barras dos fardados para conseguir informações. Ninguém deu colher-de-chá para a recém-chegada.

Cobrir uma caçada a criminosos, no meio de um bosque, e ficar presa numa cerca de arame farpado – como lhe aconteceu –, não era o que esperava da vida. Como tantas gurias, tinha escolhido o jornalismo depois de se apaixonar pelo trabalho da repórter italiana Oriana Fallaci. Mas não teve remédio. Quando dava entrevista sobre seu pioneirismo na cobertura policial, não colocava compressas. Contava que não gostava da área, que não se sentia à frente de uma tarefa relevante, que fez o melhor possível.

Não mentia. Em vez de se contentar com a versão dada pelos policiais, como era praxe, lançava-se na investigação, antecipando a evolução da reportagem de porta de cadeia. Teve momentos lendários – como sua cobertura modelar da prisão do popularíssimo assaltante apelidado de Jack Palance, dada a semelhança com o ator e pugilista americano, famoso pela série Acredite se quiser. E as rumorosas reportagens para o jornal O Globo sobre o assassinato do humorista Leon Eliachar, em 1987, a mando de um fazendeiro paranaense. O caso teve repercussão nacional.

Ano passado, em entrevista ao Núcleo de Jornalismo e Ditadura Militar da UFPR, Terezinha declarou, com humor involuntário, que “fazer página de polícia não era uma atividade normal”: “Você não vai na Petrobras, vai ao submundo, onde só tem desgraça. Vi fetos nos banheiros das cadeias”. Reagiu àquele cenário. Feminista – figura entre as fundadoras do Coletivo 8 de Março – denunciava os maus-tratos a mulheres nas delegacias. “Eu protegia as putas. Denunciava ‘tira’ que ficava bebendo na repartição”, contou. Sim, recebeu ameaças de morte e lhe chacoalharam nas fuças cheques com muitos zeros, para que recuasse. “Queriam que eu fosse um José Domingos de saia. Não aceitei esse papel. Era massacrante.”

Em 1975, mandou-se para o Rio de Janeiro, cidade que amou. Fez reportagens nos campos da saúde e da juventude, novos amigos, até que voltou para o Sul. Encontrou as portas abertas, inclusive no próprio jornal O Estado do Paraná. Na década de 1990, ao se aposentar, tinha sepultado os medos sentidos em 1968, quando começou. Não foi irrelevante, como temia. Sem falar na estima.

Os colegas a reverenciavam – dos parceiros nas rondas pelo IML e pelos inferninhos, como Ali Chaim, passando pelo cartunista Dante Mendonça e por mitos, como a ambientalista Teresa Urban (1946-2013). Onde estava Terezinha, tinha alegria. Sabia seduzir uma plateia, apesar da timidez, nunca vencida. As memórias de seus muitos anos de lides eram uma grande crônica dos tempos românticos do jornalismo, uma era que não desperdiçou.

À UFPR, Terezinha Cardoso contou ter esboços de um livro sobre sua trajetória. Trabalhava no assunto, mas desde que caíra, dentro de casa, “todos os bichos deram de lhe perseguir”. Sentia-se adoecida. Morava num sobrado construído a seco, no meio de uma mata da Barreirinha. Estava cercada de árvores, livros e recordações, como um retrato em que ela aparece cabelo black power, riponga e linda, assinado pelo quadrinista Claudio Seto (1944-2008). Embora mais reclusa e “sem tesão”, como disse, não perdia a graça. Em fotos para a Gazeta do Povo, em 2010, vestiu camiseta rosa-choque, com inscrições elogiosas aos vira-latas. Via-se comum como um deles. E era única, tanto quanto.

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Dia 16 de setembro, em Curitiba, aos 72 anos, de causas desconhecidas. Tinha cinco irmãs. Não deixa filhos.

Lista de falecimentos:

Ailton de Barros Gomes, 70 anos. Profissão: motorista. Filiação: Pedro Gomes Filho e Gertrudes de Barros Gomes. Sepultamento hoje, no Cemitério Parque Senhor do Bonfim, em São José dos Pinhais.

Alarito de Oliveira, 79 anos. Filiação: Júlio Oliveira e Francisca Carolina de Oliveira. Sepultamento hoje, no Cemitério Paroquial Colônia Orleans.

Amabilis Alves Costa, 85 anos. Profissão: do lar. Filiação: Horácio Alves Costa e Fermina Maria da Luz. Sepultamento ontem.

Benedita Costa da Silva, 82 anos. Filiação: Eduardo Antônio da Costa e Ana de Oliveira Palma. Sepultamento ontem.

Cleuza Leonel Pessoa, 59 anos. Profissão: zelador. Filiação: Filintro Alves Pessoa e Dalvina Leonel Pessoa. Sepultamento hoje, no Cemitério Parque Senhor do Bonfim, em São José dos Pinhais, saindo de residência.

Emazir Klinger de Carvalho, 66 anos. Profissão: do lar. Filiação: José Klinger e Mercedes Castro Klinger. Sepultamento ontem.

Fernando Henrique Miranda, 25 anos. Profissão: segurança. Filiação: Evaldo Maurício Miranda e Ivanete Leite Miranda. Sepultamento ontem.

Geovane Ferreira de Andrade, 36 anos. Profissão: auxiliar de produção. Filiação: Mário de Andrade e Araci Ferreira de Andrade. Sepultamento ontem.

Iracema da Silva Tavares, 73 anos. Profissão: do lar. Filiação: Guilherme da Silva e Rosalina Pita da Silva. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal da Cidade de Origem.

Janete da Silva Constante, 44 anos. Profissão: comerciante. Filiação: Flávio Feijó da Silva e Otávia José da Silva. Sepultamento ontem.

Jean Noisius Henry, 38 anos. Profissão: servente. Filiação: Misius Henry e Noelsie Saimiscar. Sepultamento hoje, em local a definir.

João Batista da Cruz, 76 anos. Profissão: funcionário público municipal. Filiação: Manoel Francisco da Cruz e Marinha Cordeiro Batista. Sepultamento ontem.

Joaquim de Almeida, 73 anos. Profissão: pedreiro. Filiação: Albino de Almeida e Maria de Paiva Branco. Sepultamento ontem.

Leandro Moreira da Silva, 33 anos. Profissão: garçom. Filiação: Leonardo Moreira da Silva e Deolinda dos Santos de Morais da Silva. Sepultamento ontem.

Leovir de Almeida Ribeiro, 66 anos. Profissão: professor. Filiação: Sebastião Bueno de Camargo e Izebelina Nunes de Almeida. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal da Cidade de Origem, saindo de residência.

Luiz Alberto Muhlmann, 80 anos. Profissão: policial militar. Filiação: Alberto Júlio Mulhmann e Maria Joana Muhlmann. Sepultamento hoje, no Cemitério Colônia Faria, em Colombo.

Luiz Fernando da Silva Figueira, 33 anos. Profissão: vigilante. Filiação: Rudnei de Brito Figueira e Nilza Maria da Silva. Sepultamento ontem.

Márcia Regina Alves, 48 anos. Profissão: do lar. Filiação: Alberto Nunes da Silva e Tereza Bittencourt Nunes da Silva. Sepultamento hoje, no Cemitério Pedro Fuss, em São José dos Pinhais.

Maria Rosa dos Santos, 92 anos. Filiação: Manoel Lopes da Silva e Soledade Maria da Conceição. Sepultamento ontem.

Maria da Penha Costa Aragao, 80 anos. Profissão: professora. Filiação: Américo da Costa e Maria José da Costa Soares. Sepultamento hoje, em local a definir.

Nair da Rocha Serrato, 102 anos. Filiação: Luiz Pinto da Rocha e Ricardina Bandeira da Rocha. Sepultamento ontem.

Olival Lourenço Galvão, 38 anos. Profissão: auxiliar de serviços gerais. Filiação: Pedro de Paula Galvão e Neuza Lourenço Galvão. Sepultamento ontem.

Osvaldo Francisco Hames, 76 anos. Filiação: Francisco João Hames e Maria João da Silva. Sepultamento ontem.

Oswaldo Marques Patrocinio, 84 anos. Profissão: fotógrafo. Filiação: Alfredo Marques Patrocinio e Ana Ribeiro. Sepultamento ontem.

Pedro de Col, 66 anos. Profissão: agricultor. Filiação: Lindolfo de Col e Maria Iacek. Sepultamento hoje, em local a definir.

Serafim Ligmanowski Filho, 60 anos. Profissão: escrivão. Filiação: Serafim Ligmanowski e Anesia Malvina Ligmanowski. Sepultamento ontem.

Sílvio da Rocha Piske, 74 anos. Profissão: motorista. Filiação: Raymundo Pereira Piske e Antônia Alves da Rocha. Sepultamento ontem.

Takaaki Kavamura, 79 anos. Profissão: agricultor. Filiação: Ioshio Kavamura e Niva Kavamura. Cerimônia hoje, no Crematório Vaticano.

Tereza Iha, 70 anos. Profissão: do lar. Filiação: Zensso Iha e Akie Nacama Iha. Sepultamento ontem.

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