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David Tapscott: meio digital vai transformar a sociedade | Robert Scoble/Creative Commons
David Tapscott: meio digital vai transformar a sociedade| Foto: Robert Scoble/Creative Commons

Em 1993, quando Don Tapscott co­­meçou a estudar o impacto da in­­ternet no comportamento dos jovens, a rede ainda era um lugar de "geeks, radicais e visionários", como ele mesmo diz. Mas naquela época, seu filho Alex, então com 7 anos, mostrava um conhecimento invejável do meio digital e havia deixado as cartas de lado: mandara um e-mail para o Papai Noel. Um pro­­dígio, achou o pai – até descobrir que, na sua escola, Alex era a regra e não a exceção. "Foi aí que vi que um fenômeno diferente estava acontecendo com aquelas crianças."A curiosidade o fez explorar o te­­ma em Geração Digital (ed. Ma­­kron, 1996), uma das primeiras obras sobre como a internet estava al­­terando a maneira de pensar da­­queles que cresciam junto dela. "A juventude de hoje é a primeira a nascer banhada em bits, ou cercada de tecnologias digitais. Hoje, eles são adolescentes ou jovens en­­tre os 14 e os 32 anos, que passam grande parte do tempo na internet. Isso influencia todas as facetas de suas vidas – o local de trabalho, a escola, a família. Pelo mundo todo, essas pessoas estão mudando as relações de trabalho, o mercado e praticamente qualquer outro nicho da sociedade", diz.

Com a web 2.0, o salto foi ainda maior. Em A Hora da Geração Digital (Ed. Agir. R$ 69,90), recém lançado no Brasil, Tapscott argumenta que, agora adultos, eles levarão a lógica colaborativa da web a uma nova etapa. Para descobrir como nativo digital pensa, o autor realizou uma pesquisa de US$ 4 milhões com a nGenera (sua empresa de identificação de tendências), entrevistando mais de 10 mil jovens em 12 países.

"A colaboração em massa está apenas começando. Empresas podem projetar e montar produtos com seus clientes. Cientistas e médicos podem reinventar a ciência em código aberto, oferecendo seus dados e métodos para que todo interessado no mundo possa ajudar no processo de descoberta. Mesmo os governos podem envolver-se, transformando a prestação de serviços públicos e envolvendo os cidadãos na criação de leis e de políticas públicas", acredita.

Mas será mesmo que uma mídia pode mudar tanto as pessoas e, assim, a sociedade? Fruto da geração Baby Boom (nascidos no pós-Segunda Guerra Mundial, nos EUA), Tapscott cresceu com pais que viam 22 horas semanais de tevê e criaram filhos que ficam de oito a 33 horas conectados. Para ele, a mudança de comportamento veio em decorrência da transição de plataforma.

A tevê é um meio de transmissão passivo. Já a internet convida a colaborar, participar, criticar. "Eles estão abandonando a televisão e sua comunicação unilateral, em busca de uma comunicação dinâmica. Sentar calado na frente de um aparelho – ou de um professor – não tem mais apelo", diz. Isso porque eles pensam de ma­­neira diferente. "Eles aprendem mais com experiências não sequenciais, interativas, dessincronizadas, multimidiáticas e colaborativas", diz o professor da Universidade de Toronto.

Nos últimos 20 anos, neurocientistas encontraram evidências de que o cérebro muda e evolui ao longo da vida. Ele é es­­pecialmente adaptável a in­­fluências externas nos primeiros três anos de vida, durante a adolescência e nos primeiros anos de vida adulta. Justamente quando aqueles que ele chama de Geração Digital se engajaram na nova mídia.

Para Tapscott, a plataforma fragmentária não os deixou mais burros ou superficiais. Muito pelo contrário. Ele acredita que a web moldou suas mentes ampliando a capacidade de pensar. Amparando-se em dados que mostram que desde 1978 as pontuações de testes de QI vêm aumentando, Tapscott acredita que quem nasceu digital tem mais capacidade de mudar de foco e até de julgar se uma informação é ou não confiável. "Crescer com a internet mudou a forma como a mente funciona. Acostuma­dos ao multitarefa, eles aprenderam a lidar com a sobrecarga de informação. As tecnologias digitais e o desenvolvimento in­­telectual caminham lado a lado".

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