Sistema
Qualidade no transporte depende de vários fatores
A "qualidade" do sistema de transporte coletivo é apontada pela maioria dos entrevistados na pesquisa como o fator principal para que eles passassem a usar o ônibus, por exemplo. Para Fábio Tadeu Araújo, da Brain, a escolha por essa opção indica que a pessoa não conhece o sistema ou não tem uma opinião formada sobre ele. "Em muitos casos, a pessoa não tem opinião verdadeira porque não experimenta. A opinião é o senso comum e, no Brasil e em Curitiba, o senso sobre serviços públicos é que eles pioraram."
Para Luis Carlos Pimenta, da Volvo, precisão e rapidez são os conceitos que estão embutidos quando a qualidade é mencionada. "O curitibano julga que o sistema dele é pior do que realmente é. É preciso retomar a percepção pela qualidade do sistema que já existe, mas que precisa readquirir a rapidez, já que perdeu a velocidade média nos últimos tempos, e precisa ter informação", defende.
Os especialistas ouvidos pela reportagem concordam que a informação ao usuário precisa melhorar e esse é um fator que se reverte em qualidade para ele. Para Danielle Hoppe, do ITDP, para convencer a migração modal, a informação e a confiabilidade no sistema são importantes, como saber as linhas que passam em determinado ponto, o horário previsto para chegada e a duração da viagem. "Quando pega o carro, o usuário sabe o trajeto, horários de saída e chegada e os custos. Poder ter esse mesmo nível de confiança no transporte público é importante para motivar a troca."
Avaliação
Apesar de haver constantes reclamações, a avaliação do sistema de transporte coletivo de Curitiba e região é positiva: 44% dos entrevistados na pesquisa da Brain afirmaram que consideram o serviço bom (31%) ou ótimo (13%). Entre os usuários do sistema, a maioria julgou o serviço como regular (38%). Já para os motoristas, a rede de transporte é considerada boa (35%). Entre os problemas apresentados pelos entrevistados, ônibus lotados, atrasados e o trânsito da cidade são os piores, seguidos do preço da passagem e da falta de educação de motoristas, cobradores e outros usuários.
Um quarto dos curitibanos são motoristas convictos: em hipótese alguma deixariam o carro em casa e optariam por outro modal para se deslocar pela cidade. O dado está na pesquisa sobre hábitos de mobilidade feita pela Brain Bureau de Inteligência Corporativa, a pedido da Gazeta do Povo.Para os que abririam mão do transporte individual, as alternativas mais citadas foram o ônibus (35%) e a bicicleta (22%). Mas para migrar para o transporte público, a condição é que haja qualidade. Assim mesmo, genericamente.
INFOGRÁFICO: Veja os resultados da pesquisa no trânsito
Outras escolhas dos entrevistados dão pistas do que seria o transporte ideal. Regularidade nas linhas e rapidez no deslocamento foram itens citados como essenciais para a migração para o transporte coletivo. Por outro lado, o trânsito da cidade, atrasos e ônibus lotados - situações que estão diretamente ligadas - foram apontadas como os principais problemas.
Para Fábio Tadeu Araújo, sócio da Brain, o porcentual daqueles que não abrem mão do carro não retrata a realidade. "É muito comum que algumas pessoas ao dar a sua resposta falseiem no sentido do politicamente correto. O número surpreende positivamente porque, de alguma maneira, a pessoa tem a posição de refletir sobre a possibilidade de escolher outro meio de transporte", pondera.
Esse perfil de pessoa que não deixaria o carro em hipótese alguma não é exclusividade de Curitiba. Para Luis Carlos Pimenta, presidente da Volvo Bus Latin America, nas cidades de países desenvolvidos a única coisa que faz o motorista convicto mudar é o bolso. "É a instituição de pedágios urbanos. E uma coisa que grandes cidades estão fazendo é dificultar o estacionamento. Você pode ir a qualquer lugar de carro, mas não consegue sair dele."
Crescimento
A cultura forte do carro não é privilégio do Brasil, mas na opinião de Danielle Hoppe, gerente de projetos, transporte ativo e gerenciamento de demanda do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês), ainda vai crescer a quantidade de pessoas que possuem carros no Brasil. "A gente têm gerações e cidades que se desenvolveram com essa cultura. Não é uma mudança fácil de acontecer", observa. Para ela, é nesse ponto que entra a gestão de demanda. "As pessoas têm de se conscientizar que alguns deslocamentos podem ser feitos de outras maneiras, o cidadão não precisa usar o carro pra tudo", afirma.
Em Curitiba, 45% dos deslocamentos de pessoas são feitos pelo sistema de ônibus, que representa só 2% da frota de veículos da cidade, de acordo com dados da Urbs. O presidente do órgão, Roberto Gregório da Silva Junior, pondera que, apesar de a capital possuir a maior frota de carros per capita do país, o ônibus ainda desempenha um papel importante. Uma pesquisa realizada pelo órgão no ano passado, apenas com usuários do sistema, mostrou que quase 60% possuem carro, mas mesmo assim escolhem usar o ônibus.
Integração de modais ainda patina
Um facilitador para a migração de modais de transporte é a integração entre eles. Assim, o usuário pode usar mais de um meio, de acordo com a sua comodidade. Um exemplo é a bicicleta, citada por 22% dos entrevistados como uma opção de transporte. Em Curitiba, a malha cicloviária está disponível mais para um trajeto de lazer do que nos grandes eixos estruturais da cidade. Uma nova experiência é a Via Calma, implantada na Av. 7 de Setembro, neste ano.
Para Danielle Hoppe, do ITPD, um problema persistente em todo o país quando se fala do planejamento de mobilidade é a fragmentação da gestão do transporte. Além de faltar integração entre os modais, falta quem pense em como será o serviço prestado ao usuário final. "Precisamos de gente pensando na qualidade do transporte dessa pessoa em todos os trechos."
Para exemplificar, o planejamento urbano deve considerar o momento em que o cidadão sai de casa: qual é a condição da calçada e como a pessoa vai atravessar as ruas para chegar até um ponto, terminal ou estação. Se for um ciclista, a questão é onde deixar a bicicleta: em um bicicletário ou entrar com a magrela no ônibus? "Ainda temos muito a evoluir nesse sentido."
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