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Rio – Apesar do cotidiano de violência que marca as comunidades carentes no Rio, uma avaliação do Núcleo de Pesquisa das Violências do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Nupevi-Uerj) apurou que 65,4% dos 660 moradores de favelas entrevistados não querem se mudar do local onde vivem.

A antropóloga Alba Zaluar, uma das coordenadoras da pesquisa, concorda que as notícias da guerra do crime protagonizada por traficantes, policiais e até milicianos nas favelas podem sugerir que a população seja ávida por se mudar. No entanto, a pesquisa indica que os laços de solidariedade são mais fortes nas favelas e superam os problemas. "As pessoas são muito ligadas às outras, apesar do tráfico e da polícia. Eles não gostam dessa situação, vivem sob duas tiranias mas a relação com vizinhos e familiares é de solidariedade", analisa. "As pessoas conversam na porta de casa. No asfalto [parte mais urbanizada], prevalece a indiferença. A classe média é mais voltada para seus próprios círculos."

Os questionários da pesquisa foram distribuídos em favelas como o Complexo do Alemão e Mangueira, na zona norte, Rocinha, na zona sul, e Cidade de Deus, na zona oeste. Na comparação com uma pesquisa anterior feita pelo Nupevi entre todos os cariocas, os moradores de favela parecem gostar mais da cidade. Apenas 7% gostariam de deixar o Rio, enquanto entre os cariocas em geral esse porcentual é de 15%.

A pesquisa mostra ainda que as favelas estão mais próximas da infra-estrutura da cidade formal. A rede elétrica legal já chega a 85,5% dos entrevistados. Quase 90% dizem contar com rede de esgoto e 84,5%, com abastecimento de água.

Para a dona de casa Nilza Rosa, nascida de parteira há 55 anos no alto do Morro da Formiga, zona norte do Rio, diz que, não fosse pelo tráfico, seria possível viver no morro como em qualquer lugar. "As casas são melhores e em qualquer uma tem DVD, TV, geladeira. Em qualquer barraquinho tem celular."

Líder comunitário da Rocinha, Carlos Costa discorda do resultado da pesquisa. Para ele, quem respondeu que não quer sair da favela quis, na verdade, dizer que não tem alternativa. "A informalidade e a falta de estrutura incomodam os que começam a sair para estudar e ver outras coisas. Ainda existe um vínculo, mas numa escala menor. Hoje, mesmo na favela, é cada vez mais cada um por si", afirma.

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