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Elizabeth descobre o Lago Azul: território comum entre novos e velhos umbaraenses, nem sempre bons amigos. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Elizabeth descobre o Lago Azul: território comum entre novos e velhos umbaraenses, nem sempre bons amigos.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A VIAJANTE

Elizabeth Amorim de Castro, arquiteta e historiadora, autora de extensa pesquisa sobre a arquitetura de grupos escolares e albergues da Curitiba antiga.

Mora no Centro e circula com frequência pelo Jardim das Américas e o Rebouças.

DESTINO

Rua Nicola Pellanda, olarias e a “Igreja do Umbará”.

DISTÂNCIA PERCORRIDA – 18 quilômetros.

POR QUE CONHECER?

Urbanistas consideram o Umbará um dos bairros mais desafiadores de Curitiba. O local – povoado por italianos no final do século 19 – abriga “de tudo um pouco”: as olarias dos imigrantes e seu casario de madeira, condomínios de luxo, loteamentos populares, ocupações irregulares, além de uma das últimas fartas áreas verdes da capital.

As impressões de Elizabeth Amorim de Castro sobre o Umbará

Especialista em arquitetura escolar, Elisabeth se surpreendeu com o silêncio e a preservação das tradições italianas no bairro que já foi rota de tropas portuguesas. No Umbará, as olarias sobrevivem ao tempo em meio à especulação que avança sobre o bairro.

+ VÍDEOS

“A Curitiba que não existe mais”. O mantra repetido por curitibanos saudosistas é posto à prova no Umbará. É oásis das incorporadoras que erguem condomínios de alto padrão; ponto de parada para 299 famílias do movimento sem-teto, cujos participantes se abrigam nas margens da linha do trem; e também uma colônia italiana que resistiu em se tornar urbanizada como a da Água Verde ou pitoresca como a de Santa Felicidade. Diz-se que 16 famílias chegaram ali no final do século 19. Para elas, é como se o tempo andasse mais devagar: a polenta com frango impera – e são servidos em casa.

No Umbará, é possível desfrutar de uma imensa área verde e visitar olarias que resistem à modernização. “Apesar das dificuldades”, bradam os oleiros, conhecidos como bons de briga. Segundo Gilmar Bonato, um condomínio da região moveu tantas ações judiciais que um morador teve de fechar as portas da olaria. “Curiosamente, o oleiro vendeu o terreno para o próprio condomínio”, conta o pianista e ceramista.

Bonato recebeu Elizabeth Amorim de Castro em sua olaria. “O silêncio é o que mais me surpreende”, repete a arquiteta, nascida no Rio de Janeiro, moradora de Curitiba desde pequena. O contraste não é à toa. Beth mora na Praça Osório. Garante não ouvir “muito barulho”, mas volta e meia responde sobre como é viver no bairro com a maior poluição sonora da cidade.

A tranquilidade do Umbará só é quebrada quando o assunto é a relação entre novos e antigos moradores. “É um processo natural de adaptação, mas nada que provoque uma briga”, contemporiza o historiador Marcos Zanon, autor de um livro sobre o bairro. Nascido e criado por ali, ele vê no Lago Azul um exemplo dessa convivência. O espaço verde pertencia a Ângelo Segala, que o abria ao público muito antes de o local ser municipalizado. Ali também se apresenta o coral da bela Paróquia São Pedro do Umbará, construída em 1931, com projeto do arquiteto João De Mio – o mesmo que desenhou a Igreja das Mercês.

A “São Pedro” e o Colégio Estadual Padre Claudio Morelli são ponto de encontro entre o antigo e o novo. Nesses locais, convivem italianos, poloneses, ricos e pobres. “O pessoal das ocupações acha que os italianos os desprezam. Mas isso é uma meia verdade. Muitos se proletarizaram e todos convivem”, afirma Zanon. Elizabeth pontua: “As comunidades irregulares estão em toda a cidade. Mas essa convivência com o antigo, só encontramos aqui no Umbará.” (RM)

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