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Área da mineradora Plumbum concentra os índices mais altos de contraminação . População permanece na vizinhança | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Área da mineradora Plumbum concentra os índices mais altos de contraminação . População permanece na vizinhança| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Agora pobre, cidade já viveu a sua era do ouro

Adrianópolis está localizada em uma das regiões mais pobres do estado. Mas nem sempre foi assim. A Mineradora Plumbum esteve na cidade durante 65 anos, de 1930 a 1995. Nesse período, os moradores viram a prosperidade: tinham bons salários, farmácia, clubes, festas e amparo médico e social. Mas, do dia para noite, viram a empresa desaparecer, transformando a área onde estava instalada em uma cidade fantasma.

Na década de 1950 a empresa foi comprada por uma multinacional francesa. O grupo Trevo, do Rio Grande do Sul, comprou o terreno após a falência. Queria continuar a exploração, mas descobriu que já não era mais viável. Ficou com a missão de aterrar o local e cuidar do passivo ambiental deixado pelos antigos donos: 300 mil toneladas de resíduos de chumbo a céu aberto. (PC)

Adrianópolis ainda vive sob a sombra do seu passado rico e contraditório. Sua população continua exposta aos efeitos nocivos do chumbo, conforme relatório do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde divulgado neste ano. O documento traz 21 soluções. A primeira e mais radical seria a remoção da população que mora perto da antiga fábrica da Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda. O ambiente em um raio de cinco quilômetros está contaminado, incluindo solo, alimentos, animais e até a poeira domiciliar.

Em função das novas constatações, o Ministério Público Estadual reabriu a ação contra a mineradora na semana passada. O procedimento tramitava no Ministério Público Federal, mas foi arquivada em função de uma confusão. O órgão recebeu um relatório no qual o Instituto Ambiental do Paraná atestava que o problema do aterro havia sido resolvido. O aterro em questão, porém, era o de Cerro Azul e o procurador que analisou o documento julgou ser o de Adrianópolis, determinando o arquivamento da ação.

O relatório do Ministério da Saúde sobre o caso elenca também recomendações menos radicais para minimizar a exposição ao chumbo, como proibir o consumo de leite, ovos e vegetais produzidos nos bairros Vila Mota e Capelinha. Eles ficam próximos da empresa, onde o terreno apresenta níveis de chumbo da ordem de 20.000 mg/kg de solo, 22 vezes maior do que o admissível pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Am-biental de São Paulo. Outra medida seria a substituição da criação de animais, como gado e galinhas, por uma atividade agrícola de baixo impacto, como o reflorestamento.

Agrônomo e professor do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Vander de Freitas Melo coordenou uma pesquisa de quatro anos na região. Um grupo de professores, mestrandos e alunos de graduação constatou que quase todo o resíduo gerado pela Plumbum não foi tratado. Ficou espalhado em 50 hectares. Só as pilhas de rejeitos às margens do Rio Ribeira foram aterradas. Em apenas um hectare foram tomadas medidas para remover os rejeitos. A mineradora depositou os resíduos sólidos em vales entre as montanhas e dentro de túneis desativados.

Nos primeiros anos de atividade, a Plumbum jogou os rejeitos da mineração diretamente nas águas do Rio Ribeira. Quando a fiscalização ambiental apareceu, ao invés de jogar as sobras no rio passou a transportá-las para áreas de menor acesso no alto dos morros. Ao mesmo tempo, passou a deixar os rejeitos também às margens do rio. Há dois anos um aterro foi feito para abrigar o resíduo que estava na beira do rio. Mas o que ficou espalhado nunca foi contabilizado. Calcula-se que represente no mínimo 90% do total de rejeitos deixados pela Plumbum.

A mineradora teria extraído 210 mil toneladas de chumbo e 240 toneladas de prata. Melo e seus alunos descobriram que as áreas mais contaminadas, onde o chumbo está mais presente, não são aquelas onde ainda há rejeitos sólidos, mas no solo das imediações das antigas chaminés. A fumaça resultante do processo de fundição impregnou o solo com chumbo particulado, deixando ali maiores índices de contaminação. Nesses pontos também estão as maiores contaminações de formigas, minhocas, pequenos invertebrados e os vegetais. Isso leva a um ciclo de exposição ao chumbo que passa pelo gado, leite, queijo, até chegar ao homem.

Em 2002, a Unicamp já havia mostrado que na Vila Mota e Capelinha 59,6% das crianças apresentavam índices de chumbo no sangue acima do normal, que é de 10 miligramas da substância por decilitro de sangue, segundo o Center of Disease Control and Prevention (CDC). Outros 10% apresentaram índices de nível III, o mais perigoso para a saúde humana. O índice chegou a quatro vezes maior que o tolerável. Outro trabalho coordenado pela Secretaria de Saúde mostrou alterações laboratoriais em metade dos 866 exames realizados. Onze crianças foram diagnosticadas com déficit cognitivo.

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