Pouco gasto, mesmo sem sacrifícios
Gastar água dentro de limites aceitáveis não significa necessariamente uma vida cheia de restrições. O exemplo vem da dona de casa Andréia Caetano, de 29 anos, moradora do São Miguel bairro curitibano que registra o menor consumo de água: 81 litros por habitante ao dia. "Eu não economizo, não", confessa. Mesmo assim, ela não chega a usar os 10 metros cúbicos por mês da tarifa básica da Sanepar. Não vai muita água para limpar a casa de poucos cômodos em que mora com o marido e os dois filhos.
A máquina de lavar roupa é, pelas suspeitas de Andreia, a fonte mais gastadora. A lavadora é usada três vezes por semana, principalmente para as roupas de Maria Clara, de nove meses. Andréia admite que não costuma aproveitar a água da máquina. "Não acredito que vai faltar água no mundo. É tudo teoria da conspiração. Tem um monte de vídeos no Youtube que mostra isso", afirma. Quando questionada sobre a situação de escassez hídrica em São Paulo, ela emenda: "Mas lá é outra coisa. Teve problema com o governo."
Tarifa social
Gastos de 10 metros cúbicos por mês para famílias com até quatro pessoas, em residências de até 70 metros quadrados e com renda de até meio salário mínimo mensal por pessoa custam R$ 6,60 pela água ou R$ 9,90 se houver também coleta de esgoto. Caso a família tenha mais de quatro pessoas, o gasto da residência pode gastar mais 2,5 metros cúbicos mensais a cada integrante incluído.
Tarifa mínima
Gastos de 10 metros cúbicos por mês para famílias sem limitadores de renda custam R$ 25,14 pela água e um total de R$ 45,25 se houver também coleta de esgoto. Em Curitiba, o valor com coleta de esgoto é de R$ 46,51. Na capital, o valor é maior porque o contrato prevê a proporção do custo do esgoto em 85% em relação à água, enquanto que nas demais cidades é 80%.
Faça a diferença
Algumas dicas básicas contribuem para que o gasto de água seja menor:
Use a vassoura : Antes de lavar a calçada, use vassoura. Jamais use a água da mangueira para "varrer"a sujeira.
Não aperte: Diminua as descargas. Regule periodicamente a válvula hidra ou a caixa de descarga.
Feche a torneira: Ao lavar as mãos ou a louça, não deixe a torneira aberta todo o tempo. Isso evitará que vários litros de água tratada sejam desperdiçados.
Hora do banho: Seja rápido no banho. Cada 5 minutos embaixo do chuveiro ligado consomem aproximadamente 70 litros de água.
Basta um copo: Para escovar os dentes é necessário apenas um copo de água. Evite deixar a torneira aberta.
Lavando roupa: Junte roupas para lavar todas de uma só vez. Aproveite a água usada no tanque ou na máquina para lavar calçadas.
Tá Pingando: Os maiores ladrões de água são vazamentos, torneira pingando e descarga desregulada. Faça manutenção regularmente.
Carro limpo: Use baldes, e não a mangueira, para lavar o carro. Seu automóvel fica limpo e a economia pode chegar a 300 litros de água.
Fazendo a barba: Não faça a barba com a torneira aberta o tempo todo. Use a água somente para molhar e enxaguar o rosto.
Tá na mão: Lavar as mãos com a torneira aberta o tempo todo causa um grande desperdício. Ao ensaboar as mãos, deixe a torneira fechada.
Fonte: Sanepar.
O Batel é o bairro curitibano com maior consumo de água por morador. São 290 litros diários por pessoa, média semelhante à registrada em países europeus. Na sequência no ranking estão Mossunguê, Hugo Lange, Cabral e Bigorrilho. Os dados são de um levantamento feito pela Sanepar a pedido da Gazeta do Povo. Na conta, em todos os bairros da capital o volume de água gasto diariamente por morador está acima do mínimo de 80 litros recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
INFOGRÁFICO: Quanto mais periféricos são os bairros, menor o consumo de água, confira
O levantamento considerou apenas as unidades residenciais. Áreas com muito comércio, escola, hospitais ou indústrias poderiam distorcer o cálculo do volume gasto por pessoa. Os dados são de setembro. O gerente comercial comentou que, em meses mais frios, a média paranaense chega a 120 litros por pessoa ao dia e vai a 180 nos períodos mais quentes.
Quanto mais afastado o bairro é do centro da cidade, menor o consumo. Gerente comercial da Sanepar, Luiz Carlos Braz de Jesus percebe a relação direta entre consumo de água e poder aquisitivo das famílias. Contudo, a diferença na faixa de renda é proporcionalmente maior. Na comparação entre extremos, a renda média per capita no Batel é sete vezes maior do que a do São Miguel, já o consumo de água é "apenas" três vezes maior em relação ao bairro com menor gasto por pessoa.
Fatores
Uma casa maior acaba exigindo gastos consideráveis na limpeza. Mais ainda se tiver jardim. A presença de muitos eletrodomésticos, como lavadoras de roupa e louça, pode representar o uso de mais metros cúbicos de água. "Alguns equipamentos até são econômicos, mas depende de como são usados. Se a máquina de lavar for usada sempre com todos os ciclos possíveis, com vários enxagues por exemplo, vai gastar bastante", diz.
Entre os fatores que impulsionam o consumo estão chuveiros aquecidos pelo sistema a gás, banheiras e piscinas. Condomínios que não têm cobrança individualizada também registram gastos maiores. "Se não há a percepção de quanto cada apartamento ou casa gasta, costuma haver desperdício. Mesmo sem equipamento individualizado, uma metodologia de rateio por habitantes já ajuda", diz. A legislação determina hidrômetros por unidade habitacional em condomínios recentes, mas não obriga a instalação em antigos.
Fatura básica desestimula a economia?
A política de estabelecer uma tarifa mínima para consumo de até 10 metros cúbicos por mês costuma gerar controversa. Se os moradores gastam menos do que isso, não ganham benefício algum que incentive a usar menos água. Gerente comercial da Sanepar, Luiz Carlos Braz de Jesus explica que a tarifa mínima foi calculada para garantir que uma família de quatro pessoas possa consumir, cada um, 80 litros de água diariamente.
Para o gerente, a tarifa mínima já funciona como um limitador de consumo. O valor serviria para cobrir os custos fixos, como o pagamento de pessoal e a instalação da infraestrutura da rede. "Precisamos fornecer o produto 24 horas por dia. Não posso ter uma estação que funcione só quando o cliente precisa, mas sim o tempo todo", comenta.
Poder aquisitivo alto não é sinônimo de gastança
O aumento na qualidade de vida principalmente nos países chamados emergentes acabou tornando mais acessível vários tipos de produtos. Imagine se todos os chineses começassem a consumir nos mesmos padrões dos norte-americanos? A China tem um em cada seis habitantes do mundo. Entre as entidades que buscam o consumo consciente está o Instituto Akatu, principalmente com ações que visam sensibilizar as pessoas sobre a impossibilidade de continuar adotando práticas impactantes para o planeta.
Para Dalberto Adulis, consultor de conteúdo do Instituto Akatu, não há motivo algum para o consumo de água estar necessariamente relacionado ao poder aquisitivo. Muito pelo contrário. Pessoas com mais renda têm condições, por exemplo, de fazer adaptações nas casas para reutilizar a água. Além disso, quem viaja mais pode conhecer realidades de países com escassez de água e perceber que é uma realidade a ser evitada no Brasil. O Akatu lançou a campanha #águapedeágua, com o slogan "Sem água somos todos miseráveis", para tentar "desautomatizar" o consumo de água, mostrando que é possível viver bem sem gastar muito.
15 bairros podem ficar sem água no sábado
Uma interrupção programada de energia elétrica poderá afetar o abastecimento de água em 15 bairros de Curitiba no sábado . A manutenção do sistema elétrico do reservatório do Portão deve afetar a distribuição. Os serviços começarão às 9 horas e o abastecimento deve ser normalizado até a noite de sábado. Os bairros que podem ser afetados pelo desabastecimento temporário são: Água Verde, Capão Raso, Fanny, Portão, Fazendinha, Guaíra, Lindoia, Vila Izabel, Santa Quitéria, Novo Mundo, Pinheirinho, Seminário, Xaxim, Cidade Industrial e Boqueirão.
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