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Diego Modesto Cordeiro, a professora Fernanda Ribeira de Freitas e Rayane Silva Bueno | Débora Mariotto/ Gazeta do Povo
Diego Modesto Cordeiro, a professora Fernanda Ribeira de Freitas e Rayane Silva Bueno| Foto: Débora Mariotto/ Gazeta do Povo

Para Rayane Silva Bueno e Diego Modesto Cordeiro, estudantes de um colégio público no Litoral do Paraná, parecia pouco provável que os esforços voltados para um projeto científico rendessem mais do que reconhecimento de professores e colegas. Só que eles foram mais longe e conquistaram, no mês passado, o 1.º lugar na 5.ª edição da Feira de Inovação das Ciências e Engenharias (Ficiências), na categoria melhor trabalho, com a proposta de criar uma rede de pesca biodegradável. A ideia une sustentabilidade a uma tecnologia capaz de aumentar o rendimento de quem vive do mar.

A seletiva da qual participaram os alunos do Colégio Estadual Maria de Lourdes Morozowski, em Paranaguá, teve cerca de 400 inscrições, incluindo estudantes brasileiros e também do Paraguai e da Argentina. E era tanto trabalho interessante que a dupla já se sentiu realizada apenas de estar concorrendo entre eles.

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“A gente tinha ido só para participar. Não tínhamos a ideia de ganhar nada”, conta Rayane. Prestes a colar grau no ensino médio, a estudante relembra que a participação na feira quase foi inviabilizada por falta de recursos. Faltava dinheiro para tirar o projeto do papel e também para custear as passagens até Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, onde ocorreriam as exposições.

“Não tínhamos recursos e também não tínhamos professores que entendessem do assunto específico. Uns dias antes da feira, o colégio comprou uma caixa de som, fizemos uma rifa e fomos atrás de alguns patrocínios”, conta a aluna.

A dupla precisou se aprofundar em áreas de conhecimento que não fazem parte do dia a dia dos estudantes de ensino médio. Por isso, Rayane passou horas com alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no Litoral para “pescar” ideias que os ajudassem a pôr em prática tudo o que vinham estudando. Faltava a opinião de especialistas para definirem o melhor material de confecção da rede e também para a criação do sensor eletrônico que marca um dos grandes diferencias do projeto.

É que além de ser feita a partir de resíduos orgânicos como bagaço de cana de açúcar, bambu, amido de milho ou soja (que causam menos impactos caso sejam deixados em alto mar), a rede de pesca biodegradável conta com um sistema eletrônico capaz de notificar pescadores caso ocorra a captura acidental de outros tipos de animais que não os peixes, como tartarugas, arraias ou golfinhos.

Para chegar a um sistema capaz de permitir essa diferenciação, Diego teve de mergulhar em livros e em referências na internet para dar conta do recado. Segundo o aluno, o primeiro protótipo montado por eles ficou pronto apenas um dia antes da viagem a Foz do Iguaçu.

“Quando a professora chamou a gente, ela só tinha [o projeto] no papel. Como nós somos de ensino médio, não temos um conhecimento tão grande no assunto, tivemos que correr atrás. Eu fiz a parte do aplicativo, do sensor, e a Rayane ficou com a parte da rede, mais ambiental mesmo”.

Proteção ambiental

A rede de pesca biodegradável sobre a qual os estudantes de Paranaguá se debruçaram também prevê um sistema de escape para peixes pequenos. No entendimento dos autores do projeto, isso, por um lado, aumenta a rentabilidade dos pescadores e, por outro, ajuda ainda mais o meio ambiente, uma vez que dá a espécies ainda em desenvolvimento maiores chances de permanecerem em seu meio ideal.

Fernanda Ribeira de Freitas, professora que coordenou a pesquisa campeã, conta que convidou diversos alunos para integrarem a equipe, mas que apenas Rayane e Diego permaneceram até o final. Ela acredita que o grande diferencial da rede de pesca desenvolvida por seus estudantes é a preocupação com um desenvolvimento sustentável.

“Não foi somente um projeto que visava o pessoal, a parte humana. Mas a parte de meio ambiente é muito forte nesse trabalho”, analisa a professora. De acordo com Fernanda, o desenvolvimento da proposta começou em junho e não deve parar agora que a dupla está prestes a deixar o colégio. Tanto Rayane quanto Diego têm intenção de ingressar em uma mesma universidade para conseguirem tocar juntos o projeto.

“Nosso objetivo é ver toda a sociedade pesqueira sendo beneficiada por esse projeto. Agora, minha ideia é focar na parte do aplicativo, cursar algo na área de desenvolvimento de sistemas. Nós não vamos abandonar o projeto em sala de aula”, afirma Diego.

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