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Houve uma assembleia rápida entre os integrantes dos coletivos e a maioria decidiu deixar o prédio pacificamente | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Houve uma assembleia rápida entre os integrantes dos coletivos e a maioria decidiu deixar o prédio pacificamente| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Os ocupantes do prédio onde funciona o Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) cumpriram o prazo de uma hora combinado com a Polícia Federal por volta das 15 horas deste sábado (18) e deixaram o prédio, no Centro de Curitiba, em frente à Reitoria. Segundo a UFPR, a ocupação do prédio ocorreu em julho, meses antes da eleição da nova diretoria no DCE e quando a gestão anterior permitiu a entrada de participantes de coletivos urbanos no espaço. A UFPR afirma que, além de alunos, estrangeiros e moradores de rua estavam habitando o prédio que, segundo a reitoria, é histórico e não tem condições de moradia.

A PF cumpriu nesta tarde o mandado de reintegração de posse, de acordo com decisão liminar da 5ª Vara Federal de Curitiba. Dezenas de agentes da Polícia Federal, auxiliados por policiais militares, cercaram o espaço. Houve uma assembleia rápida entre os integrantes dos coletivos e a maioria decidiu deixar o prédio pacificamente.

RU será reaberto

Uma das consequências da ocupação do prédio do DCE da UFPR foi o fechamento do Restaurante Universitário (RU), que atende cerca de mil pessoas diariamente e fica em prédio anexo ao do diretório. A universidade afirma que o RU será reaberto na quarta-feira (22), depois de exames de laboratório constatarem que a caixa d’água do prédio não foi contaminada, como se suspeitava. A Reitoria decidiu por suspender o abastecimento de água dos dois prédios no dia 9. O motivo, afirma a universidade, foram indícios de que a caixa d’água estava servindo para descartar o lixo dos ocupantes, o que eles negam.

Na primeira decisão judicial, segundo o advogado e representante do movimento dos estudantes, Lawrence Estivalet (que é pesquisador e membro de um dos conselhos da universidade), a juíza responsável havia concedido prazo de 24 horas para a desocupação. No entanto, a UFPR recorreu da primeira decisão e pediu a retomada imediata do local. Na ação, foram anexadas fotografias que mostram pichações nas paredes do prédio, móveis quebrados e acúmulo de lixo nos cantos e pelo chão, como garrafas e latas de bebida. O processo teve apoio de uma moção proferida pelo Conselho Universitário (Coun) ainda neste mês.

De acordo com o delegado que coordena a ação, Ivan Ziolkowski, a PF verificará a situação do local no final da operação. É a própria universidade que fechará o prédio e decidirá como ele vai ser ocupado. De acordo com a UFPR, o prédio tinha risco de incêndio atestado por bombeiros, já que não seria próprio para servir de residência.

Reforma

Antes da ocupação, a gestão atual do DCE havia concordado em desocupar o prédio, que a reitoria garante que será restaurado futuramente, mas ainda não tem prazos definidos. “Precisamos de tempo para analisar o tamanho do estrago e ver quanto a reforma vai nos custar”, afirma o reitor Zaki Akel Sobrinho. Segundo ele, a intenção da reitoria é de que o espaço permaneça ocupado pelo movimento estudantil, desde que “seja o movimento legitimado’. Mas Akel Sobrinho reconhece que a administração pretende rediscutir o uso do espaço. “Há reclamações de vizinhos sobre barulho. O espaço e a vizinhança não permitem certos usos”, diz.

Ainda de acordo com o reitor, o prédio foi “totalmente depredado”, e está sendo retomado pela universidade depois de ocupado por “movimentos que não têm aderência com valores da universidade”. Akel Sobrinho afirma que as situações do prédio antes e depois de tomado serão comparadas para, depois, haver debate sobre eventuais responsabilizações. “A universidade é um espaço livre para discussão, e é preciso cuidado ao falar disso”, diz. “Mas não acho salutar pessoas ocuparem um prédio público, fazerem o que querem e depois não haver consequências”.

Ainda conforme a UFPR, em nota oficial, os grupos alheios à universidade que ocuparam o prédio são: uma rádio-pirata, a Gralha, um grupo anarquista denominado Antifa 16 (ou “antifascista”) e um grupo chamado El Quinto. Este último era formado por artistas de rua argentinos que ocuparam o quinto andar do edifício. A nota afirma que eles “promoveram ações que resultaram em danos físicos ao imóvel, inclusive nas partes elétrica e hidráulica. Além disso, os invasores foram responsáveis por acúmulo de lixo e dejetos que provocaram condições sanitárias totalmente inadequadas”.

Posse

Estudante de Gestão Pública, Arthur Wistuba integra a nova gestão do DCE e ressaltou que, como a ocupação ocorreu meses antes da eleição, a nova diretoria sequer teve chance de assumir o espaço. “Eles [a administração anterior do DCE] permitiram a entrada de grupos externos no espaço. Quando assumimos, nos deparamos com essa situação”, afirma. “Em 2015, assumimos e vimos que uma reforma é necessária. Espero que o movimento retome a organização das agendas.”

Divergência

Estudantes da UFPR que participaram da ocupação dão outra versão para o ocorrido. Segundo Amanda Ruiz, os cerca de 25 ocupantes eram “estudantes da UFPR de várias cidades e estados e comunidade envolvida com projetos sociais e viajantes de todo mundo” que queriam protestar sobre uma suposta mudança de uso do prédio pela reitoria, o que tiraria o imóvel das mãos dos estudantes.

A ocupação foi apoiada pelo Sinditest-PR, que reúne trabalhadores de universidades federais do estado, em manifestação publicada no site da entidade no dia 10. “Se o prédio do DCE for capturado pela reitoria, com a ajuda da polícia, esse será o primeiro passo para que o reitor possa atacar as conquistas dos últimos anos. Frente aos cortes de verbas causados pela política desastrosa da presidente Dilma Rousseff, a medida óbvia a ser adotada pela reitoria seria retirar recursos da assistência estudantil, como vários reitores estão fazendo país afora”, argumenta a nota.

  • A Polícia Federal do Paraná cumpriu um mandado de reintegração de posse do prédio do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Paraná.
  • A Polícia Federal do Paraná cumpriu um mandado de reintegração de posse do prédio do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Paraná.
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