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Todo verão é a mesma cena: seja em grandes empresas ou em escritórios diminutos, o ar condicionado é o grande vilão da estação, causador de rusgas e discussões acaloradas sobre o “vento na nuca” e sobre como “lá o ar não chega”, acusado pelas rinites, sinusites e crises alérgicas de toda ordem, quando não também pela dificuldade de concentração.

De modo geral, os dedos acusatórios apontam para os homens, reconhecidamente mais calorentos que elas. “Pode estar 31°C ou 10°C lá fora, eles sempre deixam a temperatura no mínimo e sugerem que levemos blusas para o escritório. Nos locais em que trabalhei, a temperatura era motivo de brigas e mudanças de mesa constantes”, conta Ana Carolina Primão, ex-funcionária de uma multinacional .

Nem todas são friorentas. Para Melissa Oliveira, passar calor é das piores coisas que podem acontecer, tanto que, quando recebeu o convite para mudar de área de atuação, um dos prós foi o fato de que o novo local de trabalho possuía ar-condicionado central. “Tive discussões com uma colega quando estava grávida, porque ela desligava o ar e eu passava mal. A situação foi crucial para minha mudança”, lembra Melissa, que trabalha em uma empresa estatal.

Temperatura ideal

Quem sente mais frio?

Crianças menores de dois anos ou idosos com mais de 60 tendem a sofrer mais com o frio, já que seus organismos são menos eficientes em manter a temperatura interna entre 36°C e 37°. Mulheres sentem mais frio que homens principalmente por causa da composição muscular: nelas, os músculos compõem 25% do corpo, neles, 45%. A relação mais músculos-menos frio derruba uma ideia muito popular, de que pessoas acima do peso sentem menos frio.

A despeito das rusgas entre calorentos e friorentos, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece em 24°C a temperatura ideal – com variação de 2°C para mais ou para menos. A partir daí, cabe à engenharia de climatização a adequação do sistema de ar condicionado a essa temperatura e, acreditem, há mais variáveis por trás dos ideais 24°C do que podemos supor.

Frio é psicológico?

A máxima não encontra respaldo na ciência. Temperaturas baixas afetam o organismo de todos, porém, a resistência ao frio é bastante variável – e não tem a ver com o poder da mente. A equação da sensação térmica é composta por fatores como idade, peso, massa muscular, predisposição genética, quantidade de pelos e sensores na pele e até mesmo a exposição habitual às temperaturas reduzidas

De acordo com o engenheiro mecânico Geancarlo Picolotto, especialista em sistemas de climatização, o projeto deve levar em consideração desde a iluminação e aparelhos eletrônicos utilizados nas salas até a arquitetura da construção, passando pela maior presença de homens ou mulheres e pela distribuição dos móveis – para que o fluxo de ar seja distribuído uniformemente e de modo a evitar o “vento na nuca”. A velocidade de ventilação e a posição do direcionador de ar também são importantes.

“Mas nem sempre todas as áreas do mesmo ambiente terão a mesma temperatura. Além disso, a sensação de conforto térmico é subjetiva devido às variações individuais, fisiológicas e psicológicas de cada pessoa. Os parâmetros estipulados definem como adequado o ambiente térmico em que uma maioria de 80% ou mais está satisfeito com a temperatura”, explica Picolotto.

Frio, produtividade e machismo

O ar condicionado não é responsável apenas por desconfortos físicos: o aparelho também corrói o espírito, dia após dia, crise de rinite após crise de rinite, queda de pressão após queda de pressão. Brincadeiras à parte, pesquisas científicas comprovam que o aparelho pode, sim, se tornar o vilão do escritório, provocando baixa produtividade e desafetos.

Um estudo feito pela Universidade de Cornell, em 2012, em uma empresa de seguros mostrou que quando o termômetro chegava a 20°C os funcionários cometiam até 44% mais erros, enquanto a produtividade caía pela metade em comparação com a obtida à 25°C.

Isso acontece porque tanto o frio quanto o calor excessivos fazem o organismo gastar mais energia para se termorregular, comprometendo a capacidade de concentração e de análise. A pesquisa sugere ainda que as baixas temperaturas podem afetar negativamente as relações entre colegas de trabalho, uma vez que influenciam o humor e a tolerância.

Em 2015, uma pesquisa publicada na revista científica Nature Climate Chance analisou o modelo de climatização adotado em boa parte dos edifícios corporativos e descobriu que a temperatura é determinada de acordo com a taxa de metabolismo (velocidade de produção de calor pelo corpo) de um homem de 40 anos, mais alta do que a das mulheres. A conclusão dos cientistas é de que o ar condicionado em escritórios é machista e que as empresas deveriam atender ao crescimento da presença feminina no meio corporativo. (CP)

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