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O médico veterinário Renan Cardoso e o gavião Lampião, usado no controle de pragas como pombos e andorinhas. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
O médico veterinário Renan Cardoso e o gavião Lampião, usado no controle de pragas como pombos e andorinhas.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Lampião leva uma vida regrada. Sobe na balança todos os dias para monitorar o peso, tem alimentação balanceada e não pode descuidar da atividade física. A descrição parece de um atleta, mas é de um gavião da espécie asa-de-telha de três anos, utilizado no controle de pragas.

A função de Lampião é espantar bandos de pombos, andorinhas, pardais e outras aves que geram transtorno e risco a indústrias, aeroportos, silos, plantações, condomínios e outros ambientes. Também fazem parte do bando de Lampião os gaviões Virgulino, Gota Serena, Comadre Fulozinha e os falcões Diabo Loiro e Praga de Mãe. Os animais são da empresa Peregrinus, que atua no controle de pragas usando técnicas de falcoaria – arte milenar de adestramento de aves de rapina.

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Há três anos, o casal Renan Cardoso e Andreia Pisco, ambos de 28 anos, decidiu transformar o hobby dele em negócio. Renan se formou em medicina veterinária pensando em utilizar os conhecimentos de falcoaria no futuro. Jornalista de formação, Andreia percebeu durante a pós-graduação em marketing que havia mercado para uma empresa que utilizasse técnica sem impacto ambiental para espantar pombos e outros bandos de animais. Assim nasceu há três anos a Peregrinus, que atua no controle de pragas com regulamentação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Um dos serviços recentes da empresa foi no Aeroporto do Bacacheri, na expulsão de quero-queros que ameaçavam os voos das aeronaves.

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Assim que é solta, a ave de rapina começa a caçar os outros pássaros do ambiente. Quando faz a captura, o gavião ou falcão desce ao chão e segura a presa até o treinador chegar e dar a ele um pedaço de carne como recompensa. Renan explica que na maioria das vezes a presa não é morta, sendo solta na sequência. “O objetivo é espantar as pragas. E o impacto da ave de rapina no ambiente é imediato. Assim que ela começa a voar, as outras aves sentem a presença do predador natural e fogem”, afirma Renan. Em duas semanas a população de animais invasores chega a reduzir em 75%.

O médico veterinário explica que o trabalho com as aves de rapina é só uma etapa do trabalho de controle de pragas. Antes, há um mapeamento do local, analisando não só o comportamento do bando, mas também de situações que podem facilitar a permanência e procriação desses animais, como acúmulo de grãos que servem de alimento. “No final do trabalho, entregamos um relatório de como o cliente deve fazer a manutenção para evitar a volta das pragas”, aponta Andreia.

O controle requer ainda outros cuidados. O casal explica que todos os dias ambos têm de revezar a cor das roupas e o veículo que vão trabalhar para não condicionar os grupos que serão expulsos. “Animais como pombas são muito espertos. Eles são capazes de identificar nosso carro e fugir só de dobrar a esquina”, afirma.

Treino

Lampião, gavião da empresa Peregrinus. Albari Rosa/Gazeta do Povo

Renan explica que qualquer ave de rapina, independente da idade, pode ser treinada, incluindo corujas. Entretanto, um dos cuidados que ele recomenda é de que isso não seja feito com animais retirados da natureza. Há criadores regulamentados que vendem aves de rapina, atividade que a Peregrinus também pretende executar no futuro. O preço médio de um falcão ou gavião com licença do Ibama é de aproximadamente R$ 3,5 mil.

A primeira parte do treino é o amansamento. Para perder o medo, o animal precisa ter contato direto com uma pessoa. Para isso, os treinadores ficam aproximadamente uma semana se revezando 24 horas por dia com a ave pendurada no braço. “Pelo trabalho e dedicação que exige, dificilmente alguém vende uma ave treinada”, ressalta Renan.

O próximo passo são os saltos no próprio punho do treinador. Na sequência, a ave começa fazer voos com uma linha presa ao pé para não fugir. A última etapa é o voo livre. Em média, o animal está preparado para a atividade de falcoaria em aproximadamente três meses. “Mas o tempo de treinamento depende de cada espécie e indivíduo”, observa Renan.

Já treinado, o animal tem de, obrigatoriamente, estar em forma. Todas as aves da empresa são pesadas diariamente e a quantidade de comida que ingerem – porções de carne de camundongos, pintos, codornas ou coelhos – vai de acordo com o que a balança marcar.

O gavião Lampião, por exemplo, não pode ultrapassar 460 g. “Se o animal tiver acúmulo de gordura, ele não voa para caçar, porque o organismo entende que tem energia de sobra”, explica o médico veterinário.

Para se manter no peso, os animais têm de “malhar” nos dias em que não estão trabalhando. Nesses casos, eles fazem um exercício de aproximadamente uma hora que consiste em ir do chão até a mão do treinador estendida em cima da cabeça. “É como se fosse uma flexão para manter a musculatura”, explica Renan. Tudo para que estejam aptas a fazer jus ao nome de uma das aves, Praga de Mãe: se soltar, pega.

Aves também participam de clipes, filmes e propagandas

Além de combater pombos e outras pragas, os gaviões e falcões da Peregrinus também estão acostumados a atuar. A empresa oferece seus animais para gravação de vídeos, da publicidade ao cinema. “Esse trabalho ainda é esporádico. Mas um dos nossos animais participou de um clipe recentemente”, explica Andreia Pisco, falcoeira e gerente de marketing da empresa.

A ave em questão foi o gavião Virgulino, que participou do vídeo da música “Amigo Sentidor”, do cantor Digo Policiano. O clipe foi eleito um dos dez melhores de 2014 pelo blog especializado 1001 Videoclips.

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