
Até por causa do balão usado para identificar os pontos de fiscalização, as blitze de Lei Seca no Rio de Janeiro são bem mais visíveis do que em Curitiba. Mas a impressão de que por lá as operações policiais são mais intensas pode também ser comprovada em números: enquanto em Curitiba foram vistoriados 34 mil veículos em 2015, na capital fluminense foram 344 mil – dez vezes mais.
A desproporção é bem maior do que a diferença da frota, que nem chega ao dobro (1,4 milhão de veículos em Curitiba e 2,6 milhões no Rio de Janeiro). Enquanto que, em média, 135 veículos a cada mil foram vistoriados no trânsito carioca no ano passado, por aqui a média ficou em 25 em cada mil.
Veja os dados comparativos entre Rio e Curitiba
A estratégia de intensificar as fiscalizações não foi capaz de eliminar a associação entre álcool e direção, mas lá, bem mais do que aqui, muitos motoristas mudaram de atitude: por exemplo, é bem mais comum escolher táxi para voltar de confraternizações. O número de mortes no trânsito em Curitiba está em queda ano após ano – em 2015, foram 184 – mas ao menos em um terço dos casos a bebida é um dos fatores presentes. E as noites e madrugadas de sexta, sábado e domingo concentram grande parte dos acidentes graves.
A secretária municipal de Trânsito, Luiza Simonelli, gostaria que fossem realizadas bem mais blitze de Lei Seca em Curitiba, mas alega que não está na alçada da prefeitura intensificar a fiscalização. Ela afirma que, em reuniões com o Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), pediu inclusive que as equipes da administração municipal pudessem acompanhar as operações, mas não obteve autorização. A justificativa é de que não é seguro para “civis”, mas Luiza afirma que em outras cidades esse reforço na fiscalização é permitido. Para ela, a presença de mais pessoas nas blitze tornaria o trabalho mais transparente, menos sujeito a “carteiradas”.
Segundo o tenente Ismael Veiga, porta-voz do BPTran, a participação de civis em operações noturnas está fora de cogitação por causa dos riscos.
Ele comenta que as operações têm caráter policial, envolvendo não apenas os testes de álcool, mas também vistorias nos veículos e motoristas, não raro resultando na apreensão de armas e drogas e na prisão de foragidos.
Veiga reforça que a fiscalização tem poder preponderante para coibir os casos de bebida e direção, mas destaca que precisa ser acompanhada de esforços educativos também. “Só a fiscalização não adianta, nem só a educação. Precisa a combinação dos dois”, comenta.
Veiga conta que os locais de fiscalização são definidos por muitos fatores, inclusive por denúncias da população. Ele comenta que o BPTran não tem intenção de copiar o modelo usado no Rio de Janeiro. “Não vemos motivo de copiar a estrutura carioca dentro da nossa realidade”, diz.



