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Professora do ensino médio, Maristela tem realizado trabalhos de educação interdisciplinar no IFPR. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Professora do ensino médio, Maristela tem realizado trabalhos de educação interdisciplinar no IFPR.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

País símbolo da educação, a Finlândia causou frisson quando foi anunciada, em março deste ano, como o primeira nação a abolir as disciplinas da grade escolar. O governo finlandês desmentiu a história. As disciplinas continuam. Mas os projetos que incentivam a interdisciplinaridade serão obrigatórios em 2016.

Colégios testam formas de ligar conhecimentos

Modelo de educação para o mundo, o sistema finlandês estabelece dois modos de colocar a interdisciplinaridade em prática. Um é a resolução de problemas, outro é com projetos (ambos chamam PBL, do inglês project based-learning e problem based-learning). No Paraná, instituições de ensino lutam para encontrar seu próprio formato de integração entre as disciplinas.

Desde 2005 o Colégio Sesi trabalha com uma metodologia diferenciada no ensino médio, em que os alunos trabalham com uma pergunta norteadora a cada bimestre. Alunos das três séries se matriculam em oficinas como panificação ou robótica. Em grupos, eles desenvolvem um projeto, que é trabalhado ao longo dos dois meses. As 15 disciplinas são tanto tradicionais (Português, Matemática etc.) como diferenciadas, como empreendedorismo.

No câmpus central do Instituto Federal do Paraná (IFPR), em Curitiba, os alunos do ensino médio integrado de Informática deram seus primeiros passos para uma interdisciplinaridade em 2015. No primeiro bimestre, a professora de Espanhol Maristela Gabardo fez um trabalho de conscientização para seus alunos constituírem autonomia. Outros professores fizeram o mesmo, em outras turmas. A partir deste mês, as turmas começam a se integrar.

No Colégio SEB Dom Bosco, os alunos do 6.º ano do fundamental em diante e do ensino médio trabalham ao longo de 2015 o tema “luz”, conforme indicação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). No primeiro bimestre, foi trabalhado em História e Geografia. No segundo, será em Física e Matemática.

A escola mantém também outro projeto, em que uma aula por semana é dedicada a um projeto construído por alunos em parceria com os professores. “Há uma inversão de papel, você não trabalha a disciplina, você trabalha com a disciplina. A disciplina passa a ser uma ferramenta para desenvolver competências”, explica Gil Vicente Moraes, diretor da unidade Batel do colégio.

NP

“As práticas colaborativas nas salas de aula, em que os alunos trabalham ao mesmo tempo com professores de matérias diferentes baseados em projetos temáticos será o caminho do futuro da educação finlandesa”, diz a diplomata Raisa Ojala, da Embaixada da Finlândia no Brasil.

Por aqui, esse processo vive sua fase embrionária. Na última década e meia, a legislação avançou. As Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio (DCNEM) de 1998, por exemplo, estabelecem a interdisciplinaridade como um dos cinco “princípios pedagógicos” estruturadores dos currículos dessa etapa escolar. Identidade, diversidade, autonomia e contextualização fecham o time.

Na prática, as disciplinas pouco dialogam. “Vemos um sistema extremamente duro e tradicionalista, que está incrustado em quem nós somos”, opina a professora do Instituto Federal do Paraná (IFPR) Maristela Gabardo, que em 2014 passou cinco meses na Finlândia, pelo projeto Professores para o Futuro.

Considerado o “centro do saber”, o professor tem pouco espaço para errar e, portanto, de experimentar. Os alunos, por sua vez, não desenvolvem sua autonomia, critica Maristela. Para um ensino interdisciplinar, o grupo precisa sair de sua “zona de conforto” e estar preparado para trabalhar com o erro.

Ao aprender em compartimentos, muitas vezes o estudante tem dificuldade de significar um conteúdo na sua realidade. Mudar isso passa por uma nova mentalidade dos professores, o que inclui novas metodologias nas licenciaturas, no ensino superior.

Um projeto interdisciplinar exige diálogo também entre os professores. Além disso, é preciso preparar aulas que levem em conta os caminhos percorridos em sala de aula. “Mas os professores trabalham muito, têm uma sobrecarga de trabalho grande”, critica a docente do IFPR. A Lei do Piso Nacional do Magistério, de 2008, estabelece que um terço da jornada deve ser cumprida fora da sala de aula, na chamada hora-atividade.

O tempo também é um entrave para desenvolvimento de projetos integrados entre as disciplinas. Para isso, o ensino integral é uma arma fundamental. Mas no Paraná a modalidade abrangeu apenas 9,22% das matrículas do ensino básico público, em 2014. No Brasil, a média foi de 15,21%, segundo dados do Censo Escolar, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC).

Na Finlândia

Chefe do departamento de currículo finlandês, Irmeli Halinen elenca pontos centrais da reforma educacional

  • Maior foco em competências transversais e trabalho com diferentes disciplinas.
  • Disciplinas ainda terão um importante papel no ensino e aprendizado.
  • As disciplinas terão fronteiras menores entre si e uma maior colaboração prática uma com a outra
  • Toda disciplina vai trabalhar para desenvolver as áreas de competência
  • Práticas de sala de aula colaborativas serão realizadas em estudos multi-disciplinares, estruturados em projetos, em que muitos professores podem trabalhar com qualquer número de alunos simultaneamente.
  • Aprender é uma habilidade que deve ser promovida sistematicamente.
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