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Professor Marconi Rodrigues de Farias avalia um gato com esporotricose na clínica veterinária da PUCPR. O profissional integra um  grupo multidisciplinar para evitar a disseminação da doença que conta com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde e do HC da UFPR | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Professor Marconi Rodrigues de Farias avalia um gato com esporotricose na clínica veterinária da PUCPR. O profissional integra um grupo multidisciplinar para evitar a disseminação da doença que conta com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde e do HC da UFPR| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Epidêmica no Rio de Janeiro, a esporotricose – um tipo de micose que afeta principalmente os gatos – tem deixado mais vigilantes profissionais de saúde de Curitiba, onde a doença passou a mostrar evolução constante desde 2014. O fato levou a Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) da capital a exigir notificação de casos atendidos em clínicas veterinárias da cidade, como forma de aumentar o controle sobre as ocorrências. Ao mesmo tempo, profissionais da PUCPR e do Hospital de Clínicas da UFPR, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), estabeleceram um grupo de estudos e de tratamento animal e humano para evitar que a doença – tratada hoje como uma epizootia (ocasional) – evolua para uma epidemia.

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Causada por um fungo (Sporothrix schenckii), a esporotricose atinge principalmente gatos, que, por meio de arranhaduras e mordidas, podem transmitir a doença a seres humanos. Daí a o alerta mais generalizado, mesmo que para pessoas, a doença não apresente graves riscos à saúde.

Segundo o professor de Medicina Veterinária da PUCPR Marconi Rodrigues de Farias, a evolução histórica dos felinos avaliados positivamente para esporotricose em Curitiba revela aumento de gatos atingidos pela doença desde 2014. Naquele ano, foram 20 animais atendidos; em 2015, cerca de 30. Este ano, de janeiro até o dia 23 de agosto, foram 89 diagnósticos positivos.

“Chama atenção porque, em Curitiba, sempre ocorreram casos. Mas muito isolados. Na PUC, nós tínhamos de um a dois casos por ano. Vínhamos mantendo essa frequência isolada desde 2002”, comenta Farias, que coordena estudos e tratamentos voltados para a doença na clínica de Medicina Veterinária da PUCPR.

Suspeitas podem ser informadas via 156

Há a suspeita de que seu gato pode estar com esporotricose? A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba informou que casos podem ser relatados via 156. Após a ligação, uma equipe deverá entrar em contato e, se for apontado diagnóstico positivo, os responsáveis irão passar orientações sobre o tratamento necessário.

O aumento no número de registros de esporotricose felina em Curitiba chegou à mesa da UVZ da capital no início do ano. De lá para cá, a unidade estabeleceu que todas as clínicas veterinárias que atenderem casos da doença comuniquem a prefeitura. Como essa exigência é recente, a UVZ disse ainda não ter dados capazes de revelar o panorama completo da doença na cidade, mas já se sabe que a maior parte dos casos está concentrada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

“A partir de agora nosso trabalho é conseguir entender qual é a real distribuição da esporotricose em Curitiba”, aponta Vivian Midori Morikawa, coordenadora da UVZ. De acordo com ela, inclusive animais de rua estão sendo monitorados e, quando necessário, submetidos a tratamento.

Doença em humanos

A parceria entre a prefeitura, a PUCPR e o HC não é voltada apenas para cuidado animal, mas também humano. Sob o comando da UVZ, equipes trabalham na identificação e na localização de gatos doentes. Animais possivelmente contaminados com o fungo são encaminhados por agentes de saúde à PUC para tratamento. Casos da micose em pessoas detectados na rede de saúde pública da capital estão sendo encaminhados para o HC, que vem atendendo, em média, dois casos por mês.

“A esporotricose em humanos não é tão grave como nos animais, a exceção são os imunossuprimidos, como os que têm aids”, explica o médico infectologista do HC Flavio de Queiroz Telles Filho. “Descoberta a doença, a cura é facilmente obtida com tratamento que dura de três a quatro meses. O problema é que muitos médicos, muitos clínicos não conhecem bem essa doença”, aponta o médico.

Em humanos, a doença se manifesta na forma de lesões na pele, que começam com um pequeno caroço vermelho, que pode virar uma ferida. Conforme informações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), geralmente estas lesões aparecem nos braços, nas pernas ou no rosto, formando, às vezes, fileira de carocinhos ou feridas.

Perfil epidemiológico

De acordo com o infectologista, o perfil epidemiológico da doença mudou desde o início dos anos 2000, quando relatos de situações da esporotricose transmitida por felinos começaram a aumentar. É que antes as infecções provocadas pelo fungo eram mais comuns em jardineiros, agricultores ou pessoas que tivessem contato com plantas e solo em ambientes naturais onde o fungo pudesse estar presente em materiais orgânicos. Tanto que a micose também é conhecida como “doença do jardineiro”.

“Há mais ou menos quatro anos começamos a atender os primeiros pacientes em Curitiba. Hoje, verificamos de um a dois casos por mês, o que não quer dizer que é o total de diagnósticos, pois isso é apenas o que é encaminhado pela rede de saúde pública de Curitiba”, completa Telles Filho.

Segundo o médico, um projeto de pesquisa interinstitucional e interdisciplinar foi submetido à Fundação Araucária, órgão do governo estadual que financia projetos de pesquisa no Paraná. A intenção é que, se aprovado, o projeto consiga reunir verbas que possam dar mais suporte ao atendimento de pessoas e felinos, além de contribuir para planejamento de ações voltadas para o controle da doença.

Esporotricose felina: o que você precisa saber

A esporotricose é uma micose que pode afetar animais e humanos. Nos gatos, ela causa lesões de pele profundas, feridas com pus que podem atingir principalmente a face e os membros do animal, explica a médica veterinária Rebeca Bacchi, que também é professora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Positivo (UP).

O fungo causador da esporotricose geralmente habita o solo, vegetais, madeiras e pode ser transmitido por meio de materiais contaminados, como farpas ou espinhos. Animais contaminados, em especial os gatos, também podem transmitir doença por meio de arranhões, mordidas e contato direto com a pele lesionada.

“O fungo [que causa a esporotricose] tem uma facilidade em se manter nas unhas dos gatos. Então, se esse gato estiver contaminado e arranhar uma pessoa, ela pode ser contaminada. Mordidas também podem transmitir, assim como contato do humano com a lesão da pele do gato”, aponta a professora.

Marconi Rodrigues de Farias, médico veterinário e professor da PUCPR, acrescenta que a doença também pode ser transmitida para cães. No entanto, apenas os gatos conseguem passar a esporotricose para o homem, por causa da grande quantidade de fungos que fica estabelecida na pele do felino.

O alerta maior

Mas muita calma! A esporotricose não é o fim do mundo. É uma micose e, como toda doença fúngica, tem tratamento. Por isso, nada de achar que os gatos são a mais nova ameaça do planeta. Para os felinos, o tratamento pode levar até seis meses, dependendo do tamanho das lesões, e é feito com antifúngicos comuns, mas que devem ser prescritos por um profissional.

“Uma coisa importante é que esses gatos doentes devem ficar restritos. Eles não podem sair para a rua para evitar justamente a disseminação”, orienta Rebeca.

Além disso, a castração do seu animal ajuda muito a conter a disseminação da doença. Gatos castrados tendem a ficar mais tranquilos e, consequentemente, a sair menos de casa, o que evita o contato dele com vários tipos de doenças.

“Castrar o gato é importante sempre”, alerta a coordenadora da Unidade de Vigilância de Zoonoses de Curitiba Vivian Midori Morikawa. “Quando gato é mais doméstico, não fica tão exposto. Uma medida simples que pode ajudar muito”.

E não se esqueça: abandono de animais é crime previsto em constituição federal. A pena para esse tipo de delito pode ser de até um ano de prisão, além de multa.

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