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Cães de rua são alvo do projeto que propõe castração como controle de natalidade | Marcelo Elias / Gazeta do Povo
Cães de rua são alvo do projeto que propõe castração como controle de natalidade| Foto: Marcelo Elias / Gazeta do Povo

(DES)VANTAGEM

Custo de remédio gera divergência

Um dos principais argumentos dos defensores da castração química é o baixo valor do procedimento. O médico veterinário Ricardo Lucas, sócio-diretor do Rhobifarma, laboratório proprietário do Infertile, afirma que a esterilização química custa cerca de 70% menos do que a castração cirúrgica.

Mas, para a presidente da Sociedade Protetora de Animais de Curitiba, Soraya Simon, o preço do procedimento químico pode ser até mais caro.

De acordo com ela, o valor médio de uma ampola do medicamento é R$ 22. Se levado em conta o protocolo estabelecido pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR), o animal deverá receber sedativos e analgésicos que podem custar R$ 50. Considerando o protocolo recomendado pelo laboratório, o preço fica entre R$ 26 e R$ 29.

O parecer do CRMV-PR observa a necessidade de monitoramento por 15 dias e ainda a aplicação de medicamentos para controlar a dor e a inflamação caso esses sintomas se manifestem após a castração. Isso pode custar, em média, R$ 27. Com base nesses valores, o custo total pode variar entre R$ 48 e R$ 99. "Considerando os honorários médicos, o valor do método pode até ficar mais alto porque os materiais necessários para a castração cirúrgica não custam tanto assim", considera Soraya.

Em Curitiba, nas clínicas veterinárias, uma castração cirúrgica de machos pode variar de R$ 210 a R$ 350, conforme o porte do animal, segundo a tabela definida pela Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-PR). O custo dos exames pré-operatórios foi considerado nos cálculos. (AA)

A castração química em cães machos com o uso do Infertile – único medicamento disponível no Brasil para o procedimento – recebeu parecer favorável do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR). Esse tipo de esterilização passou a ser considerado como alternativa para controlar a reprodução de animais de rua depois que a proposta de criação do Plano Nacional de Controle de Natalidade foi alterada no Senado, em agosto. O procedimento médico, entretanto, gera polêmica.Assinado pelo presidente da comissão de zoonoses e bem-estar animal do CRMV-PR, Leonardo Nápoli, o parecer também estabelece o protocolo médico a ser seguido na castração química. O medicamento só deve ser aplicado depois da administração de analgésico e sedativo para minimizar o estresse no animal e evitar a dor durante e após o procedimento.

O documento recomenda ainda que os sintomas de dor e inflamação devam ser monitorados por um período mínimo de 15 dias após a aplicação do produto, usando as medicações necessárias para controlá-los. A aplicação e o acompanhamento devem ser feitos por veterinários. O parecer ressalta que, a partir do uso do Infertile, não foram obtidas informações conclusivas sobre o comportamento dos cães à agressividade, demarcação e defesa de território e libido. "Aspectos considerados relevantes no manejo de populações dessa espécie", diz o documento.

O conselho recomenda não considerar o método como única alternativa de esterilização animal e reforça que se investiguem os efeitos e as alterações fisiológicas, patológicas e comportamentais do cão castrado quimicamente. Na opinião da comissão do CRMV-PR, deve-se recorrer a uma avaliação criteriosa dos benefícios e custos da castração química, principalmente em relação ao bem-estar dos animais.

Para o autor do projeto no Congresso, deputado federal Affonso Camargo (PSDB-PR), o importante é que os animais não sofram. "Não sou veterinário, sou um protetor dos animais e contei com a ajuda das ONGs para fazer a proposta. O que vale para mim é a opinião delas", afirma. O projeto original estabelecia apenas a castração cirúrgica, vedando qualquer outro procedimento veterinário para fazer o controle de natalidade dos animais. Por causa da alteração sofrida no Senado, que retirou o termo "cirúrgica" do texto, o projeto de lei terá de ser novamente apreciado na Câmara dos Deputados.

A presidente da Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba, Soraya Simon, diz que a mudança foi boa porque no futuro pode surgir uma alternativa à castração cirúrgica. "No momento, somos contra esse único método de castração química", comenta. Segundo ela, o procedimento é mais doloroso e mais caro que o convencional. "É cruel. O animal sofre com o processo de necrose dos testículos", diz.

Segundo o protocolo indicado pelo laboratório Rhobifarma, responsável pelo Infertile, não é necessário sedar o animal para aplicar a injeção de gluconato de zinco nos testículos. Basta administrar um anestésico 30 minutos antes do procedimento. O laboratório informa que testes feitos não identificaram sinais significativos de dor que obrigassem o uso de analgésicos. Em comparação com o grupo castrado cirurgicamente, a manifestação de dor teria sido menor nos cães este­rilizados quimicamente. Outra observação do Rhobifarma é que a agulha usada é ultrafina, o que causa menos dor.

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