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O ‘Run Gum’, do corredor olímpico Nick Symmonds, tem como alvo atletas. | Divulgação
O ‘Run Gum’, do corredor olímpico Nick Symmonds, tem como alvo atletas.| Foto: Divulgação

A maratonista de elite Tina Muir está se esforçando ao máximo em suas preparações para dezembro, quando irá atravessar a linha de chegada da Maratona Internacional da Califórnia, em Sacramento. Será a sua quinta vez. Ela trabalha continuamente para ver com exatidão quais serão as abordagens de treinamento e nutrição que a ajudarão a ganhar minutos preciosos no seu tempo. O último acréscimo ao seu regime? Chiclete cafeinado.

Quem consome grandes quantidades de cafeína desenvolve tolerância à substância

Um estudo recente publicado no Journal of Sports Medicine revelou que pessoas que têm por hábito consumir grandes quantidades de cafeína desenvolvem tolerância à substância. Os pesquisadores arranjaram voluntários que tipicamente ingeriam menos de uma xícara de café por dia e lhes pediram para que tomassem um suplemento com o equivalente a três miligramas por quilo por dia ao longo de 28 dias, a fim de testar suas reações à suplementação com cafeína antes de atividades físicas. Eles concluíram que os atletas acabavam desenvolvendo tolerância à cafeína e, portanto, não se beneficiavam do suplemento antes das atividades.

O principal pesquisador, Ross Beaumont, apontou, no entanto, que atletas habituados ao consumo de altas doses de cafeína ainda podem se beneficiar da ingestão de cafeína antes de atividades atléticas se antes disso passarem vários dias sem a substância. “É possível que vários dias de abstinência à cafeína possam ressensibilizar o indivíduo, de modo que ele possa obter seus benefícios ao desempenho”, diz. “Porém, pode ser que você chegue ao dia da corrida com sintomas severos de abstinência, e ainda assim obtenha um desempenho abaixo da média.”

Mas Beaumont afirma que quem está na faixa de uma a duas xícaras por dia não deverá ter problemas em conseguir um aumento no desempenho com a suplementação. Paton afirma que é essencial manter em mente que o impacto da cafeína é altamente individualizado. “Poucas pessoas terão uma experiência negativa com ela, mas é importante testá-la no treinamento para ver o quanto você precisa para obter um efeito positivo”, diz.

Uma das novidades no mercado próspero que é a nutrição esportiva – que deverá chegar aos US$52 bilhões por volta de 2020, segundo a Pesquisa de Transparência de Mercado –, o chiclete cafeinado promete dar um pico de energia com mais rapidez do que outros ergogênicos, porque não precisa passar pelo sistema digestivo primeiro. Muir já se converteu. “Eu experimentei já o gel cafeinado e gostei, mas demorava um pouco para dar efeito”, ela diz. “É duro precisar esperar 10 minutos para ele agir quando você já está cansada e precisa de energia nas últimas milhas da corrida”.

O chiclete, diz ela, age no seu sistema na hora. “Eu masquei o chiclete na 14.ª milha de uma corrida de progressão de 20 milhas, em que eu precisava continuamente apertar o passo”, explica. “Eu percebi uma diferença imediata e significativa com o chiclete. O que eu senti em particular foi uma clareza na minha cabeça e aí superei qualquer dúvida que eu poderia ter naquela altura da corrida”.

Muir está sentindo os efeitos exatos daquilo que o chiclete foi criado para fazer, segundo Kristina LaRue, nutricionista registrada de Orlando especializada em nutrição esportiva. “A cafeína já foi muito bem estudada em suas capacidades de melhorar o desempenho”, diz ela. “Ela permite vencer o cansaço e ajuda muito com o foco e a clareza”.

Até 2004, a World Anti Doping Agency impunha limites no consumo de cafeína, mas é uma substância tão onipresente que a agência acabou cancelando esse limite. Ela ainda permanece proibida, porém, a nível da Associação Atlética Universitária Nacional (NCAA, na sigla em inglês).

Carl Patton, professor associado do Eastern Institute of Technology, conduziu três estudos sobre chiclete cafeinado e o seu impacto no desempenho em esportes de resistência. “Você obtém efeitos semelhantes aos do gel e dos tabletes, mas a cafeína é absorvida mais rapidamente e você não precisa de uma dosagem tão alta”, diz.

Ele confirma também o sentimento de clareza mental que Muir teve. “A cafeína tem o benefício de reduzir a percepção da fadiga, de modo que você pode correr mais com ela no sistema.”

Num estudo de 2014 sobre o impacto do chiclete no desempenho de corrida de ciclistas homens e mulheres, Paton descobriu que os maiores ganhos vinham nos 10 quilômetros finais de uma corrida de 30km. “O chiclete melhorou tanto a capacidade de resistência e de corrida no final, provavelmente por conta de um aumento da ativação do sistema nervoso.”

Um estudo separado conduzido em 2010 com ciclistas homens também descobriu que o chiclete cafeinado retardava os efeitos da fadiga em exercícios de sprint de alta intensidade. Nesse estudo, os pesquisadores mediram as concentrações de testosterona e cortisol e determinaram que o chiclete elevava a testosterona e diminuía o cortisol. Sabe-se comprovadamente que níveis mais altos de testosterona melhoram o desempenho, enquanto o cortisol é um hormônio ligado ao estresse que o prejudica.

É por causa de todos esses motivos que o corredor olímpico Nick Symmonds desenvolveu um chiclete cafeinado que tem como público-alvo os atletas de esportes de resistência. Ele compara o seu “Run Gum” a energéticos como Red Bull, mas sem os potenciais problemas digestivos que às vezes acompanham o consumo desses produtos. “Você quer melhorar o seu desempenho, não quer ficar de estômago cheio”, diz ele. “O chiclete é um veículo muito melhor”.

O corredor Matt Ingram, de 52 anos, da cidade de Plano, Texas, assim como Muir, também se converteu recentemente ao chiclete. “Eu nunca fui muito de suplementos”, diz ele, “mas o chiclete consegue facilitar um pouco esse primeiro passo para mim”. Ingram compete nas corridas master de 400 e 800 metros, ocasionalmente arriscando a de 5 km fora de temporada. “Eu uso o chiclete tanto na hora de treinar quanto na corrida em si.”

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